Do Diário do Transporte
Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil – Ilustração/Fotos Públicas
Em dois meses e dez dias de restrições à movimentação por causa da pandemia da Covid-19, as empresas de ônibus do Estado do Rio de Janeiro perderam receitas na ordem de R$ 843 milhões e aproximadamente 213 milhões de passageiros.
E agora, com o retorno gradual das atividades econômicas previsto para a próxima semana no Estado, o temor é a capacidade financeira para ampliar as operações.
De acordo com o presidente da Fetranspor – Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro, Armando Guerra, em entrevista ao Diário do Transporte na tarde desta terça-feira, 27 de maio de 2020, o grande problema para o retorno tem sido o capital de giro.
“A gente não consegue saber quais as empresas vão conseguir fazer essa retomada de operação. Nós vamos ter problemas de capital de giro, porque o prejuízo sofrido nestes dois meses e dez dias sob a pandemia nos trouxe uma perda de receitas de R$ 843 milhões” – disse ao explicar que o principal entrave vai ser a exigência por parte de fornecedores de insumos básicos para operação para que as compras sejam à vista.
“A grande maioria das empresas está operando com capacidade baixíssima. Pararam de pagar os seus fornecedores, de combustível, peças e pneus. As dívidas estão paradas. Quando retomar, os fornecedores vão exigir o pagamento antecipado. Como as empresas não estão faturando, alguém vai ter de dar esse dinheiro inicial para comprar óleo, pagar peças, manutenção, a higienização e limpeza. Essa retomada da roda é que vai ser perigoso” – explicou.
Outra preocupação das empresas sobre o retorno é com o nível de ocupação máxima permitida nos ônibus para evitar aglomeração de pessoas e ampliar o risco de contágio pelo novo coronavírus.
Nesta quarta-feira (27), as empresas devem se reunir com o Governo do Estado para decidir o assunto. Segundo Guerra, se for autorizada uma lotação de até 75% da capacidade de cada veículo, as operações serão viáveis.
“Se o Governo obrigar a trabalhar com 50% de ocupação, apenas com passageiros sentados, nós podemos ter uma operação deficitária” – disse
O representante das companhas de ônibus diz que o setor de transportes tem encontrado dificuldades para obter financiamentos , observando uma espécie de empurra-empurra.
“Corremos para o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] que mandou para o banco privado, o banco privado mandou para o BNDES e acabou não saindo nada. Fomos também ao Ministério da Economia em busca de recursos orçamentários, mas o ministério entende que os recursos estão incluídos nos R$ 60 bilhões para Estados e municípios e R$ 70 bilhões de postergações de suas dívidas. Mas no caso do Rio de Janeiro nós temos um problema, o Estado do Rio não estava pagando os empréstimos nos últimos dois anos e meio. Então o Rio só ficou enquadrado nos R$ 60 bi e o Ministério estima que destes R$ 60 bi, apenas de R$ 2,1 bi a R$ 2,4 bi fiquem para o Rio, esses recursos são insuficientes para pagar os salários do funcionalismo”, explicou.
Uma das soluções pode vir do Congresso Nacional que analisa um projeto de lei para todo o País pelo qual o Governo Federal compraria crédito de transportes e distribuiria para beneficiários de programas sociais.
Como mostrou o Diário do Transporte, a ideia faz parte do “Projeto Emergencial Transporte Social”. Cada crédito eletrônico de passagem corresponde a uma tarifa pública vigente no sistema de transporte público coletivo por ônibus de cada cidade, região metropolitana ou aglomeração urbana. O Governo Federal destinaria os créditos de viagem do programa “preferencialmente aos beneficiários dos programas sociais do Governo federal existentes ou que sejam criados durante o estado de calamidade pública do Covid-19”.
Armando Guerra ressaltou que o setor de transportes no Estado do Rio de Janeiro já enfrentava dificuldades antes da pandemia. Apenas na capital, nos últimos três anos, foram 14 empresas fecharam e agora, com a crise da Covid-19, o setor pode entrar em colapso e não está descartado o risco de encerramento de atividades de mais companhias de ônibus.
Atualmente existem várias empresas em recuperação judicial, como a Expresso Pégaso, Auto Viação Palmares, a Paranapuan Transportes, e o grupo da Real Auto Ônibus (que encerrou suas atividades na Grande São Paulo)
Segundo a Fetranspor, com base nos dados da bilhetagem da RioCard, a perda de demanda dos transportes nestes dois meses e dez dias de pandemia varia de acordo com o meio de transporte
– Ônibus: – 67%
– Metrô: – 79%
– Trens: – 59%
– Vans: – 46%
– VLT: – 90%
– Barcas: – 67%
– Kombi: – 42%
No caso dos ônibus no Estado, o destaque foi para os intermunicipais devido às medidas de restrição dos transportes entre as cidades, com queda de 75% da demanda.
Guerra ainda destacou que muitas destas proibições estão abrindo margem para o transporte clandestino.
Nesta terça-feira, por exemplo, o Sintronac – Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Passageiros de Niterói a Arraial do Cabo informou que apenas na região cerca de dois mil rodoviários perderam os empregos.