UNIBUS Entrevista – “Os empregados estão apavorados porque podem perder seus empregos, assim como os empresários estão apavorados porque podem perder suas empresas”

Por UNIBUS RN
Fotos: Ilustração/Divulgação CNT

Quem é? Eudo Laranjeiras Costa, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste – FETRONOR

FETRONOR é a entidade representativa da classe empresarial do transporte de passageiros por ônibus para os estados de Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A Federação foi fundada em 12 de abril de 1974 e congrega 8 sindicatos de empresas de transporte urbanas, metropolitanas de rodoviárias e mais de 100 empresas.

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UNIBUS RN: Qual a avaliação da FETRONOR em relação à pandemia do COVID-19? O impacto foi mais negativo do que o esperado?
Eudo Laranjeiras: Muito rapidamente, se perdeu entre 70 a 80% da demanda, dependendo da localidade. Em Natal, foi nessa faixa de 70%. E foi muito negativo porque foi muito rápido. As empresas não estavam preparadas para isso, não só pela redução de demanda drástica, mas por ser um serviço essencial, é preciso estar com a frota maior que a demanda. Então estão rodando 50, 60% da frota, com 20, 30% de demanda. Por ser um serviço essencial, ficamos sem muito para onde correr: Temos que rodar e pronto, e aí a coisa fica difícil.

UNIBUS: Há alguma perspectiva de redução definitiva de operações pelas empresas? Há risco para o emprego dos rodoviários?
Eudo: Na realidade, houve demissões antes de sair a Medida Provisória (MP 936/2020), mas se a situação for demorar mais de um mês, dificilmente não terá novas demissões. Provavelmente terá. E qual o risco do colapso? Nós temos a seguinte situação: 70% dos custos das empresas estão entre óleo diesel e despesa de pessoal, e as empresas não funcionam se isso não for pago. Então nós estamos com dificuldades. No domingo passado (dia 12 de abril) a empresa Trampolim da Vitória operou, e o apurado não pagou nem o óleo diesel. Se eu não consigo pagar o óleo, que são 30% (dos custos), quem dirá (que se vai conseguir) pagar o pessoal, que são 40% (dos custos). Então, pode ter colapso. Mas estamos lutando. Conseguimos com o Sindicato dos Motoristas (SINTRO/RN) uma negociação, estamos pedindo ajuda ao governo com redução de ICMS, e ele tá sinalizando que pode acontecer. Pode existir colapso? Pode. Nos (próximos) 30 dias acho que não. Estamos trabalhando para que não ocorra isso. Mas não está fácil não, pois é muito difícil manter um negócio onde a gente não consegue pagar os dois principais custos.

UNIBUS: A FETRONOR estima algum prazo para que o sistema de transporte volte à normalidade?
Eudo: Estamos conversando com o Governo, bancos, secretarias, hospitais… Eu acho que as coisas nos próximos 30 dias vão ser muito difíceis. O momento é muito forte. Mas esperamos que a curva (dos infectados pelo novo coronavirus) se estabilize para que a gente possa pensar em retomada. Essa tem sido a grande dificuldade do empresariado em geral: A gente não tem como fazer um planejamento. Eu não posso fazer um planejamento para uma semana, para 30 dias, para 60 dias, porque a gente não sabe o que vai acontecer. Isso é um momento de não se desesperar, é momento de se ficar bastante concentrado em redução de custos e ver o que podemos fazer, o que podemos melhorar, e não deixar de atender o usuário, pois transportamos pessoas que vão para o supermercado, etc, e é um serviço essencial. Então, nos próximos dias, eu vejo o setor mesmo capenga ainda ir funcionando.

UNIBUS: Você citou que têm ocorrido conversas com o governo… Como o poder público pode auxiliar? Como está o trâmite no atual momento?
Eudo: A gente tem conversado francamente, abertamente, e o Governo tem tentado ajudar. A gente sabe que a situação do Estado é muito difícil, não tenho a menor dúvida. Se já era difícil, agora piorou, com a queda de ICMS de indústria, comércio, etc. Mas o diálogo está bom, e acho que o Estado está tentando. Os bancos é que são mais difíceis, mas a gente toda semana se reúne, e já melhorou bastante em termo de abertura de crédito para o pequeno. Na prefeitura do Natal, estamos encontrando muita resistência. Acho que o Prefeito Álvaro deveria ser mais flexível, porque, na realidade, a gente sabe a situação do município, mas ele também sabe as dificuldades das empresas. Tem lugares ai que estão subsidiando, ajudando a pagar a folha, fazendo a compra de passagem, suspendendo passagem gratuita de idosos, passagem de estudantes… Estudante é para estar em casa, porque está proibido ter aula. O idoso tem que estar em casa porque é grupo de risco. Mas mesmo assim, estamos transportando 13% estudante e 11% de idoso, e isso está atrapalhando, porque o ônibus não pode levar ninguém em pé, ai quando o ônibus passa, tem um trabalhador que tem que ir, mas o carro já está com 13% de estudante e 11% idoso, e isso está afetando as pessoas que vão trabalhar, que vão fazer a economia girar. Vários municípios, o mais recente agora foi Belo Horizonte, já suspenderam temporariamente esse tipo de gratuidade e de benefícios.

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UNIBUS: E para o futuro? O que a pandemia deixará de lições para o sistema de transporte de passageiros?
Eudo: As pessoas estão arrumando outros meios de se comunicar, as instituições estão ficando mais ágeis, precisando de menos deslocamentos. Tudo isso é uma tendência mundial. E acho que essa pandemia igualou todo mundo: Se isso é novo para você, é novo para mim também. Até nisso nós ficamos iguais. Nós não sabemos o rumo certo, mas a experiência faz com que tenhamos mais cautela, discernimento em alguns momentos, mas mesmo assim estamos todos perdidos. Eu sei que os empregados estão apavorados porque podem perder seus empregos, assim como os empresários estão apavorados porque podem perder suas empresas… E o mundo é muito ingrato com empresário neste aspecto: se eu ‘quebrar’, eu sou incompetente, porque ‘quebrei’. A gente tem toda responsabilidade de gerar recursos para o estado, pagando impostos, gerando empregos, temos essas responsabilidades, então a gente está em um momento difícil. Não sabemos do futuro, mas acreditamos que nos próximos 30 dias que a gente comece a vislumbrar. Mas defendemos que economia volte a girar. Eu sei que são vidas, logicamente ninguém vai brigar com isso, ninguém tá brincando com isso, mas também se você não tiver cuidado, veja que já ontem tínhamos quase 600 mil micro empresas que fecharam neste primeiro mês da pandemia. Todas essas pessoas vão fazer o que? A pequena e a média empresa é quem mais gera emprego, então isso tá indo ‘para o espaço’ rapidamente, porque o pequeno não é lento, se ele passar uma ou duas semanas sem faturar, ele vai ‘para o espaço’… Mas a gente espera que façamos uma corrente para superar logo e isso e possamos fazer a economia voltar, e eu espero que ela volte mais pujante, onde, certamente, as pessoas vão errar menos.

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