Natal: Pró-Transporte tem obras paradas

Adriano Abreu/Tribuna do Norte
Em 2005, um projeto prometia modificar substancialmente a paisagem viária da zona Norte de Natal, com a construção de viadutos, corredores de ônibus, calçadas, ciclovias e alargamentos de avenidas, consolidando o primeiro anel viário da capital potiguar. Antes, visto como uma redenção diante dos problemas de mobilidade urbana, o conjunto de obras do Pró-Transporte, tornou-se uma incógnita, sobretudo para moradores das vias onde passam as intervenções. Uma nova interrupção nas frentes de trabalho estende os transtornos, que já se arrastam há mais de uma década, e mantêm incerta a conclusão.

Orçada em R$ 88 milhões, o pacote de obras está dividido em dois eixos. O primeiro, contempla as avenidas das Fronteiras, Rio Doce e Tocantínea, entre o Gancho de Igapó, na BR-101, até a Avenida Moema Tinoco. Enquanto que o segundo é um complemento do anterior, ao interligar a Moema Tinoco à Avenida João Medeiros Filho, no ponto em que é construído o viaduto da Redinha, através da Rua Conselheiro Tristão. Invisíveis aos olhos do poder público há anos e sem o mínimo de infraestrutura, os moradores da futura via de ligação anseiam pela conclusão das obras, que estavam previstas para entrega no segundo semestre deste ano.
A comerciante Kaline Freitas afirma que independentemente das condições climáticas, os problemas são constantes, dada a ausência de recapeamento na via, que é composta por areia e piçarro, desde o canteiro de obras no viaduto da Redinha. “Quando chove sempre tem alagamento. Consequência disso é o barro, que atrapalha as pessoas para caminhar. Fica horrível. Quando começou a obra, achamos que ia ficar diferente, que ia melhorar, mas a empresa parou e fica esse impasse. É um sufoco total”, lamentou.
Outro trecho da Rua Conselheiro Cristão, não residencial, se encontra duplicada e asfaltada, até o leito do Rio Doce, ponto em que deverá convergir para a Avenida Moema Tinoco e efetivar a ligação ao viaduto, que deveria ser concluído em março deste ano. No entanto, não há qualquer sinal de maquinário ou canteiro de obra no local, muito embora a maioria das residências que se encontravam na faixa em que a nova pista deve ocupar já foram demolidas. A residência da cuidadora de idosos Neíze Pinheiro, 36 anos, pode ser uma das próximas a ceder espaço para o avanço das obras, cuja retomada é desconhecida. Porém, ela declara não terrecebido nenhuma visita de técnicos do Governo do Estado, responsável pelo Pró- Transporte, para discutir possível indenização.
Neíze espera as melhorias previstas, mas não tem otimismo. “As demais ruas sempre foram calçadas, mas nunca calçaram essa daqui. A poeira é grande. A gente vive gripado por conta disso. Para pegar o ônibus em dia de chuva só com uma toalhinha para tirar a lama das pernas. A gente só mora aqui porque não tem como ir para outro canto, a situação é bem precária”, afirmou.
Na outra frente de trabalho, que segue pelas avenidas Rio Doce e Fronteiras, o cenário de abandono é o mesmo. Para a Rio Doce, estava prevista a construção de um corredor de ônibus, com baías no canteiro central. Ao invés disso, buracos, lixo e mato. “Aqui tem muitos problemas mesmo, as obras não terminaram e deixaram abandonadas. A gente paga para tirar o mato ou o lixo que jogam no canteiro. Quando chove é uma buraqueira grande. Todo mundo reclama quando atravessa vai atravessar a pista. Ou quando não chove é poeira demais”, diz a comerciante Maria de Fátima Pereira.
Mais adiante, a duplicação da Avenida das Fronteiras está paralisada e, assim com as demais obras, sem qualquer sinal de uma possível retomada. “A poeira subiu mais depois que tiraram as árvores. Em dias de chuva dá uma esburacada. Pensei que fossem fazer alguma coisa, só fizeram tirar os pé de pau, passaram piçarra e acabou-se”, comenta Vilmar Santos, proprietário de uma auto-elétrica localizada na avenida.

Outro lado
Sobre a mais recente interrupção nos serviços, o Departamento de Estradas e Rodagem (DER), informou que só deverá se pronunciar na próxima segunda-feira (15).
Já o procurador-geral adjunto do Estado, João Carlos Coque, informou que os processos de desapropriações seguem em ritmo normal para aqueles proprietários que aceitam os valores negociados pelo Estado e que estejam regularizados com os imóveis. “São vários processos e cada caso é um caso. Quando há alguma demora, é por razão orçamentária”, afirmou o procurador adjunto. João Coque não precisou a quantidade atual de processos que tramitam, na Justiça, em relação às indenizações. Em agosto do ano passado, girava em torno de 290.
Já a Caixa Econômica Federal, que financia as obras com recursos oriundos do Fundo de Garantia Por Tempo de Serviço (FGTS), Proinveste e Orçamento Geral da União, não encaminhou, até o fechamento da edição impressa, as respostas aos questionamentos feitos pela reportagem.
Originalmente concebido pela Prefeitura do Natal, em 2005, e iniciado em 2007, o pacote de obras do Pró-Transporte foi descontinuado pela gestão municipal em 2011, após conclusão e liberação do viaduto das Fronteiras, única obra finalizada até então. Pelo baixo percentual executado na obra à época, o vínculo com o Governo Federal não foi renovado e a Prefeitura ficou sem recursos para tocar o projeto. Desde então, o Governo do Estado assumiu a responsabilidade pelas obras.

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