A empresa Buser estará presente dentro dos próximos meses em todas das capitais do Nordeste e, numa segunda etapa, vai atuar em grandes cidades da região que não são capitais, como Feira de Santana.
Além disso, a companhia de tecnologia quer triplicar sua base de empresas de fretamento que fazem o transporte de passageiros das atuais 50 viações para 150 em todo o Brasil.
Para isso, está buscando contatos com mais empresários do setor de fretados, em especial pequenos e médios.
Quanto ao Nordeste, o fundador da Buser, Marcelo Abritta, disse em entrevista ao Diário do Transporte que já há atuação a partir de cidades como Salvador e Recife e que já começou “a estabelecer parcerias com operadores de fretamento da região”.
A Buser se tornou conhecida de duas formas: uma por trazer uma forma de escolha de viagem de ônibus até então pouco difundida no Brasil, com reservas de assentos e pagamento por aplicativo, tendo algumas semelhanças com a Uber, dos carros das cidades. Mas a Buser também coleciona polêmicas na esfera judicial, numa queda de braços com as empresas de ônibus mais tradicionais.
De um lado, a Buser se apoia na livre iniciativa e alega que faz a simples intermediação entre pessoas que não se conhecem, mas que querem ter a opção de fretar um ônibus para destinos em comum.
Do outro lado, as empresas de ônibus mais tradicionais, a maior parte representadas pela Abrati – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestres de Passageiros, alega que a Buser vende passagens e gera uma concorrência desleal já que os preços menores são em decorrência do fato de a empresa de tecnologia e os fretados não serem obrigados a transportar gratuidades (cujo custo acaba sendo inserido nas passagens dos pagantes), a pagar taxas de terminais e de gestores públicos para a fiscalização.
Há decisões diferentes na Justiça, tanto a favor como contra a Buser.
O entendimento final deve ficar com o STF – Supremo Tribunal Federal. Manifestações da PGR – Procuradoria Geral da República e da AGU – Advocacia Geral da União foram contrários ao instrumento de ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental movida pela Abrati contra a Buser.
A então procuradora geral da República, Raquel Dodge, sugeriu a extinção do processo.
Os pareceres da AGU e da PGR não têm peso de decisão, mas podem ser considerados pela corte do STF.
Enquanto a disputa judicial continua, a Buser afirma que vive uma das melhores fases de crescimento desde o início das atividades em 2017.
Segundo a empresa, por dia são transportados em média três mil passageiros e o crescimento semanal da demanda tem variado entre 5% e 10%.
Desde o início das operações, há pouco mais de dois anos, em torno de 450 mil pessoas foram transportadas, número de dar inveja a muitas empresas tradicionais de ônibus rodoviários.
E a Buser envolve muito dinheiro de investidores, que deu à empresa o “status” de estar presente em ações de marketing nacionais, como patrocínio ao Flamengo (o time mais cotado para ser Campeão Brasileiro de 2019), a grandes redes de TVs e sites, entre outros.
Como mostrou Diário do Transporte, o grupo japonês SoftBank, conhecido por injetar bilhões de dólares em startups brasileiras, anunciou investimentos na Buser, uma empresa mineira que detém um aplicativo que possibilita viagens rodoviárias.
Com o aporte, a Buser promete investir R$ 300 milhões em 12 meses em ações de marketing, desenvolvimento de tecnologia e expansão pelo País.
Na entrevista exclusiva ao Diário do Transporte, Marcelo Abritta disse que há uma fila de espera de empresas de fretamento para participarem da plataforma da Buser, mas que necessita de mais companhias para os planos de expansão.
Acompanhe na íntegra:
Diário do Transporte: Quais são os planos para o Nordeste?
Marcelo Abritta: A gente já começou a estabelecer parcerias com operadores da região, a princípio nas capitais. A gente é daqui, o Brasil é muito grande. A princípio às vezes as pessoas falam que a Buser só pega a capital. Isso não é verdade. Aqui em São Paulo já têm várias cidades que a gente já conseguiu chegar, mas como a gente está começando, é mais fácil encontrar os operadores nas capitais. Esse trabalho já está sendo feito. Algumas já foram anunciadas, como Salvador e Recife. A gente estará, não posso precisar a data ainda, mas num curto prazo, em todas as capitais do Nordeste e dentro de seis, 12 meses, hubs secundários de cada estado, como Feira de Santana, na Bahia, por exemplo.
