Razões socioeconômicas, mudanças no comportamento do consumidor e a ampliação dos serviços de mobilidade urbana fizeram com que mais de 851 mil passageiros pagantes deixassem o ônibus do transporte coletivo nos últimos cinco anos, em Fortaleza. Uma redução de 28,70%, entre 2015 e 2019. O número de usuários passou de 2,9 milhões para 2,01 milhões, segundo o Sindicato de Empresas de Ônibus (Sindiônibus).
Foto: Ramon Barbosa do Nascimento/Ônibus Brasil – Ilustração |
Em um ano, o recuo foi de 10,9%. As principais quedas foram observadas em 2019 (10,90%) e 2017 (8,80%). A tarifa do coletivo não terá reajuste esse ano. O setor chegou a solicitar aumento, mas não foi acatado pela Prefeitura. O valor ficou mantido em R$ 3,60 a inteira e R$ 1,60 a meia passagem estudantil. Mas, mesmo sem acréscimo, o preço ainda pesa no orçamento das famílias. Para a população mais pobre, a modalidade é a mais acessível financeiramente. Já os que têm mais poder aquisitivo, começaram a aderir ao uso dos transportes por aplicativos.
Segundo Pessoa Neto, superintendente técnico do Sindiônibus, há a necessidade de políticas públicas para conseguir reduzir o preço da passagem. Ele também aponta que outros fatores influenciaram o modificação do cenário. “Houve uma mudança de hábitos. Agora, as pessoas utilizam o celular para fazer serviços bancários, entre outros, diminuindo os deslocamentos”, avalia.
Para o professor Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo, os números refletem, sobretudo, a diminuição da renda das pessoas. “Está claro que a economia é o principal fator. As pessoas não têm emprego, como elas vão andar de ônibus?”, indaga.
Ele pondera a necessidade de incentivar o uso desse modal para diminuir a poluição provocada pelo excesso de carros e, também, devido à falta de infraestrutura viária para atender à demanda de muitos veículos.
O economista da Universidade Federal do Ceará (UFC), Érico Veras Marques, complementa que a redução começou a se desenhar na crise de 2014 e 2015. No cenário atual, com tarifas altas e muitos desempregados, a situação se agravou.
Outro ponto é a expansão das estruturas de mobilidades da Capital, como ciclovias, além dos transportes por aplicativos. “O ônibus passou a pesar na renda das pessoas. Com os app, o próprio Sindiônibus criou um Top Bus (Ônibus via app) para ter mais flexibilidade e conseguir competir”, exemplifica reação do mercado. Érico aponta que a mobilidade precisa ser cada vez mais repensada e criar canais de integração.
O Tup bus custa 3,50, correspondendo a viagens de até um quilômetro. Para percursos mais longos, há um acréscimo proporcional de R$ 1,50 para cada quilômetro adicional. Implantado em dezembro último, 24, 7 mil passageiros já utilizaram o serviço.
Foto: Divulgação/Arquivo |
Esse ano, os transportes por app passaram a compor o índice de inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O que demonstra que esse componente tem peso no orçamento dos brasileiros. O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, explica que algumas adequações na rotina podem ajudar a aliviar o custo desses serviços. Dentre elas, recorrer ao trem, bicicleta e caminhadas. Outra alternativa seria rodízio de caronas, por exemplo, para os deslocamentos diários para o trabalho.
Cresce o número de passageiros de trem na Capital
O número de passageiros do transporte sobre trilhos mais que dobrou nos últimos quatro anos no Ceará. Em 2014, havia uma média de 6,8, que saltou para 16,7 em 2019. Alta de 144%. De 2017 para 2018, foi a maior oscilação, totalizando 42,40%. A ampliação da linha férrea nos últimos anos e os preços mais acessíveis para alguns trechos refletiram no aumento. Os dados são da Cia Cearense de Transportes Metropolitanos. O professor Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo, pondera que o aumento não pode ser associado à queda do fluxo nos ônibus do transporte coletivo, que atende à maioria da demanda.
A alternativa, no entanto, é mais acessível para o consumidor. A Linha Oeste, por exemplo, custa R$ 1 (inteira) e R$ 0,50 (meia entrada). A linha do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) Parangaba-Mucuripe está operando gratuitamente. Já a Sul, tem o preço igual ao ônibus da Capital, de R$ 3,60 (inteira). Porém, a meia é mais cara, custando R$ 1,80. O valor é o mesmo para o VLT de Sobral e do Cariri.
No Ceará, o transporte de passageiros em metrô e VLTs cresceu 26% ao longo de 2019. Todas as linhas tiveram crescimento de demanda em 2019, com destaque para o VLT Parangaba-Mucuripe, que, de janeiro a dezembro, registrou crescimento de 281% no número de passageiros, alcançando 2,2 milhões de usuários.
O Povo – CE