A priorização do transporte público coletivo sobre o individual é uma conquista importante para as cidades. Investir em corredores, sistema BRT (transporte rápido por ônibus) e faixas exclusivas é uma das alternativas mais eficazes para melhorar a qualidade dos serviços oferecidos aos usuários. Em Recife, esses projetos totalizam 113,7 km. Ao todo, são 58,2 km destinados às faixas e corredores exclusivos, dos quais 36,7 km de faixas azuis e 21,5 km de outras faixas e corredores. Os 55,6 km restantes servem ao transporte na Região Metropolitana do Recife. As informações são da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU).
As faixas exclusivas da capital pernambucana surgiram em 2013, com o projeto Faixa Azul, e facilitam bastante a vida dos usuários que trafegam pelas avenidas Recife, Mascarenhas de Moraes, Herculano Bandeira, Engenheiro Domingos Ferreira, Conselheiro Aguiar, Antônio de Góes e Estrada dos Remédios, além das ruas Real da Torre e Cosme Viana. Funcionando de segunda a sexta-feira, das 6h às 22h, as faixas azuis beneficiam mais de 100 linhas e 700 mil passageiros diariamente. A CTTU informa ainda que o total de faixas exclusivas para o transporte público existente no município era de apenas 20,5 km em 2013, tendo sido ampliado em mais de 180% de lá para cá.
O presidente da Urbana, sindicato que responde pelas empresas operadoras de ônibus do Recife, Fernando Bandeira, aponta que o maior benefício dessas faixas está no ganho de velocidade. “É possível circular por mais vezes com a mesma frota, o que nos ajuda a atender melhor e no menor tempo possível. Esse é um benefício para os usuários e também para as empresas de transporte, além de ser um investimento pequeno e fácil para o poder público”, diz. Na Avenida Herculano Bandeira, por exemplo, o ganho chegou a 118%, com a velocidade dos coletivos passando de 11km/h para 24km/h em média.
Bandeira também enxerga o investimento nos projetos de priorização do transporte coletivo por ônibus como um grande impulso para a recuperação do setor, que sofre há vários anos com a queda de demanda de passageiros. “O usuário quer um transporte de qualidade e com os benefícios proporcionados por iniciativas como as faixas exclusivas. Essa realidade fica mais próxima, fazendo com que o serviço fique, consequentemente, mais atrativo para a população”, conclui.
No entanto, mesmo com todos os benefícios das faixas exclusivas, o transporte público do Recife ainda tem muito trabalho pela frente. O advogado e servidor público Cezar Martins, 41 anos, utiliza o transporte público para ir ao trabalho, mas afirma preferir outro meio de transporte quando está na zona norte da cidade. A região possui a maior parte da malha viária formada por trechos de trânsito misto, o que faz Cezar não considerar o ônibus uma boa opção para o percurso.
Para ele, é necessário estender as faixas exclusivas para essa região e continuar investindo na priorização. “É preciso acreditar que as pessoas vão mudar de modal com as faixas exclusivas. Com uma pequena parte dos motoristas mudando, já compensa o espaço retirado para circulação do automóvel, e a cidade como um todo começa a ter uma locomoção mais eficaz”, defende o usuário.
Parceria no trabalho
O avanço atual na qualidade do serviço de transporte público de Recife é resultado de um trabalho em conjunto da prefeitura com a Urbana e com o governo do Estado. O sindicato colabora com projetos e estudos sobre a priorização; já a prefeitura investe na implantação das faixas azuis e na integração com o serviço de corredores e sistema BRT oferecido pelo Estado.
O secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, aponta que as faixas azuis estão sendo conectadas também aos BRTs para garantir maior priorização do transporte coletivo por meio da integração entre os sistemas. “Ao fazer esse trabalho articulado, é utilizada uma estratégia que favorece muito o transporte público de passageiros. Essa contribuição é o que pode tornar o espaço mais justo, correto e democrático”, avalia.
João Braga comemora as mudanças do transporte público do Recife e afirma que o sistema está melhorando bastante em meio aos desafios. “O investimento na priorização é nosso objetivo de trabalho. Já solucionamos muitos impasses que obstruíam a passagem dos ônibus, principalmente em áreas comerciais. Não é uma tarefa fácil, mas o avanço é visível”, fala. O secretário ainda acredita que, com a instalação do restante das estações e terminais de integração no centro da cidade, o transporte terá uma melhora ainda mais significativa.
E o BRT?
Custo alto de manutenção, quebra constante dos equipamentos, depredações das estações e obras que não acabam são os principais desafios enfrentados pelo sistema BRT em Recife. Fora todas essas questões, ainda existem os problemas classificados como pontuais pelo diretor de operações do Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), André Melibeu.
“Tivemos recentemente um problema no pavimento do corredor Norte/Sul, e a empresa responsável abandonou a obra. A construção de duas estações está parada pelo mesmo motivo”, conta. O problema de pavimentação obriga os ônibus BRT, num determinado ponto, a fazer um desvio que sequer está asfaltado.
A cidade possui dois corredores de BRT, divididos em Norte/Sul e Leste/Oeste. O primeiro possui extensão de 33 km, enquanto o outro tem 12 km. No caso do corredor Norte/Sul, apenas 17 km estão segregados e, no Leste/Oeste, a separação está presente em somente 7 km, o que faz com que, em determinados trechos, os veículos BRT circulem na mesma faixa que ônibus convencionais e, até mesmo, carros particulares. Segundo André Melibeu, a falta de segregação total é o que faz com que o sistema ainda não esteja implantado da forma como foi planejado. “O melhor dos mundos nesse momento seria atingir corredores completamente segregados para conseguirmos atingir as velocidades planejadas, já que estamos bem abaixo do que foi projetado”, reforça o diretor de operações do GRCT.
NTU