Às vésperas da maior feira dedicada ao agronegócio da América Latina, a Agrishow, que ocorre na última semana de abril e primeira de maio em Ribeirão Preto (SP), ainda não está claro se haverá recursos para financiar as vendas esperadas para o evento. Isso porque os recursos de programas de fomento como Moderfota ou mesmo o Pronaf já esgotaram. Além disso, o Plano Safra 2018-2019, que deveria ainda sustentar os negócios do evento e as vendas até meados do ano, corre o risco de não ter mais dinheiro em caixa. A preocupação vem do presidente da CNH Industrial, Vilmar Fistarol, ao avaliar o cenário atual no Brasil nos segmentos em que a companhia atua, com a fabricação de máquinas agrícolas, máquinas de construção, caminhões, ônibus e motores para todos eles.
Foto: Ilustração/UNIBUS RN |
“Começando pelo agronegócio: por um lado, a avaliação é positiva, quando falamos de produtividade e preços de commodities, com um cenário de crescimento bastante importante no Brasil e também na Argentina. Porém, está rodeado por um nível altíssimo de insegurança e volatilidade. E é esse o risco que nós estamos incorrendo neste instante”, comenta Fistarol.
Há grande preocupação do setor produtor em geral sobre a disponibilidade de recursos para o financiamento de bens de capital para a próxima safra. “Estamos nas vésperas do Plano Safra 2018-2019; a ministra da Agricultura [Tereza Cristina] diz que ainda há recursos para honrar o plano até o fim, mas nós já sabemos que não tem. Existe aí uma desinformação que não é positiva: precisa clareza de ideias, porque os empresários querem investir, mas a insegurança é muito grande”, relata.
Para o executivo, a falta de clareza do governo causa dúvidas no produtor: “Essa mensagem está bem complexa. Entendo que é o início do mandato, mas é um ponto que precisa ser resolvido porque o produtor não pode parar, a indústria não pode parar de investir. Há investimentos importantes a fazer, mas as empresas ficam no impasse da espera. O setor industrial até pode dizer que vai esperar para ver o que acontece, mas o produtor agrícola não pode esperar.”
AS CONSEQUÊNCIAS
Ameaçar o setor agrícola é um risco muito grande para o Brasil. Em sua avaliação, Fistarol defende que não resolver essa questão urgente é afetar negativamente a competitividade do País.
“As janelas da agricultura são sempre mais curtas: se o produtor perde essa janela, significa menos produtividade, menos volume de produção, menos competitividade. O agro é um cenário positivo em geral? Sim, mas é muito cheio de nuvens, de áreas cinzentas”, alerta.
O executivo entende que a expectativa que havia no ano passado para o novo governo era mais positiva, embora ele defenda que as empresas e os investidores ainda se mantêm otimistas com o futuro do País. “Há uma tentativa de achar uma saída, mas é certo que há esse momento de insegurança, o que não é bom para o setor. Se a saída for ‘não tem mais recurso do BNDES’, então que se diga claramente e se tem, para quais categorias se destinam etc.”
Ele conta que ainda em 2018, quando a indústria sentiu o mesmo temor, as empresas se uniram em suas associações e foram até Brasília para pedir que o então governo não interrompesse a cadeia. “Porque a pior coisa que você pode fazer na cadeia é a interrupção: você cria um hiato que depois não recupera.”
Segundo Fistarol, a tentativa de sensibilizar é para evitar indecisões no governo. Tal indecisão pode gerar uma demora no governo de 15 a 20 dias sobre qual decisão tomar, o que para o setor industrial de bens de capital ou mesmo para o produtor rural pode significar entre 60 a 90 dias sem operação, como já ocorreu anteriormente. “Essa questão do Plano Safra 2019-2020 estamos tratando desde o ano passado, porque precisa falar sobre isso antes de acontecer, mas a inércia é muito grande.”
Travar o setor agrícola pode acarretar impactos negativos não só no produtor rural, explica Fistarol: “A indústria de caminhões pesados nos últimos anos tem girado muito em torno do agronegócio. Se cria incertezas no agro, cria incertezas em toda a cadeia e todo o restante da máquina da economia”, aponta.
Outro setor que também vem sofrendo com indecisões governamentais é o da construção, do qual a CNH Industrial também participa, fornecendo máquinas e equipamentos, além de motores estacionários.
“O varejo vai um pouco melhor do que estava, mas com base em pequenas coisas, mas pequenas coisas não movem a economia do País. Se não tiver grandes projetos de infraestrutura que sejam estratégicos e que comecem a decolar, os investimentos na área de construção e maquinário não vai existir. As grandes empresas vão continuar tocando os negócios como fazem as pequenas e médias que tocam com investimentos breves, custos de manutenção elevados, riscos de trabalho e custos operacionais enormes.”
Ele garante que se nada for feito, o mercado dificilmente passará das 11 mil unidades vendidos em um ano. “Esse mercado deveria estar em 24 mil ou 25 mil unidades”, revela.
Ele defende que se as expectativas prometidas para o ano não se consolidarem até o segundo trimestre, pode-se considerar este um ano perdido.
“É esse o temor da indústria em geral. Continua a expectativa de que as coisas decolem, mas a pergunta é: até quando vamos esperar.”
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