José Cruz/Agência Brasil |
A Associação das Empresas de Transporte Público e Coletivo do DF (Transit) informou que nenhum ônibus das empresas privadas que atendem o Distrito Federal (DF) circulou ontem (28), em função da paralisação surpresa iniciada nesta segunda por motoristas e cobradores. Na rodoviária do Plano Piloto só circulavam os ônibus vindos de algumas regiões do Entorno do DF e da empresa TCB, que pertence ao governo local.
Segundo o Transit, o Sindicato dos Rodoviários do Distrito Federal não notificou as empresas sobre a paralisação, com uma antecedência de 72 horas, conforme previsto em lei. A assessoria da entidade que representa as empresas privadas do setor informou que os motoristas e cobradores já recebem, desde julho, um reajuste de 4%, como forma de compensar a perda com a inflação.
Ainda de acordo com a associação patronal, uma proposta “ainda mais benéfica para os trabalhadores” (aumento de 4,5% no salário; 5% no ticket refeição; 6% na cesta-alimentação; e de 12% nos planos odontológico e de saúde) foi feita durante a reunião da última quinta-feira (24). Desde então o sindicato encerrou as negociações, o que acabou por culminar na paralisação de hoje.
A Agência Brasil tentou, desde cedo, contatar o Sindicato dos Rodoviários. No entanto, nenhuma ligação foi atendida. Alguns funcionários de empresas de ônibus que estavam na rodoviária disseram que os trabalhadores pedem um aumento entre 10% e 12%.
Diante dessa situação, a Secretaria de Mobilidade informou que o Governo do Distrito Federal já entrou na Justiça, pedindo a manutenção e a continuidade dos serviços. Por meio de nota, a secretaria informou ter liberado as faixas exclusivas de ônibus para circulação de carros durante o dia de hoje. A secretaria também estendeu por 30 minutos o horário de pico do metrô, quando há mais trens disponíveis para a população.
Até o final desta manhã, nenhuma manifestação foi feita na rodoviária, informou a Polícia Militar. Também não foi registrada nenhuma autuação contra vans piratas. “Não vimos nenhuma van, pelo menos na ala sul, que é a que está sob nossa responsabilidade”, disse à Agência Brasil o subtenente Hamilton Bispo dos Santos.
População
Moradora do Gama, a técnica em enfermagem Luana Monteiro, de 25 anos, disse que só conseguiu chegar à rodoviária graças à ajuda do noivo. “Costumo pegar o ônibus às 7h20.Hoje fiquei até as 9h e nada. Meu noivo me deu uma carona e agora estou na expectativa de que os ônibus voltem”, disse ela em meio à fila para pegar um ônibus que complementaria seu trajeto até o Lago Sul, bairro onde mora seu paciente. Luana disse ter notado uma diminuição significativa no movimento de passageiros na rodoviária. “Isso aqui, geralmente, é um tumulto só, assim como dentro dos ônibus, que estão sempre lotados, não dá nem para tirar o pé do chão. Se a gente faz isso, depois não tem onde colocar o pé”, disse ela à Agência Brasil.
A pouca movimentação foi percebida também por Tiana Sebastiana Silva, de 21 anos, funcionária de uma tradicional pastelaria da rodoviária. “Comparada com os outros dias, a rodoviária está bem calma e vazia, apesar das filas para os ônibus da TCB [empresa do GDF que não está de greve e faz trajetos apenas no Plano Piloto]”, disse.
Segundo Tiana, as vendas na pastelaria diminuíram “para mais da metade” do que é registrado em um dia normal, em função da menor movimentação da rodoviária. Como ela mora no Novo Gama, região do entorno, não teve problemas para chegar ao trabalho.
Um funcionário da TCB que pediu para não ser identificado disse que os motoristas e cobradores da empresa pública não podem parar porque têm uma situação diferenciada, uma vez que é ligada ao Governo do DF. “Não temos apoio de nenhum sindicato”, disse ele ao lamentar que sua categoria não tem reajuste há três anos. Segundo a TCB, o salário atual pago a seus trabalhadores “é maior do que o pago à categoria privada”. Além disso, acrescenta a assessoria da TCB, o aumento não pôde ser dado porque o governo local é obrigado a cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Motorista de uma empresa da região do entorno, Luiz José de Sousa disse que o trânsito até o Plano Piloto estava “bem mais pesado”, uma vez que mais pessoas optaram por ir de carro até o trabalho. “Para a gente ficou mais complicado cumprir horário. Nossa escala já é pesada e temos um número mínimo de viagens a cumprir. Com isso, chego a trabalhar até quatro horas a mais em um dia”, disse o motorista que faz trajetos entre a Cidade Ocidental (no entorno do Distrito Federal), Taguatinga e Plano Piloto.
Moradora do Valparaíso (no entorno do DF, em Goiás), a babá Eliana Rodrigues reclamou do engarrafamento que a fez demorar 40 minutos a mais para chegar à rodoviária, onde combinou que seu patrão a buscaria. “Tudo estava parado. E meu ônibus estava ainda mais cheio do que costuma ficar”.
Nem todos estavam insatisfeitos com a paralisação dos rodoviários. Responsável por serviços gerais de limpeza na rodoviária, Laurinete Marques disse que, com menos pessoas circulando pela rodoviária, teve menos serviço durante esta manhã de greve.
“O chão está bem menos sujo do que fica geralmente. E menos lixo significa menos trabalho para a gente, né”, disse a funcionária terceirizada da administração da rodoviária. Hoje ela chegou ao trabalho com 20 minutos de atraso. “Só estou aqui graças a um transporte pirata”, disse. A viagem custou os mesmos R$ 5 que ela paga pelo transporte que faz o trajeto do Gama até o Plano Piloto.