Ônibus deixam de transportar cerca de 2 milhões no estado do Rio

Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Entre 1,8 milhão a 2 milhões de pessoas deixaram de utilizar os ônibus nos seus deslocamentos diários em todo o estado do Rio de Janeiro de 2016 para cá, segundo a Fetranspor. Os coletivos que até 2015 transportavam 9 milhões de passageiros por dia agora levam 7 milhões, representando uma queda de até 22% no total de usuários transportados diariamente. A evasão de passageiros dos ônibus foi um dos temas da abertura, nesta quarta-feira, da 16ª edição do Congresso de Pesquisa e Ensino em Engenharia de Transportes do Estado do Rio de Janeiro – XVI Rio de Transportes, promovido pela Coppe/UFRJ, no Fundão.

Durante o evento, o diretor técnico da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Andre Dantas, mostrou dados de um diagnóstico nacional feito pela entidade feito com base na perda de passageiros de nove capitais brasileiras, incluindo o Rio de Janeiro. Os números apontam para uma evasão de 3,6 milhões de usuários diários do sistema de ônibus nestas cidades, em 2017. O número representa uma redução média de demanda de 9,5% com relação ao ano anterior. As capitais pesquisadas, além do Rio, foram Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiania, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
— A participação do Rio de Janeiro em toda a demanda nacional é muito considerável. Grande parte do que foi perdido aconteceu no estado do Rio — afirma Andre Dantas.
Segundo Richele Cabral, diretora de mobilidade da Fetranspor, a situação no estado do Rio piorou a partir de 2016, com o fim dos investimentos em mobilidade urbana feitos por conta de grandes eventos como a Olimpíada. A crise econômica nacional foi outro agravante, levando milhões de brasileiros a perder seus empregos. A falta de investimento em segurança pública também é apontada por ela como uma das razões para a evasão, já que por medo da violência as pessoas saem menos de casa. O resultado disso é que as pessoas acabam pagando mais por um serviço pior.
— A queda de passageiro eleva o custo do sistema. Você tem uma redução do número de passageiros e não consegue diminuir o custo da operação na mesma proporção, da noite para o dia, até porque tem alguns custos que são fixos. Aí, você tem de cobrar mais (pela tarifa) e as pessoas não têm condição de pagar e deixam de andar ( de ônibus) — argumenta Richele.
Segundo a diretora da Fetranspor, outros sistemas de transportes públicos como trem e metrô também tiveram perda de passageiros e isso mostra que muitos usuários deixaram de realizar viagens e buscam alternativas no automóvel, na motocicleta ou na bicicleta, entre outros. Sobre a possibilidade de a evasão ser provocada em parte pela má qualidade de conservação da frota, Richele alega que esses problemas também fazem parte do ciclo vicioso, já que evasão de passageiros implica na queda da receita das empresas e na consequente falta de recursos para investir nos veículos.
— Quando você está na crise, uma das primeiras coisas que as empresas param de fazer, até mesmo pela dificuldade de financiamento, é a renovação da frota, que acaba ficando envelhecida. Com isso, perde passageiros também. É um problema realmente — reconhece.
No caso específico do Rio, os engarrafamentos, sobretudo na Avenida Brasil, são apontados como um ingrediente a mais para justificar a queda de passageiros. Segundo Richele, há ônibus da Baixada Fluminense que antes faziam de três a quatro viagens diárias que agora só conseguem fazer uma de ida e volta, por conta dos constantes congestionamentos do trecho em obra, o que leva os usuários também a optarem por outros meios de deslocamento.
— Isso é custo para o sistema, pois temos de colocar mais ônibus da frota para suprir a ineficiência. São ônibus que ficam parados no engarrafamento e para dar regularidade aos deslocamentos é preciso colocar mais ônibus em circulação, utilizar mais motoristas e gastar mais combustível. Um ônibus de Nova Iguaçu para o Centro que antes fazia três viagens agora faz só uma. Ou seja, como ele fica parado já não consegue mais transportar o mesmo número de passageiros de antes.
O Globo

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