Prefeito mantém decisão de dar aumento maior para o ônibus com ar-condicionado no Rio

O prefeito Marcelo Crivella informou nesta quarta-feira que, apesar das críticas de especialistas em transporte, vai manter a ideia de dar um reajuste maior para as passagens de ônibus com ar-condicionado no Rio. Ao sair de reunião com o presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, ele explicou que a ideia é, enquanto o estudo da Pricewaterhouse não fica pronto, aplicar a correção integral do IPCA de 2016 e 2017 ao chamado frescão e não corrigir as tarifas dos ônibus sem ar-condicionado.

— Não de pode comparar alhos com bugalhos. Frescão é frescão e quentão é quentão. Se não se estabelecer uma diferença, os empresários não vão se apressar para pôr ar-condicionado nos quentões. O quentão precisa virar frescão — disse Crivella.
Ele disse que também não quer quebrar as empresas, e por isso pretende dar o reajuste antes mesmo do fim da auditoria que encomendou no sistema. O prefeito disse que o Rio “tem as passagens mais baratas no Brasil”. Mas a ideia é recompensar as empresas que investiram nos frescões. O prefeito disse ter lido sobre as críticas de especialistas do setor, mas disse que manterá seu planejamento.
Ontem, no Rio, Crivella afirmou que a população “vai aplaudir” se o aumento no preço das passagens de ônibus municipais for só para os veículos com ar-condicionado. De acordo com ele, a diferença nas tarifas de “quentões” e “frescões” seria um incentivo para que as empresas climatizassem toda a frota. Segundo o prefeito, diante da pressão dos empresários, ele estaria disposto a conceder o aumento apenas para quem investir.
RIO ÔNIBUS CRITICA: ‘SEGREGAÇÃO SOCIAL’
Em nota, o Rio Ônibus defende simplesmente o cumprimento do contrato de concessão celebrado entre a Prefeitura e os consórcios Santa Cruz, Transcarioca, Internorte e Intersul, em 2010, que prevê reajustes anuais da tarifa única dos ônibus urbanos do Município do Rio de Janeiro. “Uma tarifa de valor justo e comprovadamente técnico seria aquela proveniente dos cálculos por empresas de renome internacional. Vale destacar que o próprio prefeito Marcelo Crivella admitiu que a tarifa em R$ 4 reflete um cálculo atualizado do valor da passagem dos ônibus urbanos do município”, diz a nota.
Para o Rio Ônibus, a proposta é contraria à decisão do próprio município – que unificou o valor das tarifa em 2013. “Além de pôr em risco o sistema de integrações, a medida pode ser considerada uma prática de segregação social, visto que impedirá que todos os passageiros tenham acesso a um mesmo serviço, e de maior qualidade.”
Especialistas também criticam a medida. Para o presidente da Comissão de Trânsito da OAB-RJ, Armando de Souza, a diferenciação na tarifa seria um retrocesso ao direito conquistado pelo passageiro:
— É um retrocesso ao direito conquistado pelo passageiro-consumidor. Sou da opinião de que todos os ônibus devem se refrigerados por causa da natureza climática da cidade. O prefeito, ao sugerir essa modificação, contraria direitos conquistados e demonstra um preconceito em relação às pessoas que não têm condição de pagar mais caro para circular num ônibus com ar-condicionado. É um retrocesso.
Já o professor de Engenharia de Transporte da PUC-Rio José Eugênio Leal, acredita que a tarifa diferenciada possa despertar o interesse dos empresários do setor em cumprirem a meta, “desde que a diferença valha o investimento”, ressalta. Apesar disso, Leal critica a sugestão do governo municipal que, para ele, deixará o passageiro mais confuso:
— É bem confuso. Na mesma linha você vai pagar preço diferente porque há ônibus com e sem ar-condicionado. Ideal seria uma tarifa única que equilibre o conjunto de ônibus com e sem climatização, lembrando que as empresas deveriam ter climatizado toda a frota para a Olimpíada — destacou o professor em entrevista ao GLOBO.
O Globo

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