O assunto é polêmico e antigo nos transportes. É correto o passageiro que anda somente em um trecho da linha de ônibus pagar a tarifa inteira, afinal, em tese ele “usou menos o transporte”? Ou a cobrança proporcional poderia prejudicar quem mora mais longe e, habitualmente tem renda menor, e passaria a pagar mais?
Como equilibrar os já complicados repasses e remuneração pelos serviços de transportes, cujas planilhas hoje já são confusas mesmo com tarifas únicas nas linhas? E o papel social dos transportes? Hoje, existe um subsídio cruzado nas tarifas quanto à distância percorrida: quem paga e anda pouco ajuda a deixar mais barata a passagem de quem fica mais tempo no ônibus. Por exemplo: uma tarifa de R$ 4,30, de a cobrança fosse proporcional ao uso, que anda pouco poderia pagar R$ 2,00, mas quem mora mais longe, poderia ter de desembolsar até R$ 5,50.
É justo isso?
Mas quem anda menos é obrigado a pagar por quem anda mais?
Esse equilíbrio não é o poder concedente quem deveria proporcionar?
Mas como faria isso? Por subsídios diretos? E a questão dos cofres públicos, sem dinheiro para saúde, educação e os próprios transportes, com obras insuficientes de corredores de ônibus, por exemplo, como ficaria?
A questão é tão polêmica que já foi capaz de mudar cenário eleitoral na capital paulista, numa época não muito distante.
Na campanha de 2012, o deputado Celso Russomano, que pleiteava a prefeitura de São Paulo e liderava as pesquisas de intenção de votos, apresentou uma proposta de mudar o Bilhete Único, com cobranças de tarifas diferentes de acordo com o trecho percorrido.
Numa entrevista na época, ao Jornal O Globo, cientista político Claúdio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas, considerou suicídio na campanha, do ponto de vista eleitoral, a proposta de Russomano de tarifar com preços diferentes os passageiros de ônibus de acordo com a distância percorrida.
“A bala de prata, na verdade quase um suicídio, foi a proposta de tarifar o ônibus com base na distância percorrida. Foi uma proposta equivocada. Quando atacado sobre isso, a resposta dele foi vaga e isso explicitou a baixa densidade.” – disse.
Também cientista político, Antonio Carlos Almeida, autor do livro “A Cabeça do Eleitor”, disse que a proposta mostrou amadorismo eleitora de Russomano, na ocasião.
“O Bilhete Único é bem aceito pela população. Não se mexe com uma coisa dessa. O Russomanno perdeu por causa dessa ideia. A proposta mostrou que a campanha era amadora.” – explicou.
Ambos apontam a proposta como mais fatal à candidatura de Russomano a proposta de cobrar passagens de ônibus diferentes por trecho que a ligação de seu partido com a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, que tem milhões de seguidores no Brasil, mas também tem milhões de pessoas que se antipatizam com a denominação neopentecostal.
O que muitos especialistas defendem é que algumas linhas, principalmente as mais extensas e as metropolitanas, possam ter faixas tarifárias controladas por meio da tecnologia.
Não é raro, ainda pelo desenho de muitos sistemas de transportes, as linhas metropolitanas serem usadas para deslocamentos municipais.
De toda a forma, enquanto as discussões sobre equilíbrios financeiros e custeios ocorrem, a tecnologia deve ser desenvolvida para oferecer soluções confiáveis, caso seja indicada a cobrança de tarifas diferenciadas por trecho em determinadas linhas de ônibus urbanos.
Jovens de stratups (empresas de inovação) e profissionais estão desenvolvendo justamente isso no [E]Lab, laboratório de tecnologia da EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, em, São Bernardo do Campo.
A iniciativa de desenvolvimento tecnológico é de uma equipe que venceu a Maratona de Inovação 2017, promovida pelo Instituto Superior de Inovação e Tecnologia –Isitec, com a coparticipação da EMTU, vinculada à Secretaria de Transportes Metropolitanos.
A proposta consiste em colocar um validador na porta de entrada dos ônibus e outro nas saídas. Inicialmente, seria descontada toda a tarifa, mas na hora de desembarcar, seria devolvido o valor proporcional ao trecho não utilizado.
Muitos logo podem bradar. “Mas eu já vi isso… isso já existe ..”. ou comentar com um simples, irônico e pouco acrescentador… “Novidade?”
Mas, a novidade é a integração de todos os dados de embarque e desembarque e das tarifas proporcionais ao GPS dos ônibus e ao Gerenciamento e Supervisão – CGS, (o CCO da EMTU) com dados transmitidos em tempo real e com maior confiabilidade.
Os sistemas anteriores testados apresentaram falhas em relação à confiabilidade dos dados. Foram registrados descompassos entre os descontos tarifários e a geolocalização dos ônibus, por exemplo.
O trabalho da equipe de desenvolvimento terá auxílio de técnicos da EMTU, da Metra e do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia – Isitec.
FALA AÍ:
Outro projeto que está sendo desenvolvido no [E]Lab é o aplicativo de celular “Fala, aí” para passageiros da Metra, no corredor São Mateus-Jabaquara/Diadema-Brooklin.
Trata-se de uma ferramenta pela qual o passageiro poderá se comunicar com a empresa, em tempo real, durante a viagem e relatar impressões como lotação, limpeza dos ônibus e até mesmo casos de assédios.
Será um chat com resposta imediata dos funcionários. Chamado Infurbano, o aplicativo também poderá ser usado para os passageiros se informarem sobre linhas, trajetos e paradas.
A ideia é que quem tiver o software no celular se conecte no ônibus. Ao desembarcar, pela geolocalização, o programa se desconecta automaticamente. Isso evita que o celular gaste bateria sem necessidade e distorções como acionamento do chat sem os passageiros estarem no ônibus.
Como já noticiou o Diário do Transporte, no laboratório da EMTU também está sendo desenvolvido um aplicativo que mostra aos passageiros quais ônibus estão mais ou menos lotados na linha, para facilitar a escolha na hora de usar o transporte coletivo. Muitas vezes, vale mais a pena deixar um ônibus lotado passar e esperar o próximo mais vazio que já está bem perto. Mas essa decisão é difícil porque o passageiro hoje não sabe da lotação do próximo ônibus e nem sempre ao certo quando o veículo vai passar.
EMPRESA DE ÔNIBUS VAI BANCAR REFORMA DE LABORATÓRIO:
Inaugurado em julho deste ano, de forma improvisada, o [E]Lab, laboratório de mobilidade da EMTU, onde são desenvolvidas todas estas ideias deve passar por reforma para o espaço se tornar mais adequado.
De acordo com a coordenadora do Núcleo de Parcerias + Inovação da EMTU, Renata Veríssimo, à imprensa do Governo do Estado de São Paulo, todos os custos serão bancados pela Metra, empresa que opera ônibus e trólebus nos 45 quilômetros do sistema São Mateus-Jabaquara/Diadema-Brooklin.
“Teremos paredes envidraçadas, mobiliário ajustável a diferentes composições no ambiente e outras mudanças para tornar o espaço multiuso e estimular projetos de mobilidade urbana”.
Diário do Transporte