Do ativismo ao negócio. Foi assim que surgiu a startup Pedivela, premiada nessa quinta-feira (7) com o prêmio internacional Clean Energy Challenge, que conta com respaldo do secretariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para Mudanças Climáticas.
Pedivela: a bicicleta como alternativa de negócios – créditos: Divulgação/ Pedivela |
Criada como projeto piloto em Vitória, a empresa se transferiu para São Paulo e em cerca de 90 dias úteis de atividade já entregou aproximadamente 40 mil pacotes na capital paulista utilizando bicicletas, o que contribui para diminuição da emissão de gases que provocam o efeito estufa e outros impactos.
Rafael Darrouy, criador do projeto, começou a usar a bicicleta como meio de transporte quando morou no Canadá, impressionado com a estrutura e praticidade. Mas quando voltou a Vitória e montou na sua bicicleta, notou várias dificuldades. Um vídeo registrou um atropelamento que sofreu, com um carro passando por cima de sua bike.
Depois de alguns anos de ativismo, participando da fundação do Ciclistas Urbanos Capixabas (CUC), que representou um importante momento de mobilização e conquistas em torno da luta por mobilidade na capital capixaba, ele pensou em outra forma de impactar e colocar mais bicicletas nas ruas. “Chegou uma hora que fiquei de saco cheio de enfrentar as forças econômicas e fiquei pensando em como faria para as pessoas ganharem dinheiro com bicicleta. Aí a gente criou a Pedivela para substituir pequenos caminhões por bicicletas”, conta Rafael.
Entregas em bicicleta
A Pedivela surge então em 2014, como uma empresa de transporte e entregas em bicicleta, mas ao longo do tempo mudou seu modelo de negócio. “Hoje somos uma empresa de tecnologia que conecta ciclistas autônomos, que são donos de seu próprio negócio, a transportadores e também a um armazém e uma empresa que aluga as bicicletas. Nenhum desse ativos é da Pedivela”, conta. O que a empresa desenvolve são softwares para facilitar e otimizar esse contato, além da busca de tecnologia e inovação.
Atualmente são 70 “bikelovers” ativos que realizam as entregas em São Paulo, além de uma lista de mais de 6 mil pessoas cadastradas em espera. De acordo com a Pedivela, os ciclistas chegam a ganhar R$ 3,5 mil por mês com o trabalho.
Em São Paulo a empresa quer começar a operar este ano com 12 estações autônomas, que possam receber as entregas de mercadorias e encaminhá-las para distribuição pela cidade por meios das bicicletas e ciclistas.
“O container é automático e faz todo processo. A ideia é ocupar espaços ociosos das cidade, embaixo de viadutos, em áreas degradadas, nossa pegada é a humanização da cidade, a gente vem disso, no final das contas tudo surgiu para colocar mais bikes na rua, reduzir os riscos dos ciclistas”.
Rafael Darrouy aponta que o projeto de automação fez com que a Pedivela fosse uma dos 20 premiados no Clean Energy Challenge, que teve 452 inscrições propostos por pessoas de 52 países. Além de um prêmio de 10 mil euros (mais de R$ 43 mil) e a participação num programa de aceleração com duração de quatro meses e parte das atividades realizadas presencialmente em Amsterdã, na Holanda.
“É um prêmio extremamente importante porque por trás estão grandes empresas por meio da Fundação Ikea, por exemplo, com um júri formado por pessoas bastante importantes, como uma diretora da Tesla”, diz o empreendedor, que enxerga a possibilidade estabelecer contatos e adquirir novos conhecimentos como mais importante do que a parte financeira, já que a startup tem conseguido captar investimentos em São Paulo.
“A gente fez um piloto em Vitória que foi bem sucedido, os indicadores de performance operacional foram muito bons. Mas precisávamos de rodadas de investimentos grandes e esbarramos sempre nos mesmos grupos econômicos, que queriam controle de 90% da empresa, o que é absurdo para esse tipo de negócio, pois não permite captações maiores”, explica.
Não só a falta de um ambiente de negócios e investimentos, mas também a possibilidade de atender a uma demanda muito maior levou a empresa a se transferir e tentar a sorte em São Paulo. Com as dificuldades em Vitória, a empresa preferiu apostar todas as fichas no novo local de atuação e encerrou atividades no Espírito Santo, ao menos por enquanto.
“Em São Paulo o problema que a gente resolve é bem maior e é mais fácil lidar com o mercado de investimento, pois os investidores entendem o que é um fenômeno empreendedor, temos conseguido boas captações”, conta Rafael, que não descarta que a empresa volte a operar no Estado em que nasceu, o que poderia ocorrer com a instalação de uma filial, embora ainda não seja um horizonte próximo.
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