Cerca de 50 milhões de bicicletas transitam cotidianamente pelas cidades brasileiras de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). São bem mais bicicletas do que os 41 milhões de veículos motorizados em circulação no país, conforme o estudo Cidades Cicláveis: avanços e desafios das políticas cicloviárias no Brasil, dos pesquisadores Osmar Coelho Filho e Nilo Luiz Saccaro Junior (2017).
Ação de mulheres ciclistas em São Paulo. Foto: Nice Ferreira/Arquivo Mobilize |
Mais ainda, cerca de 7% das viagens urbanas diárias são feitas com as “magrelas”, cifra que pode chegar a 40%, de acordo com o mesmo estudo e caso sejam aplicadas as propostas previstas na lei 13.724, de outubro de 2018 <>, que instituiu o Programa Bicicleta Brasil (PBB).
Na semana passada, ou seja um ano após a sanção da lei, aconteceu em Brasília uma oficina de discussão para regulamentá-la e implementar políticas de estímulo ao uso da bicicleta, tendo como horizonte o ano de 2030. O encontro aconteceu na sede da Confederação Nacional de Municípios (CNM) e foi organizada pelo grupo gestor criado pela Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana e Serviços Urbanos (Semob) do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
Articulada pela União de Ciclistas do Brasil (UCB) e pelo BIke Anjo, a oficina reuniu representantes da Semob, da CNM, Abraciclo, Aliança Bike, da Organização Mundial da Saúde (OMS), além de pesquisadores universitários e uma série de organizações da sociedade civil, entre elas o Mobilize Brasil.
Durante o encontro, dias 15 e 16 de outubro, o diretor presidente da UCB, André Soares, detalhou o Acordo de Cooperação Técnica firmado entre a Associação Bike Anjo, a União de Ciclistas do Brasil e o então Ministério das Cidades, hoje Ministério do Desenvolvimento Regional, tendo como objetivo, entre outros, elaborar, em conjunto com outros parceiros, a Estratégia Nacional de Promoção da Mobilidade por Bicicleta no Brasil. O presidente da UCB lembrou que “a Estratégia Nacional da Bicicleta pretende ser um grande plano de ações a serem desenvolvidas pelo poder público, empresas e sociedade civil, em constante monitoramento e avaliação, ano a ano, até 2030”.
Durante os trabalhos na oficina, os participantes procuraram identificar os principais desafios para a difusão da bicicleta pelo Brasil, desde os problemas de educação e propaganda para a constituição de uma cultura da bicicleta até as melhorias necessárias na produção e comercialização das próprias bicicletas hoje oferecidas no mercado brasileiro.
Questões de gênero, de idade, de tecnologia e, sobretudo, de políticas públicas foram debatidas durante os dois dias da oficina para alimentar o que foi chamado de Estratégia Nacional da Bicicleta. “Uma estratégia nacional serve para dar a devida responsabilidade e peso à promoção do uso da bicicleta, apontar caminhos a serem seguidos pela sociedade brasileira, em especial pelo governo federal, para que as ruas, avenidas, praças, parques e outros locais tenham mais e mais pessoas pedalando, de todas as idades, raças, gêneros e classes”, explicou Yuriê Cesar, também reprrsentante da UCB. Ele lembrou que todos os países que hoje têm alto percentual de deslocamentos diários feitos em bicicletas em algum momento da história, quer seja nos anos 60, como o caso da Holanda, ou mais recentemente, como o Canadá, decidiram ter suas estratégias nacionais.
Prioridades
Os resultados da oficina começarão a ser divulgados nas próximas semanas pela direção da UCB. Na visão de Yuriê Cesar, a oficina funcionou bem para mapear os principais pontos que devem ser considerados pela estratégia. “Estamos trabalhando agora para entender o que é viável colocar em prática a curto, médio e longo prazo, estabelecendo prioridades, de forma a chegar a uma proposta bem madura e consistente. Todo o processo de construção dessa estratégia vai estar publicado em um site que vamos organizar. Vai ser um espaço para acompanhar os avanços e discutir os problemas e desafios com a sociedade”, disse Yuriê.
Para a UCB, e também para todos que participaram da oficina, a difusão da bicicleta poderá ser uma forma econômica e eficiente para o Brasil enfrentar os “desafios críticos nos próximos anos, incluindo os crescentes custos de assistência médica, de seguridade social, por conta dos mortos e feridos em colisões de trânsito, o aumento das emissões de gases de efeito estufa e de poluentes que degradam a qualidade do ar, os congestionamentos em cidades pequenas, médias e grandes, e os altos custos de manutenção da infraestrutura instalada e a instalar para o transporte coletivo”.
Mobilize Brasil