Ônibus urbano perde três milhões de passageiros por dia e frota está mais velha

Três milhões de passageiros por dia deixaram de utilizar os ônibus urbanos nos deslocamentos realizados em 2016, segundo levantamento anual sobre o desempenho do setor, feito pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). O estudo registra redução média de 8,2% em relação ao ano de 2015, com base na análise consolidada dos dados de abril e outubro.

Nos últimos três anos, o nível da queda de passageiros atingiu 18,1%. Os dados são baseados em nove das principais capitais brasileiras (Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), que concentram 37% da demanda transportada no Brasil.
Em 2016, a quantidade de passageiros transportados diariamente por veículo caiu 4,6% comparativamente com o ano de 2015. Igualmente à série histórica de demanda de passageiros transportados, nos últimos três anos (2013-2016) esse indicador destaca-se por apresentar níveis anuais mais intensos de diminuição, similares aos resultantes no início da coleta de dados. Nos 24 anos de acompanhamento, a redução total do carregamento diário por veículo para o mês de outubro é de 46,3%.
O levantamento aponta a crise econômica do país e o desemprego como os principais vilões da tendência acentuada de redução de passageiros. “Certamente, são fatores que interferem na dinâmica da mobilidade urbana das cidades, mas temos que levar em conta também outras distorções do sistema de transporte urbano, como a falta de fontes de financiamento para a tarifa, hoje paga exclusivamente pelo usuário”, avalia Otávio Cunha, presidente executivo da NTU.
Desempenho do setor
Em 2016, não houve alteração no comportamento histórico da demanda de passageiros equivalentes transportados em relação aos demais anos da nova série iniciada em 2013. Desde então, o transporte público por ônibus deixou de transportar, anualmente, significativas parcelas de usuários. Além da demanda, o estudo contempla 11 indicadores de desempenho do setor de ônibus urbano, que permitem retratar fielmente os períodos avaliados na série histórica.
Com relação à quilometragem produzida, em 2016 ela foi reduzida em 2,0% em comparação ao ano de 2015, considerando a média dos meses de abril e outubro. Esse comportamento aponta para uma tendência de redução da oferta de serviços nos anos mais recentes.
Segundo o levantamento, por mais um ano, o setor perdeu produtividade. A análise consolidada dos meses considerados indica uma redução de 6,2% do índice de passageiros equivalentes por quilômetro (IPKe) no ano de 2016. O índice médio desse ano foi de 1,51. A redução mais significativa ocorreu no mês de outubro, 8,8% contra 3,7% de perda em abril. Após um pequeno aumento de eficiência conseguido em 2013, foram três anos de queda do principal indicador de produtividade do setor. Os valores atuais são bastante inferiores àqueles já obtidos pelo setor nos primeiros anos da série histórica. Como pode ser observado, o IPK já foi de 2,42 e 2,48 em 1994 e 1995, respectivamente, considerando a média dos meses de abril e outubro.
Devido aos congestionamentos cada vez mais intensos nos centros urbanos de grande e médio porte, a velocidade dos veículos diminuiu 50% nos últimos 20 anos, segundo dados da NTU (2016). Essa situação provoca a necessidade de aquisição e inserção de novos ônibus nos sistemas para manter a oferta, aumentando a quilometragem produzida.
Frota envelhecida
O ano de 2016 foi mais um ano de envelhecimento da frota. Em abril foi registrada a idade média de cinco anos e 1 mês, já em outubro, houve um pequeno acréscimo para cinco anos e quatro meses. Este foi o quinto ano consecutivo em que foi verificado aumento da idade média do total de 37.158 veículos existentes nas nove capitais selecionadas que fazem parte da avaliação do desempenho operacional.
O aumento da idade média é decorrente de dois fatores principais: o desequilíbrio econômico-financeiro do setor, que gera redução dos investimentos, e a falta de programas de financiamento que apresentem condições atraentes para aquisição de veículos, especialmente prazos e taxas de juros condizentes com as realidades operacional e econômica das empresas.
Insumo caro
O acompanhamento realizado pela NTU, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, referentes ao custo dos principais insumos do setor, revela que nos últimos 18 anos (1999-2017) a variação acumulada dos preços do óleo diesel foi 214,1% maior que a variação acumulada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-IPCA.
Comparativamente com o custo da gasolina, principal combustível do modo de transporte individual e motorizado, a variação acumulada do óleo diesel foi 191,3% superior. Diante disso, faz-se oportuno e necessário evidenciar a falta de sintonia entre as diretrizes definidas pelo governo federal para as políticas do setor econômico e de mobilidade urbana.
Projetos parados
O PAC 2 Mobilidade Urbana-Grandes Cidades é o programa de financiamento com a maior quantidade de projetos vinculados. O número total de projetos do programa aumentou desde o início do acompanhamento. Em 2016, haviam 318 empreendimentos cadastrados; todavia, no decorrer do último ano, houve uma redução considerável provocada pela exclusão de 132 iniciativas. Desse total, 101 projetos foram excluídos porque não conseguiram formalizar a contratação das operações de crédito. Somam-se ainda outros 31 projetos que tiveram dificuldades para cumprir as etapas necessárias para tornar subsistente a seleção dessas propostas.
Atualmente, existem 185 projetos ativos. No entanto, apenas 27 estão em operação (14,6%). Desde o início do monitoramento, as propostas nos níveis iniciais de análises, estudos e preparação sempre foram as mais representativas. Em 2017, elas representam 57,3% dos projetos ativos (106 propostas). Juntos, os programas de financiamento promovidos pelo governo federal e as iniciativas municipais promoveram a implantação de 2.155 quilômetros de infraestrutura dedicada aos transportes públicos urbanos, nos últimos nove anos. Novamente, destacam-se os projetos que elegeram o modo ônibus, pois somados representam 1.668 quilômetros, sendo equivalente a 77,4% da infraestrutura em operação.
Os dados resultantes do acompanhamento da evolução dos projetos revelam que não houve alteração significativa em relação ao último ano. O crescimento registrado no período 2016-2017, em relação à quantidade de projetos, investimentos e infraestrutura já operacionalizados, foi de 19,7%, 14,5% e 23,7%, respectivamente. Contudo, sabe-se que essa evolução dos números deve-se mais à atualização do banco de dados e obtenção de informações que não estavam registradas. Nos últimos dez anos foram destinados R$ 151,7 bilhões para investimentos em infraestrutura de mobilidade urbana, porém apenas R$ 14,2 bilhões foram utilizados, ou seja, menos de 10% do total.
NTU

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