O transporte coletivo público é um gargalo na mobilidade urbana em Mossoró e os problemas parecem ficar cada vez mais intensos com o passar do tempo. Muito já se falou sobre isso e a situação foi até alvo de protestos, mas pouco foi mudado. Estudantes, trabalhadores e usuários em geral continuam enfrentando diversos desafios para conseguirem chegar aos seus destinos todos os dias.
A estudante Jéssica Moura, por exemplo, mora no Santo Antônio e depende de carona para ir à universidade. Já na faculdade o problema é a volta para casa. É que o ônibus que faz o Trajeto Boa Vista, o que mais se aproxima da sua residência, chega na universidade por volta das 10h10 e pouco depois sai. Como as aulas terminam às 10h30, ela conta que alguns colegas precisam sair 20 minutos antes da aula terminar para não perderem o horário do veículo. “Sorte é que meu pai vai deixar, mas gasta muito combustível, porque ele vai me deixar, depois vai buscar. Pra eu ir para o trabalho é do mesmo jeito”, fala. Para quem não tem alternativa, o jeito é esperar.
De acordo com o gerente Executivo de Transporte da Secretaria de Mobilidade Urbana, Luís Correia, são cerca de 20 ônibus que circulam na cidade e muitas áreas ainda estão descobertas. Por causa disso a longa espera dos usuários nas paradas de ônibus é inevitável. Quem depende do transporte público para ir ao trabalho, estudar ou resolver assuntos pessoais, por exemplo, enfrenta todos os dias a mesma situação.
O aposentado José Castro de Morais mora próximo ao Centro Administrativo Integrado e conta que espera muito para chegar ao Centro da cidade. “Lá o ônibus só passa de duas em duas horas, e isso quando para, porque também não tem parada e o motorista só para se quiser. Têm desses que param bem longe. Têm desses que não param para velho”, diz.
Passageiros da linha Belo Horizonte também relatam que precisam esperar muito na parada de ônibus. Antônia Eliane é vendedora ambulante em um ponto de ônibus e conta que sempre escuta as reclamações dos usuários. “A reclamação é diária. Tem gente que deixa de vir para cá porque aqui é mais difícil pegar ônibus. A gente também deixa de vender porque não tem passageiro. Tem horário que fica só eu, o vendedor de sorvete e o de picolé”, diz.
Outro vendedor que não quer ser identificado, diz que a situação das empresas de ônibus também é difícil porque a maioria dos passageiros são idosos e deficientes, que tem direito à gratuidade, e estudantes, que pagam meia passagem. “Quem paga, prefere ir de táxi. Como pode o ônibus andar só com 0800?”, relata.
Porém, os usuários contam que já preferem pagar um pouco mais para irem de táxi, justamente por causa da agilidade, menos tempo é desperdiçado. Creuza Benevides Morais, moradora do bairro Belo Horizonte, todos os dias utiliza o transporte público para ir até o local onde faz hidroginástica. Ela conta que pega o primeiro ônibus, por volta das 6h e só volta para casa às 10h, porque é nesse horário que o veículo volta a circular. “Só sai de dez horas. A pessoa tem que ficar aqui olhando o ônibus parado muito tempo aí na frente. É uma vida infernal”, relata.
Em outro ponto da cidade a reclamação é a mesma. Valdelúcia Sousa de Araújo mora no conjunto Vingt Rosado e conta que espera demais pelo transporte coletivo para voltar para casa. A usuária diz que dois veículos fazem linha para o conjunto, e que lá, ela não espera mais do que trinta minutos, porém, para voltar, pegando o coletivo do Centro, a situação é diferente. A espera é mais longa. Aos sábados, com apenas um veículo circulando, fica ainda mais difícil. “Quando estou com pressa pego um táxi”, afirma.
O estudante de Administração, João Marcos, mora no Costa e Silva e todos os dias pega dois ônibus para chegar à Universidade. O primeiro é o que vai para o Vingt Rosado. Ao chegar no Centro da cidade ele pega o Circular. “O Circular demora a passar, se eu não pegar o outro cedo, eu perco esse”, explica. Outro problema enfrentando todos os dias por João Marcos é a ida para o trabalho. Ele trabalha à noite na empresa de telemarketing A e C. Quando sai, por volta das 10h30, não tem mais nenhum ônibus em circulação e é necessário chamar um mototáxi para ir embora. “Acho que faltam mais transportes. A dificuldade é porque não tem”, diz.
Também há quem não perceba os problemas de transporte público na cidade. O aposentado José Luís mora no bairro Malvinas e diz não ter dificuldade porque por lá passam várias linhas de ônibus. “Passa direto. Eu também não trabalho, só preciso quando venho resolver alguma coisa no Centro. Pra mim, tá bom”, relata.
Mais ônibus: O gerente executivo de Trânsito, Luís Correia, afirma que a licitação para a contratação de mais ônibus deve sair em breve. O edital já foi elaborado e está em fase de finalização. Uma minuta de autorização do edital, que ainda está no setor jurídico, será enviada à Câmara Municipal para aprovação. Depois disso, outro documento será elaborado para aprovação de uma compensação às empresas de transporte coletivo.
Quando tudo isso acontecer, e uma nova empresa for contratada, a expectativa da Secretaria de Mobilidade Urbana é que 52 veículos, sendo dois reservas, passem a atender a demanda da cidade, circulando por todos os bairros. Isso faz parte do Plano de Mobilidade Urbana. A perspectiva é que com a integração virtual das linhas, a população possa se deslocar de um bairro a outro da cidade, com tempo de espera de 20 minutos. “Serão criados dois pontos principais, na Rio Branco e na Cunha da Mota”, diz Luís Correia.
Em breve também todos os veículos de transporte coletivo devem atender às normas de acessibilidade e o edital que será lançado também em breve já prevê isso. Segundo Decreto Nº 5.296 de 2 dezembro 2004, até o final deste ano, toda a frota de transporte coletivo rodoviário deve oferecer as condições de acessibilidade.
Fonte e foto: Gazeta do Oeste