O ambulante Wellington Mendes do Nascimento começou a trabalhar na parada de ônibus do cemitério do Alecrim, na Avenida Mário Negócio, há quatro meses, assim que trocaram o telhado do ponto de ônibus. Entretanto, parte da cobertura já caiu. “Ela só cai à noite, vai se quebrando aos poucos. Mas pelo menos nunca ficamos no sol”, relata. Seguindo na Mário Negócio, após a linha do trem, quem precisa de coletivo não escapa do sol e da chuva, como é o caso da dona de casa Luzimar Lourdes, moradora da Zona Norte. “A gente que não é daqui fica até sem saber onde é uma parada. Não tem placa, nem telhado”, reclama. O único indicativo é uma pequena placa azul com a ilustração de um ônibus.
Frequência, lotação, qualidade das paradas de ônibus, segurança e confiabilidade são apenas cinco dos itens com maior reprovação entre os usuários do transporte público da capital. Estudo inédito realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte com 1067 estudantes avaliou, durante três meses, a percepção da população sobre o serviço oferecido. A pesquisa mostra que 70% dos entrevistados estão “insatisfeitos” ou “muito insatisfeitos” com os 12 tópicos citados.
A pesquisa “Transporte público: percepção dos estudantes quanto à utilização do mobile de internet na qualidade dos serviços na cidade do Natal/RN” foi defendida em dezembro como monografia pelo administrador Davisson Barbosa Avelino, 31 anos. Estudante e usuário do transporte público, Davisson tinha como foco trabalhar o uso de tecnologia por passageiros nos coletivos. Entretanto, acabou topando em dados sobre a eficiência do sistema. Na maioria dos 24 questionamentos, a satisfação usuário com o item foi inversamente proporcional à importância atribuída a ele.
Um dos itens, por exemplo, foi o sistema de integração. Principal discussão entre prefeitura, permissionários e coletivos, o sistema de integração temporal da rede de transporte foi considerada importante por 84,25% dos entrevistados. Entretanto, 49% deles reprovavam a integração como existe hoje.
“Dentro de Natal não acontece 100% da integração, por exemplo, com os ônibus Eucaliptos (linhas semiurbanas), por isso a insatisfação”, comenta Davisson Barbosa.
O Município ainda tenta, atualmente, dar prosseguimento à Bilhetagem Unificada – sistema de integração da passagem entre permissionários e coletivos, instituída por lei desde 2013. Em dezembro último, a prefeitura anunciou que retomará a venda e unificação da tecnologia. Um termo de referência está sendo elaborado.
O orientador da pesquisa, professor João Vianei, explica que o ponto principal da pesquisa é a insatisfação do usuário com a rede de transportes como um todo: desde a frequência das linhas à qualidade das pistas. A demora nas viagens foi objeto de insatisfação para 63,54% dos entrevistados. Tempo de viagem também foi questionado por 46% dos usuários; 79% reclamou da qualidade das paradas de ônibus; 76,94% da insegurança dentro e fora dos veículos. O atendimento por parte dos cobradores e motoristas (operadores do sistema) foi reprovado por 49,86% dos usuários.
Professor do Departamento de Administração e consultor em transporte público, João Vianei acrescenta que grande parte das melhorias esperadas para a rede está mais relacionada aos itens de suporte. Na opinião do pesquisador, de pouco adianta investir em ar-condicionado dentro dos ônibus se você não avança na mobilidade, por exemplo, ou melhoria da estrutura viária.
“Todo mundo fala em conforto no ônibus, mas o item que apareceu mais na pesquisa foi parada de ônibus, viagem mais rápidas, ônibus mais pontuais, qualidade das vias. Ar condicionado no ônibus talvez se tornasse desnecessário se você diminuísse o tempo de viagem. As pessoas querem confiabilidade: chegar no trabalho pontualmente, contar com aquele ônibus naquele local. Tenho certeza que essa pesquisa reflete o usuário do transporte público de Natal”, arrematou.
Fonte: Tribuna do Norte