Motorista de ônibus tem alto risco de contaminação pelo COVID-19, diz pesquisa

Por UNIBUS RN
Foto: Andreivny Ferreira (UNIBUS RN)

O Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), divulgou pesquisa nesta semana em que mapeou o risco de contaminação pelo COVID-19, novo tipo de Coronavírus em circulação no Brasil, em diversas áreas de atuação profissional. De acordo com o levantamento, quem trabalha como motorista ou cobrador de ônibus possui alto risco de contágio pela doença.

A pesquisa, publicada pelo site do Instituto, mapeou mais de 2,5 mil tipos de ocupação profissional, abrangendo as atividades praticadas por esses trabalhadores em todo o Brasil. De acordo com a Agência Brasil, que também divulgou os resultados, os pesquisadores usaram uma metodologia empregada pelo jornal The New York Times, dos Estados Unidos, onde são utilizados dados públicos relacionados a trabalho e renda, como a Classificação Brasileira de Ocupações, divulgada pelo Ministério do Trabalho, e os dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) – submetida obrigatoriamente por todas as empresas brasileiras ao Ministério da Economia –, avaliando o contexto de trabalho de cada tipo de ocupação relacionada às consequências da pandemia do Coronavírus no Brasil.

De acordo com os resultados publicados, foram identificados cerca de 350 mil trabalhadores rodoviários, como motoristas e cobradores. Os pesquisadores concluíram que esses profissionais possuem 70% de risco de contraírem o COVID-19, já que exercem atividade considerada essencial pela legislação vigente.

Até o momento, o SINTRO – RN, Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários do Rio Grande do Norte, não registrou casos da doença entre motoristas e cobradores de ônibus. Mesmo assim, os cuidados estão sendo redobrados e fiscalizados pelo sindicato. “O Sintro exigiu das empresas máscaras e álcool em gel para os rodoviários, mesmo com a dificuldade de encontrar esses itens no comércio. Também estamos fiscalizando os ônibus que estão acima da lotação, para que não a ultrapasse”, diz Rubens Pereira, diretor de imprensa do SINTRO – RN, em entrevista ao UNIBUS RN.

Em Natal, a Prefeitura e o SETURN, sindicato que representa as empresas de ônibus, tomaram medidas para evitar a proliferação do coronavírus no transporte público: Por parte da prefeitura, há a higienização diária de pontos de ônibus por toda a cidade. Já por parte das empresas, há reforço na limpeza dos ônibus nos terminais e garagens entre as viagens. Em conjunto, poder público e empresários organizaram tabela de linhas circulando entre 5h e 20h, diariamente, bem como estabeleceram uma frota de 30% circulando, com a previsão de que os ônibus só circulem com passageiros sentados.

Entretanto, segundo o sindicato que representa os motoristas e cobradores, a tabela atual de horários e o número de ônibus rodando podem não ser suficientes no combate à doença. “A medida de redução da frota para 30% precisa ser revista. A frota precisa aumentar, pois tem os horários de pico em que se precisa aumentar [o número de ônibus]. O sistema de prevenção também precisa melhorar, obrigando as empresas a prevenir-se do COVID-19.”, ressalta o diretor de imprensa do SINTRO – RN.

No Rio Grande do Norte, até o fechamento desta matéria, a Secretaria Estadual de Saúde contabilizou 376 casos confirmados do COVID-19. 18 pessoas que faleceram testaram positivo para a doença.

Outras profissões: Dentre outras atividades profissionais identificadas na pesquisa, 2,6 milhões de trabalhadores da área da saúde apresentam risco de contágio equivalente a 50% ou mais – o destaque, segundo os pesquisadores, são os técnicos em saúde bucal, onde 12,5 mil profissionais identificados possuem 100% de chance de contraírem a doença.

A pesquisa também destaca com alto índice de contágio os profissionais do comércio, como vendedores e operadores de caixa, com 53% de risco de contágio. Também foi identificado alto risco de contágio por professores (Risco acima de 70%) – com a suspensão das aulas em todo o Brasil, esse índice é reduzido, segundo os resultados apurados.

De acordo com Yuri Lima, pesquisador que participou do estudo, os resultados apresentados podem ajudar os setores público e privado a formularem ações de proteção aos trabalhadores com maior risco de contágio, bem como ajudam a preparar o terreno para planos de redução do desemprego e da crise econômica que a doença irá deixar. “Do ponto de vista do governo, pode-se identificar quem são essas pessoas que estão ficando desempregadas, pode-se olhar para essa questão do risco de contágio. Pode-se pensar em como manter pessoas trabalhando em ocupações que não vão ser afetadas, ou que têm menos risco de contágio. Depois que passar esse momento de distanciamento social, fazer o possível para a gente ter uma boa transição, uma transição segura para um estágio mais intermediário”, ressalta Yuri, em entrevista à Agência Brasil.

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