No embalo do tema violência, os assaltos aos ônibus retomam seu lugar no noticiário policial. Durante muitos anos fui um de seus ocupantes pelas ruas de Natal, dependente de seus horários, de seus serviços. Estava entre aqueles que madrugavam em filas formadas nas paradas dos chamados coletivos para não chegar atrasado às aulas, num primeiro momento e, depois, no expediente de trabalho. Sei bem o que é ficar sob o sol de verão das 13 horas. Nesse horário, e no meu tempo, a única sombra existente era a fina imagem projetada no chão pelo poste de sustentação da rede elétrica. Uma sombra disputada, uma penitência diária que eu tomava como purificadora dos pecados da alma. E não só, era comum o transporte não parar por conta da superlotação. Toda essa espera era repetida no começo da noite, na hora de voltar para casa. Não havia mais sol, mas o corpo reclamava do cansaço.
Enfrentava tudo isso e reclamava da vida. Não imaginava eu que tempos depois outro ingrediente, o mais perverso, se somaria aos anteriores: o medo. Medo de assalto e de morte. É o que vive hoje a enorme parte da população que enfrenta as filas, o sol, o cansaço, a superlotação, os freios de arrumação, as sofridas viagens pelas ruas de Natal no interior de um ônibus. Sabe que entrará no transporte, acompanhada do medo.
Poderá não acontecer nada, nunca. Mas viverá sempre e todos os dias a expectativa de testemunhar uma desagradável surpresa.
Os números agora anunciados mostram que em 2014 diminuíram os assaltos aos ônibus, se comparados ao ano anterior, mas se tornaram mais violentos. E ainda assim, significam uma média superior a dois assaltos a cada dia. São muitas as histórias de horror contadas por quem passou por esses momentos e soam como pedidos de socorro. Neste começo de ano os assaltos foram retomados. Anuncia-se um plano de emergência de combate a violência e dentro dele uma ação para proteger os passageiros, motoristas e cobradores dos ônibus. Só nos resta acompanhar.
Por Albimar Furtado
Fonte: Novo Jornal