Cresce número de usuários de trens

Às 7h30, durante o horário de pico que paralisa o trânsito entre a zona Norte de Natal e as outras áreas da cidade, o trem urbano atravessa a ponte de Igapó impassível, numa média de dois minutos. Segue por mais 10 quilômetros, passando pela comunidade do Mosquito e pelos bairros das Quintas, Alecrim e Passo da Pátria até chegar à Ribeira, o destino final, por volta das 7h45. Nesse instante, quem viu o trem atravessando a ponte minutos antes de dentro de um carro ou de um ônibus ainda está provavelmente na mesma área, preso no engarrafamento. E, a depender das imprevisões diárias, vai demorar a sair.
Foto: Divulgação/CBTU
“Está vendo? Enquanto a gente atravessa aqui tranquilo, ali do outro lado está tudo parado nesse estresse que é o trânsito, com engarrafamento, às vezes dentro do ônibus cheio, quente”, comenta com o repórter o gestor público Egbert Oliveira, de 37 anos, durante uma viagem de trem na última sexta-feira, 22. Há três anos Egbert pega o veículo todos os dias para ir ao trabalho, na Cidade Alta. Apesar de ter uma moto, escolhe o trem por considerar mais barato e menos estressante.
O gestor faz parte de um universo estimado em 15 mil usuários por dia que utilizam o trem urbano de Natal. As duas linhas existentes operam desde 1988 e teve uma melhoria depois da chegada dos Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) para a Copa do Mundo de 2014, que substituíram as antigas maquinas. Segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), gestora dos trens de Natal, desde então o número de usuários cresce. Entre 2017 e 2018, esse aumento foi de 300 mil usuários, atingindo 3,7 milhões (7% a mais do que em 2017).
É praticamente inviável para quem tem obrigações na zona Sul de Natal optar pelo trem. As duas linhas atuais cobrem somente parte da zona Norte de Natal (linha Ceará-Mirim – Natal) e da zona Oeste (linha Parnamirim – Natal). Existe um projeto para a modernização das linhas desde 2015, com previsão de reforma nas estações e expansão das linhas. Chegou a ser cogitado a criação de linhas para cobrir a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e o Aeroporto Aluízio Alves, mas a CBTU alega falta de recursos para a execução.
No fim do expediente, às 14h, Egbert espera uma hora e meia até o próximo trem. Ou, se optar pelo mais vazio, o trem das 17h06. Mais cedo, se o gestor perder o trem das 6h50, precisa esperar uma hora. “Deveria ter horários mais frequentes. Isso é outro problema. Muita gente opta por não pegar o trem por conta disso”, relata o gestor. A quantidade de 15 mil passageiros diários se divide em sete viagens na linha Ceará-Mirim – Natal e outras oito na Parnamirim – Natal.
O último trem sai da Ribeira às 18h45 de segunda a sexta. No sábado, as viagens são reduzidas e o último sai às 15h26. O domingo não tem funcionamento. São nesses dias que Egbert opta pelo uso da moto. “Porque não tem outra opção. A quantidade de viagens poderia ser ampliada. Num domingo eu poderia levar a minha filha para alguma opção de lazer de trem, mas não me resta opção”.
Estações
As 23 estações de trem das duas linhas existentes em Natal não acompanharam a melhoria que os veículos e os trilhos tiveram nos últimos cinco anos. Quase todas hoje são pequenas, pichadas com alusões a facções criminosas da cidade, com catracas antigas. São praticamente as mesmas de 20 anos atrás. “As estações são  muito precárias, sem conforto e sem segurança”, relata Egbert.
A reforma dessas estações está prevista no plano de expansão feito pela CBTU em 2015, feito praticamente a conta-gotas. Quase quatro anos depois, nenhuma foi reformada. Segundo a estatal, a única intervenção até agora é a construção da Nova Estação Parnamirim, ainda em execução.
Atrasos são comuns em dias de chuva
Os dias de chuva são os piores para quem quer ir de um lugar a outro em Natal. Para quem usa trem não é diferente. Foi numa ocasião dessas que Egbert,  em três anos de trem todos os dias, sofreu o único atraso. O VLT não conseguiu subir o terreno entre a estação Santa Catarina e Igapó, na zona Norte de Natal. A maquina parou de funcionar porque estava ‘patinando’ nos trilhos até colocarem areia para aumentar o atrito.
“Quando chove, existe essa patinação e o trem fica um pouco mais lento, mas são as únicas ocasiões que registramos atrasos”, conta Raphael Albuquerque, assessor de comunicação da CBTU. “Outras situações que existem, mas que são resolvidas rapidamente, é de objetos nos trilhos, como galhos de arvores. Aí o trem é parado e existe um guarda na estação para retirar o objeto”.
Egbert Oliveira optou pelo trem urbano há três anos e destaca como positivo o tempo da viagem Os atrasos eram comuns antigamente porque os veículos quebravam constantemente. Andar de trem era uma incerteza ante as maquinas velhas e, para a população que vive na marginal dos trilhos, havia um certo desprezo. Os trens eram constantemente apedrejados. Hoje, a CBTU tem um programa de educação com a população desses locais para evitar essas situações.
Números
3,7 milhões de pessoas utilizaram o trem urbano de Natal em 2018
15 mil pessoas é a média diária de usuários
300 mil pessoas a mais do que 2017
Fonte: CBTU
Tribuna do Norte

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