As tarifas de ônibus em todo o País poderiam ser até 25% mais baixas se a velocidade comercial dos sistemas de transportes nas cidades e regiões metropolitanas dobrasse.
Para isso, seriam necessários mais investimentos na criação de faixas e corredores de ônibus.
A constatação é da NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, que reúne em torno de 500 viações no País.
Enquanto os serviços de ônibus não satisfazem plenamente, a população vai se desinteressando pelos sistemas e migrando para outras formas de deslocamento, em especial as de transporte individual, já que as redes de trens e metrô avançam muito pouco no País.
Como mostrou o Diário do Transporte na última semana, levantamento da NTU releva que 12,5 milhões de passageiros nas principais regiões metropolitanas brasileiras abandonaram os ônibus na comparação entre abril de 2018 e abril de 2019.
Os dados foram apresentados no Seminário Nacional da NTU, na última semana em Brasília, que teve cobertura do Diário do Transporte.
O presidente da entidade, Otávio Cunha, disse em entrevista após a apresentação dos dados, que há um ciclo negativo. Os ônibus estão mais lentos, o que afasta os passageiros. Com menos passageiros e menor velocidade, os custos são maiores. Com custos maiores, as tarifas aumentam. Com tarifas mais altas, mais passageiros desistem de usar o transporte público.
“Nós estamos falando hoje em 12 km/h [média nacional] de velocidade e poderíamos chegar a 20 km/h e 22 km/h. Se nós conseguirmos ter essa velocidade para reduzir o tempo de viagem, a economia no preço e no custo do serviço é da ordem de 25%” – explicou.
A lógica é simples, segundo Cunha. As empresas precisam colocar mais ônibus numa mesma linha porque os coletivos ficam presos no trânsito. Só que são mais ônibus para transportar menos pessoas e fazer menos viagens.
Com menores interferências de congestionamentos, cada ônibus teria uma velocidade maior. Assim, seria possível fazer mais viagens e transportar mais gente por veículo.
Como também mostrou o Diário do Transporte, a NTU apresentou um programa com ações que, segundo os empresários, podem fazer com que as tarifas ficassem em torno de 50% mais baixas.
Além do financiamento por meio de receitas extra-tarifárias, principalmente para gratuidades, os donos das viações propõe que o Governo Federal aporte para os estados e municípios R$ 18,7 bilhões nos próximos quatro anos para a implantação de 8.899 quilômetros de faixas, corredores de ônibus centrais comuns e BRTs – Bus Rapid Transit.
Os investimentos seriam direcionados para 112 cidades brasileiras com mais de 250 mil habitantes.
O custo seria de R$ 18,7 bilhões em quatro anos, mas os ganhos seriam de R$ 11,5 bilhões por ano com viagens mais rápidas, menor poluição e economia de insumos de operações, segundo a proposta.
Otávio Cunha ainda disse que os transportes por ônibus estão se tornando cada vez mais desinteressantes para a população, mas também para empresários e revelou que, neste ano, no Rio de Janeiro, mais sete empresas correm o risco de fechar as portas.
“Precisamos avançar muito na qualidade do transporte público, que não está mais competitivo e atrativo para as pessoas continuarem utilizando esse serviço. A produtividade é muito baixa. Nós estamos num dilema. O problema é que deixou de ser atrativo para as pessoas em geral e para os empresários que operam esses serviços. Se vocês pegarem o exemplo do Rio de Janeiro, 14 empresas fecharam nos últimos quatros anos e tem mais sete para fechar neste ano” – disse Cunha.
Fonte: Diário do Transporte