Sucata sobre rodas: ônibus do Rio rodam com bancos soltos e sofrem panes frequentes

Foto: Guilherme Pinto / Extra
Pneus carecas, bancos soltos ou quebrados, elevadores para cadeirantes com defeitos e muita sujeira. Apesar de a frota do Rio ser relativamente nova — a média de vida útil é de 5,3 anos, segundo a prefeitura —, problemas como esses, relatados pelos usuários e constatados pelo EXTRA, denunciam a má conservação dos veículos. Embora haja queixas de passageiros de outros pontos da cidade, a situação é pior nos bairros da Zona Oeste.

Dos 7.160 ônibus que compõem a frota municipal, 132 não deveriam mais estar nas ruas por já terem ultrapassado o tempo máximo de vida útil, que, de acordo com o contrato assinado com os consórcios em 2010, é de oito anos. Mas, mesmo veículos “dentro da validade” apresentam graves problemas mecânicos e de falta de manutenção.
É o caso de um ônibus da linha 885, em Santa Cruz. Segundo o motorista, que não quis se identificar, o veículo fabricado em 2011 deixa de circular pelo menos três vezes por mês devido a problemas mecânicos. Na última vez, quinta-feira passada, o EXTRA flagrou a pane.
— É complicada a situação desses ônibus. Pelo trajeto, que é longo, deveriam ser mais confortáveis, mas é só sucata — reclama o passageiro Cristiano Apolinário, de 20 anos.
Um dos casos mais graves observados pelo EXTRA foi num ônibus da linha 892, no mesmo bairro, com bancos soltos e sem encosto. O problema da frota se reflete em longa espera no ponto. Em Campo Grande, os passageiros da 825 se queixam: dos quatro coletivos que pararam no período de uma hora e meia, dois apresentavam problema mecânico, um deles no elevador de cadeirantes. Além disso, alguns micro-ônibus que deveriam ter ar-condicionado, rodam com janelas abertas pois o equipamento está com defeito.
Foto: Guilherme Pinto / Extra
A aposentada Aldenora Alves Oliveira, de 65 anos, moradora de Pedra de Guarativa e usuária do 885, conta que já reclamou da situação com um motorista.
— Entrei no ônibus e perguntei para o motorista por que o veículo estava tão sujo. Ele me respondeu, com ironia, que tinha acabado o sabão. Eu disse que tinha acabado era a vergonha dos responsáveis pela linha. A sujeira é apenas um dos problemas que enfrentamos. É o que está mais à vista, mas não é só isso. É um absurdo a situação desses ônibus. Eles estão muito ruins por falta de manutenção, e quem mais sofre somos nós, os passageiros. Dão defeito a toda hora, por isso demoram tanto. Chegar no ponto e sair logo é questão de sorte — desabafa.
Aviso de parada no grito
Moradora da Estrada Vitor Dumas, em Santa Cruz, a dona de casa Paula Ganjão, de 43 anos, já sabia que quando estivesse perto de descer do ônibus 892 o alerta para o motorista parar seria no grito. A falta da corda da campainha era só um dos muitos problemas. A passageira ficou surpresa também ao deparar com um banco sem encosto e outro com o assento solto, na parte traseira . Isso sem falar nas inúmeros pichações tomando até o teto do veículo. O motorista culpou os estudantes pelo vandalismo. A usuária discorda.
— É falta de manutenção. A gente precisa trazer as crianças para a escola e não tem conforto nenhum. Tem que trocar a frota. Não é culpa dos passageiros. Essa linha já teve ônibus com ar-condicionado, mas sumiram todos. Hoje é só carro velho — afirmou.
Uma consulta no sistema do Detran pela placa do veículo mostra que ele também está com a vida útil em dia, apesar do mau estado de conservação. O coletivo foi fabricado em 2012. Além da longa espera, os passageiros do 825, que mofaram no ponto final em Campo Grande, ao serem deixados para trás por três ônibus que apresentaram problemas, embarcaram no quarto coletivo, que também não era dos melhores em termos de conservação. O veículo estava com vários bancos soltos, conforme reclamaram as passageiras Denise Pinho de Barros, de 59 anos, e Edilene da Silva, de 45. Em Marechal Hermes, usuários da 738 também reclamaram do sucateamento da frota.
Foto: Guilherme Pinto / Extra
Respostas
A Secretaria Municipal de Transportes informou que o consórcio responsável pela operação dos ônibus da Zona Oeste foi autuado 16 vezes por má conservação da frota somente nos últimos meses.
O Consórcio Santa Cruz informou que as empresas que operam as linhas citadas “estão entre as que mais sofrem com a pior crise econômica já enfrentada pelo setor de transporte por ônibus do Rio” e têm perdido a capacidade de investir na frota por não conseguirem repor os custos básicos.
Extra – RJ

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Pular para o conteúdo