Artigo: Usuários ou passageiros, mas nem sempre clientes

A referência a quem utiliza transporte coletivo, pela mídia e outras áreas, costuma ser genérica e, algumas vezes, pouco lisonjeira. Enquanto em outros setores o cliente é tratado com tal nomenclatura, no transporte coletivo parece que ele não teria alcançado esse patamar. Ou será que existe alguma resistência do empresário e do gestor público no reconhecimento desse valor? Tenho convicção que não, pois o cliente é a razão do nosso trabalho e do nosso empenho por avanços.
Foto: Ilustração
Talvez falte um entendimento mais amplo, difundido na sociedade e por nós mesmos, de que o transporte coletivo, como os demais segmentos, também opera na filosofia de satisfação de quem o utiliza. Um serviço essencial, que propulsiona o desenvolvimento, a economia e a mobilidade urbana, precisa das pessoas para prosperar, assim como a cidade precisa do transporte coletivo para evoluir.
O desafio é grande. É necessário buscar formas de atrair o cliente, oferecendo mais facilidades, agilidade, tecnologia, conforto e informação. Essa equação é complexa, considerando que a crise atingiu em cheio o setor. Números divulgados pela própria NTU mostram que, no Brasil, os ônibus urbanos perderam 25,9% dos usuários entre 2013 e 2017.
Mas, se fizermos um paralelo com a evolução do marketing, veremos que os tempos atuais são favoráveis. Os estudiosos da área, como o consultor e especialista em marketing em transporte Roberto Sganzerla, mencionam que a partir de 2005 (no Brasil a partir de 2010) temos o surgimento de uma nova era, onde “valores” se tornam o centro da questão. Essa era nos abre um leque de oportunidades, já que, sob o aspecto mercadológico, nunca houve um tempo tão propício para a promoção do transporte coletivo como agora. O nosso serviço contribui para a mobilidade urbana, para as cidades ser tornarem mais sustentáveis e para o planeta respirar melhor. Isso é valor, comenta Sganzerla.
De acordo com Philip Kotler, no livro Marketing 3.0, em vez de tratar os indivíduos simplesmente como consumidores, devemos tratá-los como seres humanos plenos, com mente, coração e espírito. Portanto, são tempos que convergem para a prática do que fazemos: trabalhar para as pessoas e para o bem comum!
O atual secretário de mobilidade urbana de Porto Alegre, Rodrigo Tortoriello, disse recentemente em um encontro com empresários que o lema deve ser “hashtag nem um passageiro a menos”. Ele comentou que é preciso acordar todos os dias e pensar: “O que eu posso fazer hoje para conseguir conquistar mais um cliente?”.
O fato é que a atuação de cada um, do operacional ao estratégico, é fundamental nessa empreitada. E todos nós temos esse compromisso!
Stamatula Vardaramatos, presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP).

Matéria publicada na Revista NTUrbano Ed. 39 Maio/Junho de 2019

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