Fortaleza faz testes com ônibus sem cobrador e sindicato teme desemprego

Foto: Igor de Melo (prefeitura de Fortaleza)
O temor pelo desemprego, com a utilização com cada vez mais frequência de meios eletrônicos como forma exclusiva de pagamento nos ônibus urbanos, é a grande preocupação dos sindicatos de rodoviários de todo o país.
O caso recente de Curitiba, onde um projeto de lei municipal apresentado há poucos dias prevê a extinção progressiva da função de cobradores na capital paranaense, repete-se agora em Fortaleza.

Em Curitiba, o projeto de lei do executivo acena com uma “modernização” do sistema de bilhetagem, o que eliminaria o uso do dinheiro no interior dos veículos, extinguindo de vez a necessidade da figura do cobrador, além de eliminar a figura da dupla função (quando o motorista é obrigado a receber o pagamento da tarifa).
Em Fortaleza a extinção do cobrador ainda não é objeto de lei, mas preocupa o sindicato da categoria diante de testes que começaram a ser realizados esta semana numa linha de ônibus da capital cearense. Os veículos que rodam na linha escolhida como piloto aceitam apenas pagamento eletrônico – vale transporte, bilhete único ou carteirinha de estudante (com crédito).
Trata-se da linha 150 (Siqueira/ Papicu/ Washington Soares), que circula sem a figura do cobrador nos ônibus e, portanto, não pode ser utilizada por passageiros que desejam pagar a tarifa em dinheiro.
Assim como em Curitiba, os trabalhadores representados pelo Sintro –Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários do Estado do Ceará, temem pelo desemprego massivo de cobradores. Com a linha teste aprovada, o temor é de que 4.500 rodoviários perderão seus empregos no médio prazo.
Em entrevista ao jornal O Povo, do Ceará, o diretor presidente do Sintro, Domingo Neto, afirma não ter havido qualquer conversa a respeito dessa perspectiva entre sua entidade e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus). E relata o que, segundo ele, pode significar a retirada do cobrador dos ônibus para a segurança dos passageiros, indicando um acúmulo de funções para o motorista. “Com certeza não vai ter um serviço de qualidade para a população”, garante o dirigente sindical.
Segundo ele, mais acidentes podem ocorrer em ônibus em que o desembarque é feito pela porta traseira. E reforça a preocupação do acúmulo de tarefas para o motorista, citando que cerca de 460 deles já acumulam funções em Fortaleza e na região metropolitana. Esse número, com a possível mudança para o pagamento exclusivamente eletrônico, tende a aumentar.
Domingo Neto defende a presença do cobrador no interior dos ônibus como auxiliar do motorista, que não consegue manter-se atento, ao mesmo tempo, a tarefas simultâneas, como a situação do trânsito, o desembarque dos passageiros nos pontos e a liberação nas catracas. “Os motoristas não dão conta de lidar com um ônibus lotado sem cobrador”, afirma o sindicalista ao jornal O Povo.
A Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza- Etufor, que gerencia o sistema de transporte coletivo na capital do Ceará, esclarece em nota que o objetivo dos testes na linha 150 é “testar a tecnologia como favorecimento para a agilidade no embarque e desembarque, aumentando a velocidade dos coletivos, tornando a viagem mais rápida e melhor conectando os terminais do Siqueira e do Papicu, além de reduzir o dinheiro a bordo“.
A Etufor afirma ainda que a existência do projeto piloto não retira a opção de usuários que desejam pagar a tarifa em dinheiro, já que os ônibus que rodam na linha teste circulam simultaneamente com os da linha 50, que opera no mesmo percurso.
“O conceito se propõe a ser uma estratégia de operação de curto prazo, mantendo o serviço original do sistema, onde os cobradores estão presentes“, finaliza a nota.
Em Curitiba o processo está mais avançado do que em Fortaleza. Enquanto a Etufor não admite ainda a ausência futura do cobrador – justificando que as linhas sem esse funcionário atendem apenas a uma “estratégia de operação de curto prazo” –, em Curitiba o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana – Setransp, informa já estar negociando com Fecomercio e Senac a ampliação da oferta de cursos de requalificação para a categoria.
Ao mesmo tempo em que a convenção coletiva da categoria garante a estabilidade da função de cobrador até maio de 2019,  o Setransp, por meio de nota, admite que a adoção da nova bilhetagem poderá diminuir postos de trabalho.
De qualquer forma, a retirada dos cobradores do interior dos ônibus remete a outro ponto importante em tempos de crise econômica, perda de receita e queda no número de passageiros: o custo operacional.
Os empresários ressaltam a necessidade urgente de se romper um ciclo negativo que vem ameaçando a sobrevivência do setor: custos crescentes de operação acabam por impactar no aumento da tarifa, o que desestimula mais pessoas a utilizar o ônibus como modo principal de transporte. A qualidade do serviço cai e a competividade fica comprometida, diante da oferta de outros serviços com menor custo e maior conforto, como os aplicativos de transporte. Isso sem citar o estímulo ao uso do transporte motorizado individual.
Esse debate seguramente será central nos próximos anos. Ao lado da necessidade premente do transporte coletivo ser assumido como fundamental à vida e à economia das cidades pelas autoridades públicas.
Diário do Transporte

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