“A gente quase morre aqui todos os dias”. A fala é de Laís Soares, 21 anos, que trabalha na empresa de telemarketing localizada próximo à passarela inacabada do bairro de Emaús, em Parnamirim. Sem previsão de entrega, a passarela que deveria estar pronta no final de novembro, aguarda impasses com a Cosern para a mudança da fiação e a continuidade da obra. Enquanto isso não acontece, centenas de pessoas arriscam a vida todos os dias.
Foto: Adriano Abreu/Tribuna do Norte |
Em todo o mundo, os pedestres e ciclistas respondem por 26% das mortes em ruas e rodovias, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde. No Brasil, segundo o mesmo relatório, os índices também são alarmantes: pedestres totalizam 25,4% das vítimas fatais em diversos tipos deacidentes. Somente no Rio Grande do Norte, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, em 2017 foram 89 casos, com 100 feridos; e 23 mortes. Em 2018: 86 casos, 91 feridos; e 12 mortes e este ano, 2019, até o dia 5 de dezembro, foram 84 casos; 112 feridos; e 12 mortes. Se por um lado, os pedestres têm responsabilidade de andar na faixa de pedestre e cumprir com seu lugar no trânsito, por outro, existe a responsabilidade do Estado e das cidades oferecerem aparelhos de segurança para os pedestres, como faixas sinalizadas, passarelas acessíveis, tuneis, entre outros. É uma via de mão dupla.
Risco
Basta ficar uma tarde para perceber a dificuldade que existe na travessia. Laís conta que o enfrentamento do medo fica mais leve quando juntam vários colegas do trabalho. “Chamamos de amigos da fronteira”, diz Laís em coro com outros colegas de trabalho.
Um deles é Jhony Karlos, 23 anos que conta sobre não ter opção de travessia para quem mora ou precisa ir para Natal. “A gente corre perigo, temos ciência disso e temos que ir”. A faixa de pedestre mais próxima fica a quase dois quilômetros distante e com vários relatos de assalto por ser um lugar escondido no retorno para Natal debaixo do viaduto. “É muito complicado porque é uma escolha difícil ou corremos risco de assalto, porque muitos colegas já foram assaltados ou corremos risco de atropelamento. É uma escolha injusta e cruel”, disse Jhony.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE contou o tempo que eles levaram para chegar ao outro lado. Foram oito minutos para atravessar três vias expressas com veículos como caminhões, carros e motos em alta velocidade.
Fátima Araújo que trabalha em uma lanchonete dentro do supermercado em frente à passarela, já chegou a sentir pânico quando terminava o seu serviço e lembrava que tinha que atravessar todas as vias até a parada de ônibus. “Eu já cheguei a levar meia hora para atravessar. Comecei a passar mal todos os dias, suar frio, lembrar das minhas filhas, da família, aquilo virou um terror para mim”, lembra. Ela mudou o horário e hoje volta para a casa de carona com o patrão, pois não conseguiu mais vivenciar o drama que é conseguir chegar até a parada de ônibus. “Já vi de tudo ali, gente caindo, gente se machucando, de tudo. Me tremo só de lembrar”.
Resolução
Com a resolução 706 do Conatran de 2017 correndo próximo de ser aplicada nas ruas, os pedestres e ciclistas deverão sofrer multas se não obedecerem, por exemplo, o limite dos 50 metros antes ou depois das faixas de pedestres. Outras aplicações da multa seria circular em local não permitido, utilizar a bicicleta na contramão da via e atravessar fora da faixa seriam algumas das infrações multadas em até R$ 44,19 para pedestres e R$ 130,16 para ciclistas.
De acordo com Inspetor Roberto Cabral, uma cena muito comum, em nossas rodovias e avenidas, são pedestres se arriscando em meio ao vai e vem de veículos. “A atitude, arriscada, expõe a própria vida e também do motorista”, alerta Cabral.
Em relação ao trecho em que passam diariamente Laís, Jhony e Fátima a situação não caberia na resolução. “Naquela área, tivemos um atropelamento em 2018 e outro em 2019 com vítimas de acidentes graves. Com relação à passarela, a dificuldade era colocação das rampas e a pendência é a relocação de fios que a Cosern deverá fazer readequação. E o que o DNIT me passou é que o próprio supermercado próximo à passarela, está colocando dificuldades porque as rampas ficarão próximas à calçada deles”, disse o Inspetor.
De acordo com Cabral, mesmo com a passarela inacabada, tiveram outros aparelhos de segurança que foram instalados e contribuíram para que os dados de acidentes não fossem elevados. “Tiveram algumas obras importantes como viadutos entre Natal e Parnamirim, sinalização de cruzamentos, grades de segurança, faixas de pedestres e isso termina evitando maior número de atropelamento”, conta.
Atualmente, além da passarela de Emaús, existe uma carência na BR 101 Norte.
Justificativa
Sobre o atraso na conclusão da Passarela de Emaús, o DNIT informou que houve a necessidade da elaboração de um projeto de passagem subterrânea da fiação da Cosern, que foi submetido à análise e aprovação da concessionária. De acordo com o Departamento, o material necessário, que é especial e só produzido sob encomenda, deve estar disponível até o final do ano. “Tão logo o material seja entregue a empresa executora renunciará os serviços.” cita em nota.
A Cosern informa que a obra do Dnit na passarela de Emaús, com a rede elétrica localizada do lado esquerdo da BR-101 (sentido Natal-Parnamirim) já foi deslocada pela empresa, não sendo mais impedimento para a finalização da obra desse trecho da passarela. Quanto à rede elétrica do lado oposto (sentido Parnamirim-Natal), foi elaborado um projeto para modificação pela Cosern, em parceria com o DNIT, e está sendo executada por empresa contratada por aquele órgão.
Tribuna do Norte