Natal: Maior tarifa e frota mais velha da região nordeste

O reajuste da tarifa de ônibus de Natal leva à cidade a se igualar com Aracaju, capital sergipana, na tarifa mais alta entre as capitais do nordeste, no valor de R$ 4. É o sexto aumento consecutivo desde 2014, provocando insatisfação da população principalmente porque não há reflexo na qualidade do transporte coletivo. Se por um lado Natal tem a tarifa mais cara da região, também tem a frota de ônibus mais velha, sendo a média de 8,9 anos – o ideal são quatro, segundo a Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
Foto: Ilustração/UNIBUS RN
A mudança da tarifa foi votada na manhã desta quinta-feira, 16, durante a reunião do Conselho Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana, aprovada por 13 votos a 7, e entra em vigor neste domingo, 19. A reunião aconteceu com tensões na maior parte das duas horas de duração, contando com discussões entre empresários, membros da Prefeitura de Natal e militantes contrários ao aumento, além de parlamentares opositores. A proposta aprovada é a proposta da Prefeitura de Natal e foi consenso entre os sindicatos das empresas do setor de transporte e da classe dos rodoviários e divide a tarifa em duas: R$ 3,90 para pagamento no cartão eletrônico e R$ 4 para o dinheiro.
A alternativa à proposta era um aumento de cinco centavos, elevando a passagem atual para R$ 3,70. Somente sete dos 20  conselheiros presentes na reunião optaram por essa. O Conselho é formado por 30 conselheiros, mas dez não compareceram, parte ligada a entidades representantes da sociedade civil. O vereador de oposição Maurício Gurgel (PSOL), contrário à proposta aprovada, afirmou que vai apurar se essas entidades foram convidadas para a reunião.
A contrapartida do aumento da tarifa por parte das empresas de ônibus é a entrega de um novo microônibus para o transporte “porta-a-porta”, destinado para pessoas que possuem gratuidade e dificuldades físicas de se dirigirem às paradas. Apesar da nova tarifa ser menor que o pedido inicial do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Seturn), no valor de R$ 4,35, eles votaram a favor do aumento para R$ 4 em espécie.
A secretária de mobilidade urbana de Natal, Elequicina Santos, afirmou que a proposta aprovada foi debatida em reuniões passadas e considera o preço dos combustíveis, custos operacionais, redução de passageiros e reajuste de salário dos motoristas. “Inicialmente, apresentamos uma planilha com um cálculo que a passagem chegava a R$ 3,90, mas esse valor  foi corrigido porque houve um aumento no salário dos rodoviários e deveria ser R$ 4. O consenso encontrado foi que se o valor ficasse para R$ 3,90 e R$ 4 para o dinheiro, contemplaria os custos inclusive do aumento do salário”, afirmou. Elequicina defendeu o reajuste e disse que os cartões eletrônicos a partir do reajuste serão feitos gratuitamente. Atualmente, eles custam R$ 14. “Se eu pago  em dinheiro, eu posso migrar para o cartão e todo mundo pagar R$ 3,90. Vai pagar R$ 4 quem quer”, afirmou.
Minutos após a divulgação do aumento, a insatisfação se iniciou entre a população. “Devido à baixa qualidade do transporte municipal, o valor é absurdo”, comentou o leitor da TRIBUNA DO NORTE, José Lucas em uma rede social. O representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) José Silton Pinheiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), afirmou que o aumento da tarifa vai ser incluído nos próximos protestos de estudantes, que se mobilizam atualmente contra o arrocho fiscal feito pelo Ministério da Educação.
O aumento tarifário dos ônibus é a segunda maior razão no Brasil para a queda de passageiros no transporte coletivo – uma das razões para o aumento, conforme a declaração de Elequicina Santos – porque gera insatisfação, segundo um estudo nacional feito pelo Conselho Nacional do Transporte (CNT) em 2017. Em Natal, a queda entre 2014 e 2018, período em que a passagem subiu R$ 1,30, foi de 20 milhões de passagens. Uma pesquisa local, elaborada pelo professor universitário Rubens Ramos e apresentada ao Seturn em março, mostrou que o último ano sem queda de passageiros nos ônibus de Natal foi 2013, que também é o último ano que o preço da passagem não teve aumento.
Tarifas das capitais do NE
Aracaju: R$ 4,00
Natal: R$ 4,00
João Pessoa: R$ 3,95
Teresina: R$ 3,85
Salvador: R$ 3,70
Maceió: R$ 3,65
Fortaleza: R$ 3,60
Recife: R$ 3,45
São Luiz: R$ 3,40
Fonte: Seturn
Frota local é a mais antiga da região
Se por um lado a tarifa do transporte coletivo em Natal é a mais cara do nordeste, a frota dos ônibus é a mais velha, de acordo com uma pesquisa elaborada pela Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU). A idade média dos veículos é de 8,9 anos, quando o ideal são quatro. A renovação dessa frota é uma das exigências aprovadas para a licitação do transporte urbano da cidade, tentada desde 2012 e prevista para ser lançada no mês que vem.
Ônibus fabricado em 2004, atualmente com 15 anos de uso, ainda faz parte da frota potiguar. Foto: Ilustração/UNIBUS RN
O Seturn, sindicato que reúne empresários operadores das linhas de ônibus de Natal, argumenta que as despesas atuais impedem maiores investimentos na frota. Nos últimos dois anos nenhum veículo novo foi comprado para a renovação, segundo o próprio sindicato. O último ano com ônibus adquirido foi 2016 (quatro veículos).
Segundo os dados do sindicato, metade das receitas tarifárias são gastas em despesas fixas (salários, benefícios e manutenção) e outros 36% em variáveis (combustível). Sobram 13% para investimentos e outras despesas. “A maior parte hoje do transporte é para pagar benefícios e não tem subsídio, é insustentável renovar a frota dessa maneira”, diz Nilson Queiroga.
Um dos quatro ônibus mais novos de Natal, comprados em 2016. Foto: Ilustração/UNIBUS RN
O pedido de subsídio, aplicado hoje na maioria das capitais do Brasil, é rebatido pela STTU. A secretaria afirma que a administração municipal não está em condições de dispensar receitas, e implementar a isenção “está descartada”.
Idade média da frota nas capitais do NE

Natal:  8,9
Aracaju: 7
Maceió: 6,30
João Pessoa: 6,15
Salvador: 6
Teresina: 6
Fortaleza: 5,6
São Luiz: 5,19
Recife: 4,7
Fonte: Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU)

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