Em tempos de crise, em que empresas de transporte coletivo têm passado por situação econômico-financeira difícil, o mercado oferece novas tecnologias que buscam contribuir para a redução do consumo de diesel – o segundo maior item de custo das operadoras de ônibus urbano. Esse insumo representa 23% das despesas do setor, segundo dados da NTU.Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, nos últimos 18 anos (1999-2017), a variação acumulada dos preços do óleo diesel foi 214,1% maior que a variação acumulada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em comparação ao custo da gasolina, principal combustível do modo de transporte individual e motorizado, a variação acumulada do óleo diesel foi 191,3% superior.
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Diante desse cenário, a Revista NTU Urbano conversou com a indústria para saber as últimas tendências de mercado e novidades sobre produtos e serviços que contribuem para a redução do consumo de combustível e, consequentemente, dos custos das operadoras do transporte urbano.
NOVOS MOTORES
Novos chassis, com tecnologia que favorece um melhor desempenho do motor, contribuem para a redução no consumo do diesel. É o caso do novo ônibus B250R da Volvo, que, com o motor MD8, chega a economizar até 3% no consumo de combustível em relação ao modelo anterior. Por ser fabricado em Curitiba (PR), proporciona uma redução de até 4% no custo de manutenção, segundo o fabricante.
De acordo com Renan Schepanski, engenheiro de vendas da Volvo, a redução acontece devido à otimização do mapa de injeção de combustível do motor para as aplicações urbanas. O hardware de motor (componentes construtivos do motor 8 litros), potência e torque também são otimizados. Dependendo da aplicação, o intervalo de troca de óleo do motor pode chegar as até 40 mil quilômetros.
“Torque plano em uma larga extensão de rotação do motor garante redução do consumo de combustível. Com isso, motoristas menos experimentados também podem obter performance próxima aos motoristas de referência da frota. Além de tudo isso, as caixas de câmbio e eixos trativos também são otimizados para a aplicação urbana. A interação entre motor, caixa e eixo garantem menos trocas por quilômetro e trocas em menores rotações. A somatória de tudo isso ao grande desenvolvimento de engenharia, incluindo testes e simulações, garantem a performance e economia”, explica Schepanski.
Outra tecnologia que chegou no mercado, em agosto deste ano, foi o sistema de desligamento automático do motor chamado de EIS (Engine Idle Shutdown), da Mercedes-Benz. Os novos modelos de ônibus fabricados pela empresa sairão de fábrica com o sistema de desligamento automático do motor, que funciona da seguinte forma: após 4 minutos com o motor ligado, com o câmbio no ponto morto e freio de mão acionado, sem que o motorista acelere o veículo ou acione o freio de serviço, ocorre o desligamento. Esse sistema pode proporcionar até 2% de economia de combustível.
Segundo Walter Barbosa, diretor de Vendas e Marketing de Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, esse sistema colabora para minimizar uma situação bastante comum em garagens, rodoviárias, terminais urbanos e pontos de parada. “Nessas circunstâncias, o EIS entra em ação, proporcionando economia no consumo de combustível, além de reduzir as emissões de poluentes e de ruídos. Essa solução acaba por contribuir para a conscientização do motorista quanto à necessidade de se desligar o motor se o veículo ficar parado por um tempo prolongado”, explica.
Como exemplo, a montadora fez um comparativo de cálculo utilizando a frota de ônibus da capital paulista, que é de, aproximadamente, 14.700 veículos, e um preço do diesel de R$2,60 o litro, ainda sem a elevação da tributação do PIS/Cofins. Se todos os ônibus ficassem 30 minutos parados com o motor funcionando, todos os dias, seriam gastos três litros por hora. Esse consumo representa, ao final de um ano, um gasto de R$ 21 milhões, dinheiro suficiente para comprar 40 novos ônibus tipo Padron.
OUTRAS TECNOLOGIAS E SERVIÇOS
Recentemente, a Volvo lançou uma consultoria para orientar as empresas de ônibus no uso da ferramenta Fleet Management, lançada em 2012. O serviço auxilia os operadores de transporte no acompanhamento da operação e da posição dos veículos em tempo real. Os dados gerados pelo sistema oferecem ao transportador uma visão completa da operação, por veículo e por motorista, o que permite adotar uma série de ações que contribuem para garantir maior eficiência à operação e redução dos custos operacionais.
De acordo com informações de Vinícius Gaensly, responsável por serviços conectados da Volvo Bus Latin America, a ferramenta foi aprimorada para emitir relatórios ainda mais inteligentes e automatizados; o formato da consultoria consiste em avaliar a operação do cliente e identificar o potencial de redução de combustível de acordo com os dados gerados pelos veículos.
Caso seja identificada condução inapropriada, por parte dos motoristas, que eleve a média de consumo dos veículos, esses profissionais são treinados para terem uma condução mais econômica. “Durante 90 dias, com as informações geradas no sistema, é identificado tudo o que é possível ser melhorado na operação da empresa e na redução de combustível, para que a eficiência e o resultado sejam melhores”, explica.
Durante seis meses foram feitos testes com quinze ônibus da empresa Visate, de Caxias do Sul (RS). Os resultados apontaram uma redução de 7% no uso de combustível. Esse percentual, representaria, em uma frota de 100 veículos, uma economia de R$ 876 mil em um ano.
Já a MAN Latin America está trabalhando com a tecnologia EGR (Exhaust Gas Recirculation) desde a obrigatoriedade de redução de emissões do Proconve P7, em 2012; a tecnologia dispensa o uso de Arla 32 – reagente que é usado para reduzir quimicamente as emissões de óxidos de nitrogênio presentes nos gases de escape dos veículos a diesel – e beneficia não só a redução de custos e de operação do veículo, mas também a infraestrutura e o tempo de abastecimento nas garagens.
“Mesmo diante dos benefícios da tecnologia EGR, e cientes da especificidade de cada operação nesse grande território, temos equipes especializadas e procedimentos que auxiliam no desenvolvimento contínuo de ações visando a redução do consumo e melhoria do custo operacional dos nossos parceiros”, relata Ricardo Yada, supervisor de marketing da MAN Latin America.
A tecnologia EGR está presente em seis modelos de chassis da Man (15.190 OD, 15.190 ODR, 17.230 OD, 17.230 ODS, 17.280 OT, 18.280 OTS LE) e a economia gerada varia em função da rota, quantidade de passageiros e outras variáveis.
Matéria publicada na Revsita NTU Urbano, edição setembro/outubro 2017*
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