Em reunião não divulgada na agenda oficial, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, afirmou a um grupo de servidores municipais que o VLT carioca é uma “porcaria”. O registro foi feito pelo jornal O Globo, que afirma que o encontro aconteceu nesta terça-feira, 19 de março de 2019, na Divisão de Hortos da Fundação Parques e Jardins, na Taquara.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil – Ilustração/UNIBUS RN |
Crivella criticou o consórcio que administra o modal, afirmando que o município terá que investir, segundo estimativas, R$ 18 milhões mensais no sistema.
— Tenho 1.500 escolas precisando de reforma. Isso é maluquice. Quanto custou aquela porcaria? Um bilhão.
O presidente do Consórcio VLT, Márcio Hannas, rebateu as críticas de Crivella e afirmou ao Globo que o prefeito fez “um discurso político”.
Para o consultor Peter Alouche, um dos maiores especialistas em sistemas de transportes metroferroviários do país, o prefeito do Rio deve estar certamente mal informado.
“O VLT inserido no Projeto do PORTO MARAVILHA na Cidade do Rio, é considerado pelos urbanistas, a nível internacional, um projeto de transporte urbano de grande sucesso. A exemplo de muitas cidades da Europa, da América Latina e dos EUA, o VLT provoca uma importante renovação urbana nas regiões degradadas das Cidades. Isto me lembra outro Governador do Rio já falecido, que considerava o Metrô uma obra cara e inútil“, afirmou Alouche.
O consultor Peter Alouche, um dos maiores especialistas em sistemas de transportes metroferroviários do país, acredita o prefeito do Rio deve estar certamente mal informado.
“O VLT inserido no Projeto do PORTO MARAVILHA na Cidade do Rio, é considerado pelos urbanistas, a nível internacional, um projeto de transporte urbano de grande sucesso. A exemplo de muitas cidades da Europa, da América Latina e dos EUA, o VLT provoca uma importante renovação urbana nas regiões degradadas das Cidades. Isto me lembra outro Governador do Rio já falecido, que considerava o Metrô uma obra cara e inútil“, afirmou Alouche.
Para o consultor e diretor da ANTP – Associação Nacional dos Transportes Públicos no Rio de Janeiro, Willian Aquino, o VLT do Rio de Janeiro é um grande avanço na integração do transporte.
“Ele liga o aeroporto Santos Dumont, estações do metrô – entre as quais 3 importantes para a mobilidade da cidade –, o Terminal Pedro II, onde estão todos os trens de subúrbio, o Terminal Metropolitano de passageiros; ele passa no Centro da cidade, e além disso tem a importância significativa de retirar da região central uma quantidade muito grande de veículos circulando”, descreve Willian.
O consultor questiona: “o VLT não tem a demanda que deveria ter?”, para na sequência explicar os motivos: “Primeiro, houve uma questão de uso do solo no Porto Maravilha que não aconteceu como se planejava, pela crise econômica que o país vive e que todos nós conhecemos”.
Willian cita que existem ainda muitas linhas de ônibus superpostas “que não deveriam estar circulando sobre o mesmo itinerário, fazendo integração”.
Ele lembra que o VLT “devia ter um bilhete integrado com o transporte metropolitano, como os ônibus municipais têm”.
Willian afirma que o VLT deveria, sim, estar com maior frequência, pois desta forma teria maior facilidade para receber passageiros. “Mas ele não pode ter essa frequência maior justamente porque não tem a demanda, o que nos leva a um círculo vicioso”, diz.
Para o consultor e representante da ANTP o VLT é, sim, uma grande iniciativa, e sua rede deve ser ampliada. “Se a prefeitura tem que colocar contrapartida, e isso é verdade, é porque se trata de um contrato de PPP (parceira público-provada). E a PPP é uma das formas de se administrar, da mesma maneira que outros serviços públicos”.
Escolas, hospitais, esgoto, lembra Willian, são serviços que demandam dinheiro público, assim como o transporte coletivo precisa de recursos do município. “O VLT faz parte de uma abordagem de rede, é o início”, diz.
“Hoje a gente diz que o Metrô transporta 850 mil pessoas, mas eu me lembro de que quando o trecho dele era pequeno, eram poucas as pessoas transportadas, a maior parte delas viajava sentada”, diz Willian.
“Mas ninguém pensa ‘naquele’ metrô, a gente pensa no metrô que temos hoje, que precisa transportar muito mais gente. Isso é que é transporte público, a visão tem de ser de taxa de retorno econômico, e não apenas retorno financeiro. Dinheiro é para cobrir despesas financeiras, mas os ganhos econômicos estão na diminuição da poluição, na redução do congestionamento, na reestruturação do espaço urbano, na melhoria da qualidade de vida, como, aliás, o próprio senhor prefeito disse, que pretendia administrar a cidade para o povo. E é dessa maneira que deve ser visto e entendido o VLT, como um meio de transporte voltado para o povo. O senhor prefeito tem dito isso quando se refere ao BRT, e a outros modos de transporte sob controle da prefeitura. O VLT faz parte de um investimento de reestruturação da cidade, que tem de ser ampliado para melhorar a qualidade de vida dos cariocas”.
Willian prefere acreditar que o prefeito se expressou mal, devido ao contexto em que a frase foi dita.
Em seu discurso, o prefeito disparou a esmo, afirmando que o Rio de Janeiro é “uma esculhambação completa”, onde Policias Militares sobem o morro para pegar arrego – “o troco da cocaína”.
O secretário de Polícia Militar, coronel Rogério Figueredo de Lacerda, divulgou nota afirmando ser “lamentável e inacreditável que o prefeito do Município do Rio de Janeiro – uma cidade com problemas tão sérios a resolver – seja capaz de proferir declarações tão absurdas durante uma reunião pública.”
QUEDA-DE-BRAÇO COM O CONSÓRCIO
O prefeito Marcelo Crivella vem travando uma disputa com o Consórcio que administra o Veículo Leve sobre Trilhos.
Em janeiro, em entrevista à Rádio Tupi, Crivella afirmou que o contrato assinado com a Concessionária prevê que a prefeitura deve arcar com a receita não realizada no caso da demanda diária ser inferior a 260 mil usuários. Ou seja, a prefeitura do Rio estaria subsidiando o sistema. “Hoje, tem apenas 60 mil (passageiros por dia), e a Prefeitura do Rio tem que pagar o resto. Estamos procurando fazer um equilíbrio do contrato, porque é muito caro pagar 200 mil passagens todos os dias“.
A pendência atrasou o início da operação da Linha 3 do VLT Carioca, que liga a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont pela Marechal Rondon. A própria prefeitura chegou a anunciar que a operação poderia já começar em dezembro passado.
Com as obras concluídas, no entanto, um impasse impediu que o trecho entrasse logo em operação.
A Concessionária VLT carioca condicionou a inauguração ao pagamento das obras feitas, o que a prefeitura contestou.
O prefeito Marcelo Crivella justificou o não pagamento a um detalhe contratual: o VLT transporta hoje 60 mil passageiros por dia, quando o contrato inicial previa cerca de 260 mil.
Para aumentar a demanda do VLT, Crivella decidiu retirar os ônibus municipais da região central do Rio de Janeiro em fevereiro.
Diário do Transporte