Editorial UNIBUS RN: O buraco é fundo, acabou-se o mundo

A sociedade moderna estruturou-se na proposta de realizar suas atividades nos chamados ‘dias úteis’. O domingo é o dia do merecido descanso, apesar das necessárias atividades que fazem com que pessoas tenham que sair de suas casas – como alguns setores, impossíveis de pararem. O avanço da sociedade nos deu de brinde os feriados, que seguem o mesmo contexto do domingo.
Entre as atividades essenciais, que não param nem nos domingos e feriados, estão os sistemas de transporte. Aliás, ele é o essencial do essencial: transporta quem necessita trabalhar, estudar ou exercer outras atividades nestes denominados dias não úteis. Apesar de não parar, a frota é significativamente reduzida, e, em Natal, até conta com algumas especificidades como forma de atrair mais usuários, como a extensão de alguns trajetos até as praias.
Mas agora, infelizmente, um novo patamar tem surgido na capital afetando a locomoção nos domingos e feriados: a não operação de algumas linhas nestes dias. No último domingo (06), por exemplo, foi a vez da linha 65 (Serrambi/Ribeira, via Praça/Alecrim/Quintas) ter sua operação suspensa aos domingos e feriados. Além delas, quem também já não dá mais a cara nos dias não úteis é a 23-69 (Felipe Camarão/Alecrim), a 12-14 (Soledade I/Ribeira) e a 85 (Soledade I/Petrópolis). Das três linhas citadas, apenas a 85 teve o trajeto incorporado de forma integral pela linha 35 (Soledade I/Candelária).
A desculpa da Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU) para a retirada das linhas é a baixa demanda que elas enfrentam nestes dias. Não é possível ver com clareza qual o parâmetro de demanda – já que se quer dados operacionais são divulgados pela referida secretaria – para que uma linha possa circular aos domingos e feriados sem que corra o risco de ser suspensa por baixa demanda. Pelo visto, pouco importa se uma área da cidade deixará de ser atendida, ou terá mais dificuldades de locomoção.
O caso da linha 65, por exemplo, é bastante interessante, já que é a única opção de ligação de parte do bairro das Quintas até a zona sul (e vice-versa). No comunicado em que a STTU anunciou o fim da 65, a secretaria sugere que os usuários façam a integração entre outras opções de linhas, e assim mantenham seu trajeto. Reconhecemos que a bilhetagem eletrônica do sistema de transporte local é um dos maiores marcos do setor e operado com qualidade incomparável, mas lembramos que ainda há usuários que pagam a tarifa em dinheiro, e agora precisam gastar o dobro para se deslocar – inclusive, por falta de ações da Secretaria no tocante a direcionar todo o pagamento de ônibus por bilhetagem eletrônica, contribuindo com mais segurança no setor.
Por falar em segurança, a indiferença da Secretaria – e automaticamente da Prefeitura com seus munícipes, já que a STTU é o desdobramento da Prefeitura na área do trânsito e do transporte local – com o setor da segurança pública é imenso, já que outra opção de quem teve as linhas de ônibus retiradas é o deslocamento a pé até algum outro ponto que possa utilizar uma outra linha e assim fazer o trajeto. Mas, lastimavelmente, Natal (e o Rio Grande do Norte) vivencia uma crise histórica na área de segurança pública, com índices cada vez piores de violência. Mesmo assim, usuários passam a precisar se deslocar, correndo mais riscos, para ter acesso ao transporte, o que representa uma verdadeira regressão.
A linha 65 tem um extenso trajeto. Saindo do conjunto Serrambi, percorre a zona sul, o centro de Natal, a Ribeira, retornando pelo Alecrim, Quintas, chegando à zona sul e de volta ao Serrambi. Com o fim da operação da 65 aos domingos e feriados, a linha 50 (Serrambi/Santa Catarina), que opera no mesmo terminal da 65, ganhou o reforço de um veículo, não desamparando e beneficiando, portanto, usuários do Serrambi – já que a 50 é destinada à zona norte de Natal, com trajeto totalmente diferente da 65. A atitude demonstra segregação por parte da secretaria, que exclui o uso do transporte em uma região periférica da cidade, que é o bairro das Quintas, mas mantém na área nobre da cidade, que é o caso dos conjuntos Serrambi.
Entendemos a problemática do transporte, especialmente a necessidade em conter gastos neste período de elevada crise financeira. Sabemos que a baixa demanda dos dias não úteis afetam consideravelmente todas as linhas – dada a baixa quantidade de ônibus que circulam, mas a STTU tem afetado em muito os usuários de transporte – da qual ela deveria aprimorar o atendimento – com as ações de retiradas das linhas.
Saibamos: Há usuários que precisam se locomover mesmo em domingos – trabalhadores de hospitais e shoppings, por exemplo – e regiões que ficam desamparadas em trajetos – como o bairro das Quintas, no caso da 65 – pela falta de soluções democráticas na discussão sobre a “baixa demanda”.
O UNIBUS RN lamenta a ação da STTU sobre a proposta de retirar linhas do sistema de transporte aos domingos e feriados, sendo a linha 65 o exemplo mais lastimável de todos, especialmente quando soluções democráticas e simples, como a redução de trajeto ou de horários, poderiam surtir efeito e não desamparar os usuários.
Hoje é domingo, pede cachimbo

O cachimbo é de barro, bate no jarro
O jarro é ouro, bate no touro
O touro é valente, machuca a gente

A gente é fraco, cai no buraco
O buraco é fundo, acabou-se o mundo


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