Bilhetagem eletrônica: Integração esbarra na tarifa única

São 9h30 da manhã de uma segunda-feira, em uma parada de ônibus da avenida Bernardo Vieira. A doméstica Francisca Erinete de Souza, 27 anos, aguarda há 20 minutos, sob o sol forte do verão, um ônibus da empresa Barros que a leve para Pirangi, no litoral sul potiguar (os patrões estão veraneando). Pelo trajeto de 25km, pagará R$ 3,10. A rotina de Francisca, porém, tem hora marcada. Em dias comuns, sai de Nossa Senhora da Apresentação, na Zona Norte de Natal, às 4h30. O custo diário do trajeto casa-trabalho é de R$10,55. E sempre foi assim: com dinheiro para passagem e sem integração.
“De Natal eu tinha o cartão, mas prefiro andar com o dinheiro. Não adianta carregar o cartão se não há integração”, comenta Francisca. “Não posso perder esse (ônibus) de 6h, senão só de 7h. E olha que já vem lotado.”
Diferentemente de outras regiões metropolitanas do nordeste, como a de Recife, Natal sequer iniciou o processo de integração do transporte na RMN. Das dez cidades que compõem a metrópole, quatro (Natal, Macaíba, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante) já possuem sistemas tecnológicos de bilhetagem nos coletivos que permitem a unificação. O que falta para que o bilhete único seja, enfim, uma realidade para os dez municípios que integram a Grande Natal?
Para empresários, falta gestão e subsídio dos entes públicos que garantam a unificação da tarifa sem prejuízo econômico. Já os municípios acusam o Estado de se ausentar o debate. Segundo a Constituição Federal de 1988, o gerenciamento das regiões metropolitanas é de responsabilidade dos estados. No RN, o transporte intermunicipal fica a cargo do Departamento de Estradas de Rodagens (DER). A tarifação é dividida em anéis, de acordo com a distância entre Natal e o município de destino. O custo varia de R$ 2,35 para linhas urbanizadas até R$ 5 para as regiões mais distantes (veja infográfico). Um reajuste de 9% foi concedido em julho de 2014.
De acordo com a Federação das Empresas de Transporte do Nordeste, sete empresas operam na RMN. No total, são 25 linhas ligando Natal aos municípios. Quatro deles já utilizam um sistema de leitura de cartões que permitiriam a unificação, de acordo com Eudo Laranjeiras, presidente da Fetronor.
“Empresas que possuem o mesmo sistema de bilhetagem (RMCard) já fazem integração. Hoje, a Campos, Trampolim,  assim como alternativos de Macaíba e Panamirim já podem fazer a conexão. Isso é uma conseqüência natural”, afirma. “O problema da integração é que o desejo do pessoal dessas cidades é que a passagem seja igual a de Natal. Acho justo. Mas como eu vou baixar essa tarifa?  Em Natal, aqueles que andam menos subsidiam aqueles que andam mais”, acrescenta. A Fetronor defende que a integração seja subsidiada pelos entes públicos – caso contrário, o custo seria repassado para a tarifa.
Entretanto, os municípios afirmam que não têm condição de arcar com o subsídio. “É uma questão financeira. Não adianta só a prefeitura tentar e os outros (entes) não terem interesse. Dou exemplo do Governo do Estado: tentamos por várias vezes traçar uma política de transportes, mas não fomos respondidos”, afirmou Clodoaldo Cabral, adjunto de transportes da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU). Um conselho metropolitano chegou a ser criado pelas secretarias de transporte de Macaíba, SGA, Extremoz, Natal e Parnamirim, mas sem a integração com o DER as atividades foram suspensas.
Paulo de Castro, titular do Departamento de Transportes de SGA, afirma que a falta de gestão do Estado gera concorrência no sistema de transporte público.
“Hoje o intermunicipal entra praticamente em todos os bairros do município, o que afeta o sistema interno. Isso faz com que a gente tenha um serviço de péssima qualidade”, pondera.
Edital da bilhetagem única em Natal entra em revisão: Em Natal, a integração no transporte público é oferecida apenas entre ônibus urbanos. Durante 50 minutos, o usuário tem direito a pegar outro ônibus sem pagar nova passagem (exceto se for a mesma linha ou se os coletivos saírem do mesmo terminal). De acordo com estudo do Instituto Rua Viva, 1,1 milhão de integrações são realizadas mensalmente no município, o que corresponde a 12% do total de passagens no mês.
Segundo Clodoaldo Cabral, adjunto da STTU a demanda de acesso ainda é alta. Nesta semana, a Prefeitura reabrirá duas estações de transferência – modelos de integração que funcionavam até 2009, antes da integração temporal. O usuário pode permanecer quanto tempo quiser na estação, mas há um número limitado de linhas disponíveis. Ele não acredita que isso impulsionará o índice de integrações no mês.
Já a integração entre alternativos e coletivos – a chamada bilhetagem eletrônica – deve sair em até três meses. A integração entre os sistemas seria feito pelas empresas de tecnologia contratadas pelo Seturn e Sitoparn, mas o acordo de confidencialidade não foi assinado. O Município assumiu a integração e a venda de passagens. Um termo de referência  já foi elaborado pelo Instituto Rua Viva e deve ser revisado até dia 26 de janeiro. “No próximo trimestre deve sair”, garantiu.

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