Diário do Transporte: Os operadores locais de fretamento chegaram a procurar vocês?
Marcelo Abritta: Não só do Nordeste, como do Sudeste, Sul e Norte os operadores de fretamento têm se beneficiado muito do nosso modelo e têm procurado a gente. Hoje tem uma fila de espera, porque a gente faz um trabalho bem criterioso para adicionar cada novo operador. A gente manda uma equipe visitar a garagem, o veículo. Hoje temos mais ou menos 50 operadores e todos estão muito satisfeitos. A gente teve apenas um caso de operador que trabalhava com a gente e deixou de trabalhar e não foi por insatisfação dele com a Buser, mas por insatisfação nossa com o operador que estava falhando na questão da pontualidade e outras questões. Não estávamos satisfeitos e para proteger o cliente tivemos que encerrar a parceria. Do lado de lá, para nós é sempre mais e mais demanda, querendo comprar mais veículos, gente que estava quebrada e hoje está com quatro ônibus, gente que era encarregada de uma empresa, abriu uma empresa e agora tem quatro ônibus. Tem sido muito bom para quem está trabalhando com a gente.
Diário do Transporte: Qual a previsão de ampliação das empresas parceiras?
Marcelo Abritta: Esse número deve aproximadamente triplicar e com uma média de dois a três ônibus em cada um dos parceiros. Tem alguns que têm sete, dez, rodando com a gente e muitos só têm um. Mas eles operam nos negócios que já tinham também, seja no fretamento ou turismo religioso, comércio, etc. A gente está muito feliz de poder ajudar quem está trabalhando a gerar renda, emprego e poder melhorar a vida das famílias dele também.
Diário do Transporte: Como a Buser oferece assistência ao passageiro em caso de quebra do ônibus, quando a viagem é feita por uma companhia de fretamento que tem um ou dois veículos?
Marcelo Abritta: Tem uma rede muito grande de gente que já nos procurou oferecendo serviço. Às vezes a gente não consegue encaixar logo de cara, mas a gente sempre registra, anota, conhece a frota, a região que estão localizados e quando acontece um problema, como pneu furado, por exemplo, a gente tem uma rede e sempre que a gente chega em uma região a gente sabe para quais empresas ligar se tiver um problema, pra poder resolver. Acaba criando uma rede de proteção a esse pequeno operador e é uma vantagem que a gente oferece a quem trabalha. Se pegar uma grande empresa, que tem várias garagens nas cidades, ela mesma consegue suprir as eventualidades, com veículo da frota própria, mas o pequeno operador não tinha e às vezes quando dava um problema tinha que esperar dez horas ou pagar muito caro por um resgate em uma negociação pontual. Mas como a gente tem uma relação próxima com muitas empresas em muitas regiões, a gente consegue ser ao mesmo tempo efetivo, porque a gente atende pelo WhatsApp 24 horas, o operador não precisa conversar com os parceiros ou empresas, só precisa avisar a gente o que aconteceu e a gente vai ajudar a resolver o problema. É claro que isso vai ter uma punição. A gente trabalha sempre com muita justiça e o operador que trabalha muito bem está recebendo bônus, benefícios, agora quando tem falha mecânica ele recebe uma multa e se não comunica a gente, às vezes ele não recebe nem um centavo do frete, porque a gente tem uma relação de confiança de que estamos aqui para trabalhar juntos, então tem que avisar o lado sobre o que está acontecendo: a gente os avisa e eles avisam a gente. E a gente está aqui para ajudar, tanto quem está viajando como quem está trabalhando. Esse efeito de rede é que permite fazer com que eles colaborem entre si. É engraçado porque às vezes tem dois operadores em uma cidade que eram inimigos antes da nossa chegada, porque eles estavam disputando a mesma pizza. Mas quando a gente chega, a pizza aumenta e esses dois que eram inimigos passam a colaborar constantemente um com o outro e a rivalidade fica para trás.
Diário do Transporte