Bosch e Mercedes-Benz, empresas que mantém relação histórica de mais de 130 anos como fornecedor e fabricante de veículos, anunciaram que vão investir R$ 70 milhões em consórcio para construir um completo campo de provas conjunto em Iracemápolis (SP). Será no mesmo terreno onde a Mercedes já investiu R$ 90 milhões e inaugurou em 2018 instalações para desenvolvimento de caminhões e ônibus – no local também funciona desde 2016 a linha de montagem de automóveis da marca. A construção das novas pistas começa em 2020 e a inauguração e o início das atividades será em 2021. Os sócios firmaram um contrato para repartir custos e ganhos do empreendimento pelos próximos 20 anos.
Schiemer, da Mercedes-Benz, Botelho, da Bosch, e o projeto novo campo de provas que as duas empresas vão construir em Iracemápolis (SP). Foto: Divulgação/Automotive Business |
O Centro de Testes Veiculares de Iracemápolis será um dos maiores do gênero no Hemisfério Sul, com 1,3 milhão de metros quadrados de área construída para abrigar cinco novas pistas, que poderão ser utilizadas não só pelos dois donos do consórcio, mas também por qualquer fabricante de veículos e autopeças que queira alugar as facilidades, muitas delas inéditas no País, para desenvolver sistemas de segurança, assistência ao condutor, eficiência energética e novas tecnologias que serão exigidas nos próximos anos.
Ambas as empresas reconhecem que as exigências e os incentivos do Rota 2030 estimularam a parceria na construção do novo campo de provas. O programa de regulação da indústria automotiva nacional, em vigor desde o início deste ano, estabelece metas de eficiência energética e de adoção de sistemas de segurança, ao mesmo tempo em que concede benefícios tributários para pesquisa de desenvolvimento. “O programa incentiva a investir nessas instalações no País, assim como o Inovar-Auto (2013-2017) também ajudou – sem isso é provável que jamais saíssem do papel centros como fizemos e vamos fazer em Iracemápolis”, aponta Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil.
DILUIR CUSTOS E ACELERAR PROJETOS
“Cada empresa não consegue fazer sozinha todos os investimentos que serão necessários nos próximos anos, precisamos de parceiros para diluir os custos. Ao mesmo tempo, temos de testar muitas novas tecnologias aqui e o campo vai aumentar nossa velocidade de desenvolvimento local”, afirma Philipp Schiemer.
O executivo destacou que toda a cadeia automotiva do País poderá usar as facilidades de Iracemápolis e “o centro vai oferecer todas as condições de confidencialidade para isso”, com boxes e escritórios separados. O aluguel será administrado por uma empresa neutra.
“Acreditamos que teremos uma grande demanda de uso por várias empresas, mas os ganhos com isso nem fizeram parte do nosso modelo de negócio, o principal motivador foi a necessidade de acelerar o desenvolvimento de tecnologias. Exemplo disso é o novo Actros, com recursos especialmente desenvolvidos para rodar no Brasil: com o nosso campo de provas reduzimos o tempo do projeto e conseguimos lançar o caminhão um ano antes do que seria necessário antes”, explica Schiemer.
“Estamos empenhados em fornecer os sistemas de segurança e eficiência energética que serão exigidos pelos veículos aqui em pouco tempo, para cumprir com exigências do Rota 2030, legislação de emissões ou do Latin NCAP. Para isso teremos um centro de inteligência para toda a indústria no País, que será uma grande contribuição à engenharia brasileira”, afirma Besaliel Botelho, presidente da Bosch América Latina.
As áreas poderão ser usadas por fabricantes de qualquer tipo de veículo, incluindo automóveis, comerciais leves, motos, máquinas agrícolas e, parcialmente, caminhões e ônibus – a área já construída pela Mercedes continuará exclusiva da marca, mas concorrentes poderão usar as novas pistas. Fornecedores também poderão utilizar o campo para desenvolver componentes, inclusive concorrentes da Bosch que produzem sistemas de controle de estabilidade, frenagem automática e assistência à direção, ou não-concorrentes como fabricantes de transmissões e eixos.
Segundo Botelho, o investimento com a Mercedes em Iracemápolis está em linha com a estratégia local for local, de desenvolver sistemas de acordo com as necessidades específicas de cada mercado. O executivo também destaca que o novo centro de testes faz parte dos aportes regulares em pesquisa e desenvolvimento da Bosch, que investe na área 3,5% do faturamento anual no Brasil, o que este ano corresponde a R$ 185 milhões e deverá somar R$ 900 milhões até 2025. A empresa emprega mais de 300 pessoas em sua área de engenharia no País. “Investir em P&D é fundamental em nosso modelo global de negócios”, diz.
“Temos aqui características como condições de estradas ou uso de biocombustíveis que exigem projetos desenvolvidos pela engenharia local”, explica. “Mas claro que com as novas instalações o País vai ganhar capacidade de ser protagonista no desenvolvimento de algumas tecnologias que poderão ser utilizadas em outros países.”
INSTALAÇÕES COMPLETAS
Para construir as novas áreas de Iracemápolis, a Bosch vai empenhar seu conhecimento em projetos similares no mundo. Os mesmos responsáveis pela criação dos campos de provas de Boxberg (Alemanha), Donghai (China), Memambetsu (Japão), Vaitoudden (Suécia) trabalharão em conjunto com as equipes da Mercedes-Benz e Bosch no Brasil durante a concepção de todas as dependências.
O centro agregará mais cinco circuitos de testes com 400 mil metros quadrados, elevando assim para 21 o número de pistas do complexo – que atualmente já opera com 16 pistas numa extensão total de 12 quilômetros, com 14 percursos pavimentados para verificação de durabilidade estrutural (esta parte continuará exclusiva para o desenvolvimento de caminhões e ônibus da marca), além uma rota de terra e uma pista para medições de conforto acústico e térmico, que poderão ser compartilhadas com outros fabricantes.
Entre as novas pistas do complexo, a Área de Dinâmica Veicular (Vehicle Dynamic Area – VDA), com 70 mil metros quadrados de asfalto plano, servirá para a realização de diversas manobras em testes de sistemas como controle eletrônico de estabilidade (ESC) e frenagem automática de emergência (AEB). Também será utilizada para desenvolvimento de veículos híbridos, elétricos e autônomos.
Já a Pista de Medição de Frenagem (Brake Measurement Track – BMT) terá configuração inédita no Brasil. Suas sete faixas paralelas e irrigáveis simulam diversos tipos de pisos e aderências, que poderão ser usadas em manobras de aprimoramento para sistemas de segurança ativa, como o ABS e o ESC. Outra nova área é a Pista de Dirigibilidade Pavimentada (Paved Handling Course – PHC), destinada às manobras de estabilidade e dirigibilidade, que será composta por curvas de diferentes raios e estará disponível para testes de veículos de passeio e comerciais leves.
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