Do Mobilize Brasil
Foto: Cesar Brustolin/SMCS – Ilustração
“Os ônibus elétricos estão chegando e podem tornar as nossas cidades mais sustentáveis”, afirma texto divulgado pelo ITDP
Carros e motos são os principais emissores de poluentes nas cidades. No entanto, os ônibus também têm uma participação significativa nas emissões de gases de efeito estufa e no aumento das doenças relacionadas à poluição do ar. Assim, a adoção de novas tecnologias, como os ônibus elétricos e o uso de combustíveis alternativos, é essencial para reduzir os seus impactos à saúde pública e ao meio ambiente.
De acordo com a Mobilidados, plataforma de indicadores de mobilidade urbana do ITDP Brasil, o transporte coletivo é responsável por 40% das viagens realizadas nas regiões metropolitanas brasileiras, e o ônibus é o modo de transporte mais utilizado pela população. O uso de motores movidos a combustíveis fósseis nas frotas de ônibus é a principal razão para o aumento de doenças relacionadas à poluição do ar, pois em vista do tamanho das partículas emitidas durante a combustão, são mais perigosas do que as emitidas pelos veículos individuais motorizados. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a poluição atmosférica foi a principal causa de óbitos no país em 2016.
O impacto negativo da poluição do ar é ainda mais delicado para crianças de até 3 anos, que inspiram uma quantidade maior de partículas nocivas à saúde pois possuem uma frequência respiratória superior se compararmos com a dos adultos. No caso de idosos, que têm sistema imunológico mais debilitado, os mecanismos de defesa corporais são mais frágeis e podem se sobrecarregar quando os sintomas se agravam, podendo ocasionar mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares. O fator socioeconômico também torna pessoas de mais baixa renda mais suscetíveis aos poluentes devido à dificuldade de acesso ao atendimento médico e aos maiores níveis de exposição a poluentes locais.
Nas grandes cidades, este cenário é evidente. Além da exposição ao ar poluído, a população já sente os efeitos do aumento contínuo da temperatura, chuvas intensas e desastres naturais por conta das mudanças climáticas, evidenciando que medidas para mitigação das emissões de gases de efeito estufa e de poluentes locais precisam ser adotadas de forma emergencial, a exemplo da utilização de novas tecnologias e combustíveis alternativos.
Resultado na China
A cidade de Shenzhen, na China, foi pioneira na transição para uma frota de ônibus inteiramente elétrica e já colhe diversos benefícios. Apesar de possuir uma matriz energética majoritariamente baseada no carvão, a mudança, que começou em 2009, reduziu as emissões de CO2 anuais dos ônibus em 48% e o consumo de energia em média por veículo foi 73% menor do que em 2016, quando a frota era majoritariamente de ônibus a diesel.
No Brasil, esses benefícios poderiam ser ainda maiores considerando que 65% da energia elétrica do país é gerada por usinas hidrelétricas. Como não emitem gases nocivos à saúde ou ao meio ambiente na produção de sua fonte de energia e em sua operação diária, os ônibus elétricos brasileiros possuem um ciclo de vida sustentável, com alto potencial para contribuir para a redução das emissões locais e atmosféricas.
A discussão sobre o tema vem crescendo no país e diversas cidades têm realizado testes com ônibus elétricos, como São Paulo, Campinas, Curitiba, Salvador e Brasília. No entanto, poucas cidades brasileiras avançaram na elaboração de planos que tratam da transição para frotas mais limpas em escala, com exceção da capital paulista. Desde a adoção da Lei do Clima em 2018, o processo de concessão para a operação da frota de ônibus na cidade de São Paulo estabeleceu uma série de metas para reduzir aos poucos as emissões de dióxido de carbono (CO2), de material particulado (MP) e de óxido de nitrogênio (NOx) ao longo dos anos, com foco na redução total até 2038.
Os ônibus elétricos tornam as viagens dos usuários mais confortáveis e seguras, pois são mais silenciosos, estáveis e com melhor desempenho térmico para passageiros e condutores. Além disso, estudos mostram que eles têm custos menores de operação e manutenção para os operadores.
A eletrificação das frotas de ônibus é uma oportunidade para repensar e aprimorar a rede de transporte público como um todo. A partir dela, abrem-se caminhos para integrarmos os modos de transporte público e ativo, dando prioridade aos ônibus nas ruas, garantindo maior velocidade e confiabilidade ao sistema. A qualidade de vida dos usuários e da população podem ser aprimoradas para além do questão climática e da poluição do ar, trazendo outros benefícios para aqueles que se deslocam diariamente nas cidades.