Trânsito: Soluções passam por transporte público

“Toda cidade, com certo grau de riqueza, tem e vai ter trânsito. Não existe cidade próspera que não tenha trânsito ou tráfego intenso em algum horário do dia”, afirma o professor Rubens Ramos, do Departamento de Engenharia Civil da UFRN. Especialista em Engenharia de Transportes, Ramos assegura que o sistema viário que atende as zonas Leste e Sul de Natal “está adequado. Tirando os atos políticos, acidentes, e um ou outro evento que acontece em vias públicas, o congestionamento do trânsito em Natal dura 1 hora” – mesma média verificada em cidades como Curitiba (PR), considerada modelo de organização viária.
Foto: Aléx Regis – Tribuna do Norte

Nas zonas Norte e Oeste, onde o número de carros por habitante ainda é baixo, é que o impacto do aumento da frota deverá ser mais percebido. Para o professor, o maior problema do trânsito no Brasil não está diretamente vinculado ao fato das pessoas possuírem ou não um carro, e sim à ausência de opções de transporte coletivo “com qualidade, conforto, segurança e eficiência”.
Na Europa, de acordo com ele, mesmo com uma frota maior de veículos, há menos congestionamentos que no Brasil. “Por lá não existe essa história do aluno ir para a universidade de carro, onde, muitas vezes, passa o dia inteiro estacionado. Nos países desenvolvidos, esse movimento é absorvido por um transporte público de qualidade. O carro atende os movimentos aleatórios, as viagens e dias de lazer. O uso excepcional é perfeito!”.
O especialista destaca que dois terços dos movimentos nos dias úteis são para lugares fixos: casa, trabalho e escola. “Esse tipo de demanda deve ser atendido pelo transporte público. Usar o carro de maneira regular é um erro”. 
De acordo com estudos realizados por Rubens, Natal possui três vezes e meia mais ônibus que Genebra, na Suíça, mas transporta apenas a metade dos passageiros. “Temos excesso de linhas, excesso de ônibus, paradas lotadas, ônibus vazios circulando ao lado de outros lotados. Tudo isso reflete um sistema com funcionamento irracional que não atende as necessidades. Ou melhora ou vai à falência, não dá mais para empurrar o transporte público em Natal com a barriga”.
Ele lembrou ainda que “não há estímulo financeiro para o consumidor brasileiro adquirir um veículo”, o grande incentivo é para se driblar a problemática do transporte público deficiente. No Brasil paga-se entre 48,2% a 54,8% de impostos sobre o valor de um carro, enquanto nos Estados Unidos esse índice é de 7,5%, no Japão 5%, na Alemanha 19% e na Argentina 21%).
Gargalo sobre o Potengi
Um detalhe importante elencado por Ramos, que deve ser considerado pelos órgãos responsáveis pela gestão e planejamento da estrutura viária, é o crescimento desigual da frota: enquanto nas zonas Leste e Sul de Natal a densidade de carros por habitante está estabilizada, o potencial de crescimento verificado nas zonas Oeste e Norte “pode inviabilizar completamente, na próxima década, a travessia do Rio Potengi. O impacto desse aumento na frota será muito mais sentido nessas áreas”.
Para o especialista em Engenharia de Transportes, “ainda falta às pessoas” cultura para absorver a nova dinâmica urbana da cidade. “Não existe mais o ir e voltar em qualquer horário sem trânsito. A cada ano vemos um aumento da densidade de habitantes nas cidades, é uma tendência mundial”.
Em 2016, de acordo com dados do IBGE, a capital potiguar somou 877,6 mil habitantes (ou 25,5% dos 3,44 milhões de habitantes do RN), que resultam em 5.247 habitantes por km² – densidade demográfica equivalente à Madri na Espanha e Lisboa em Portugal. Já a frota natalense alcançou 393.584 veículos licenciados, em todas as categorias, até o dia 20 de dezembro segundo o setor de estatística do Detran-RN, o que representa 31,95% dos 1,231 milhões de veículos que circulam no Estado.
O professor ressaltou que, na última década, em todo o País, houve uma expressiva motorização – sobretudo nas regiões metropolitanas, que hoje concentram 37,7% da população brasileira e 66,9% de todos os veículos em circulação no País.
Nova ponte
O secretário adjunto de Transporte de Natal, Walter Pedro, explica que está em estudo a construção de uma nova ponte sobre o Potengi, ligando o Baldo na zona Leste à Av. Itapetinga na zona Norte. Atualmente, em dias úteis, o fluxo na Ponte de Igapó ultrapassa os 70 mil veículos, enquanto a Ponte Newton Navarro recebe em média 39 mil/dia. Walter Pedro avalia como saturada a situação em Igapó, e adianta que em mais uma década a Newton Navarro atinja o limite de 60 mil veículos por dia.
“Esse tipo de projeto (para construir uma nova ponte) precisa ser pensado agora, para que daqui alguns anos aconteça”, sentencia o gestor. A frota de veículo do RN triplicou entre 2005 e 2017, passando de 407,3 mil para 1,23 milhões.
Crescimento da frota de veículos/Evolução em Natal e RN (todas as categorias):
. Natal
ano       frota   variação %
2005 179.451
2006 195.122 (8,73%)
2007 214.213 (9,78%)
2008 235.553 (9,96%)
2009 256.065 (8,70%)
2010 279.499 (9,16%)
2011 298.901 (6,94%)
2012 315.023 (5,39%)
2013 338.699 (7,52%)
2014 355.561 (4,98%)
2015 368.777 (3,72%)
2016 382.724 (3,78%)
2017* 393.594 (2,12%)
. RN
2005 407.356
2006 456.918  (12,17%)
2007 520.984  (14,02%)
2008 587.411  (12,75%)
2009 653.020  (11,17%)
2010 731.501  (12,02%)
2011 804.454  (9,97%)
2012 884.239  (9,92%)
2013 965.572  (9,20%)
2014 1.041.629 (7,88%)
2015 1.108.592 (6,43%)
2016 1.180.255 (6,46%)
2017* 1.231.812 (3,36%)
Crescimento médio em 2014 
Brasil 6,76%
SP 5,73%
RS 5,2%
Provas práticas realizadas pelo Detran-RN para concessão de novas habilitações em 2017*:
38.448 – aprovados
14.394 – reprovados (27,2%)
52.842 – total
Carteiras de habilitação apreendidas nas Operações Lei Seca:
2016 – 2.335 CNH
2017 – 2.900
Carros por habitante:
. 2017
Natal
2,79 – considerando veículos particulares (carros e motos)
3,94 – considerando apenas carros particulares
RN
3,61 – veículos particulares (carros e moto) 
6,49 – carros particulares
. 2016
As cinco cidades com a maior média por habitante, considerando apenas carros particulares
Curitiba – 1,8
Belo Horizonte – 2,1
Florianópolis – 2,2
São Paulo – 2,2
Goiânia – 2,5
>> média Brasil – 4,8
Idade média da frota de veículos em 2016:
Brasil – 8,7 anos
EUA – 11,5 anos
Alemanha – 9,4 anos
*Até 20 de dezembro
Fonte: Detran-RN
Tribuna do Norte

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