Inovação do transporte coletivo começa a mostrar resultados
Apesar de já estarem rendendo polêmicas – veja o caso recente do UBus em São Paulo, que foi proibido de operar por não ter autorização da prefeitura da capital -, as iniciativas de modernização tecnológica do transporte coletivo por ônibus começam a dar sinais de que há, sim, demanda para o serviço. Dados parciais de uma pesquisa realizada por estudantes de mestrado da Universidade Nacional de Brasília (UNB) com o CityBus 2.0, o serviço coletivo sob demanda que opera em Goiânia (GO) e o primeiro criado e regulamentado pelo poder público no País, apontam que o passageiro está saindo do transporte individual.
Foto: Divulgação/CityBus 2.0 |
São 81% dos usuários do CityBus 2.0 que declararam ter deixado de utilizar aplicativos de transporte individual – como Uber e 99 – , carros e até motos para realizar viagens no app. Na verdade, a grande maioria (62%) trocou os aplicativos de transporte individual pelo coletivo. Na sequência, vêm os passageiros que declararam utilizar anteriormente os carros (18%). E uma pequena quantidade (1%), costumava fazer as viagens de motocicleta. Apesquisa ainda está sendo finalizada e deverá ser amplamente divulgada em breve. Mas os resultados têm sido comemorados pelos operadores.
Principalmente porque a radiografia do cliente do CityBus 2.0 confirma que ele não está tirando passageiros do sistema de ônibus convencional, um dos aspectos que alimenta a resistência de gestores públicos e até de operadores do setor. Ao contrário, o passageiro está saindo dos apps de transporte privado. Segundo o levantamento da UNB, apenas 15% das pessoas que estão usando o serviço de transporte coletivo sob demanda disse vir do ônibus – no caso de Goiânia não há metrô. “Queríamos compreender melhor o comportamento de viagens da sociedade contemporânea em um serviço inédito no contexto da América Latina.
O resultado do perfil dos usuários nos surpreendeu, pois, dado o caráter coletivo do Citybus 2.0, esperávamos queamaioria fosse também usuária do transporte público regular. Entretanto, os resultados mostraram que 80% dos usuários substituíram o automóvel ou transporte por aplicativos pelo serviço”, explica Mariana Araújo, que realiza a pesquisa junto com outros dois estudantes da disciplina Transporte e Sociedade, da UNB. Ou seja, o perfil do passageiro do CityBus 2.0 revela que há uma parcela da sociedade que quer, sim, utilizar o transporte coletivo de passageiros.
Cada um tem suas razões – financeiras, sociais e sustentáveis -, mas para usá-lo querem um serviço de melhor qualidade e que agregue as tecnologias possíveis paraamobilidade urbana no mundo atual. Além disso, o app só cresce. Em oito meses de operação, o serviço já registra mais de 50 mil pessoas cadastradas nas plataformas iOS e Android. O índice de viagens agregadas – com mais de um passageiro – já corresponde a 75% do total, o que reforça a proposta inicial do serviço de incentivar as pessoas a deixarem o carro e aderirem ao transporte coletivo nos 28 bairros atendidos pelo app. Polêmica com os aplicativos de ônibus já começou
Apesar de no discurso gestores e operadores defenderem a necessidade de o transporte coletivo por ônibus aderir de uma vez por todas à inovação para evitar ser massacrado pelos aplicativos de transporte individual, na prática a desconfiança ainda persiste. Um exemplo é a polêmica criada em São Paulo com o início da operação do novo serviço de ônibus sob demanda e por app lançado numa parceria entre a UBus, startup de tecnologia, e aMetra, operadora do Corredor ABD e sua extensão Diadema-Brooklin.
Foto: Victor Oliveira/Ônibus Brasil |
O serviço não operou por duas semanas. A Prefeitura de São Paulo impediu a circulação da linha 376-SBC, criada para levar os passageiros do Terminal Metropolitano São Bernardo, em São Bernardo do Campo, até a Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Itaim Bibi, Zona Sul da cidade de São Paulo, com algumas paradas ao longo do percurso. O argumento da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo (SMT) é de que o serviço não está autorizado para operar no município.
Que essa autorização estava sendo analisada internamente, entre a gestão municipal e o governo do Estado – responsável pelo transporte metropolitano -, e que a Metra antecipou a operação. A concessionária, por sua vez, argumenta que recebeu anuência da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), órgão do governo do Estado e responsável pelas linhas intermunicipais, para começar a operar o serviço. Mas que, mesmo assim e sem uma comunicação prévia de mudança, teve alguns veículos apreendidos e autuados irregularmente sob alegação de que estavam prestando um serviço clandestino.
Jornal do Comércio-PE