O presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Vander Costa, defendeu que a Petrobras adote uma periodicidade mínima de 90 dias para reajustar o valor do óleo diesel no mercado brasileiro. Na ocasião, caminhoneiros ameaçaram nova greve.
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A sugestão foi feita em audiência pública na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados. O evento debateu, na última semana, as ações do governo federal na política de preços do insumo e as iniciativas voltadas ao transporte rodoviário de cargas.
O presidente da CNT afirmou que é compreensível a precificação estar alinhada às cotações internacionais, mas frisou que a gestão dessas oscilações deve ser feita sem colocar em risco atividades essenciais para a economia nacional, como o transporte de cargas.
“Nós, transportadores, não temos a capacidade técnica de suportar o aumento de preços diários, quinzenais ou até mesmo mensais. Nossa proposta é que as variações – que acompanham o mercado internacional – sejam feitas no intervalo mínimo de 90 dias”, disse.
Segundo o presidente da CNT, a Petrobras tem condições de estabelecer essa periodicidade de ajustes no preço do diesel sem necessariamente alterar a sua política de preços.
“A empresa tem de assumir o custo de fazer um hedge [instrumento que tem como objetivo proteger operações financeiras do risco da volatilidade de preço dos ativos] e, com isso, reduzir o impacto negativo que as oscilações mais severas de preço de petróleo podem ter no mercado brasileiro”, disse.
Costa também propôs que sejam feitos ajustes no frete pago aos transportadores que atendem a estatal, que é uma grande embarcadora, quando ocorrer oscilação do valor do diesel. “A Petrobras poderia dar o exemplo ao mercado e, quando houvesse o reajuste do diesel, automaticamente subir o preço do frete pago por ela.”
Na avaliação do presidente da CNT, a iniciativa faria com que o mercado acompanhasse a medida da Petrobras, assim como as demais petrolíferas que atuam no país, criando um ciclo virtuoso no mercado de fretes.
“Isso evitaria que o custo relativo à volatilidade do preço do petróleo – e do diesel – ficasse concentrado nos transportadores”, informou o presidente, por meio de nota divulgada pela CNT.
GREVE DOS CAMINHONEIROS
Na mesma audiência, caminhoneiros confirmaram que podem entrar em greve caso o governo não reveja a política de reajuste do diesel, nem melhore as condições de trabalho da categoria.
O presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), José da Fonseca Lopes, deu o alerta em audiência na Comissão de Viação e Transportes. Uma nova paralisação, como a que ocorreu em maio de 2018 e gerou uma crise de abastecimento em todo o País, pode se repetir, segundo ele.
“O que vem por aí é coisa feia, muito feia. Se o governo não se atentar para isso, nós vamos ter um problema muito sério. Aí não vai ter Exército, não vai ter nada, porque ninguém vai ter combustível. Como é que vai fazer? Se acontecer, é para desestabilizar o País. Eu não vou participar disso e não quero isso, mas já estou dando o alerta, como dei da outra vez”, declarou Lopes.
Recentemente, a Petrobras decidiu pela revisão do preço do diesel a cada 15 dias, uma periodicidade considerada curta pelos caminhoneiros autônomos, ainda que até então os valores vinham sendo reajustados em intervalos menores, às vezes diariamente.
Um dos pedidos é para que essa revisão ocorra pelo menos a cada três meses, por exemplo, para que motoristas não sejam surpreendidos no meio de uma viagem com o aumento no valor do combustível.
“Não temos condição de negociar preço a cada semana, a cada dia. É mais fácil suportar preços internacionais do que a volatilidade que, esta sim, acaba matando”, afirmou Vander Costa.
O preço médio do diesel nas refinarias hoje é de aproximadamente R$ 2,3 por litro. Em menos de dois anos, o combustível acumulou aumento de quase 70%.
Por sua vez, o secretário executivo do Ministério da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, disse não acreditar em uma nova greve, em razão de o governo estar em constante diálogo com os caminhoneiros.
A pasta acaba de lançar uma linha de crédito no valor de R$ 30 mil para cada caminhoneiro, voltada para a manutenção dos veículos.
“Nós acreditamos que esse diálogo que tem sido feito com a categoria, com os autônomos, com as transportadoras, tem sido eficaz, eficiente. Nós acreditamos que encontraremos um ponto, uma solução em conjunto”, afirmou o secretário, em nota.
Outro anúncio recente do governo – o Cartão Caminhoneiro – também não é do agrado da categoria. Os participantes da audiência acreditam que ele favorecerá os postos da Petrobras, por permitir a compra de litros de diesel a preço fixo nos postos com a bandeira BR, conforme informado por meio de nota da Câmara dos Deputados.
“É uma medida como qualquer outra de fidelidade de consumo”, disse o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno.
Bueno defendeu ainda outras formas de baixar o custo para caminhoneiro autônomo, como uma política de preços menores para pneus e uma efetiva fiscalização das leis que já existem em benefício da categoria.
Diário do Transporte