Trânsito em várias direções, veículos de todos os portes, pedestres atravessando as vias em busca de ônibus e nenhum sinal de trânsito ou agente para organizar o trecho. Isso poderia ter ocorrido em um país conhecido por uma mobilidade urbana caótica, como na Índia, mas, pelo menos nesse quesito, Natal não deixa o Brasil ficar atrás.
Essa cena urbana se repete ao lado da rodoviária de Natal, no bairro da Cidade da Esperança, no cruzamento da Avenida Capitão-mor Gouveia com a Rua Hidrógrafo Vital de Oliveira. A via foi alargada e preparada com concreto para a circulação de ônibus. As antigas paradas de ônibus, que ficavam em frente à rodoviária de Natal (cada uma em um sentindo oposto da outra), agora estão exatamente nesse cruzamento em função das obras de mobilidade urbana na região.
O lugar, por onde circulam boa parte das linhas que ligam a zona Oeste às demais, não possui placa alguma com a indicação de um ponto de parada dos ônibus urbanos, tampouco possui abrigos para os passageiros. Em ocasiões de chuva, como na manhã deste sábado (19), quem esperava por ônibus se protegeu em uma única tenda de cerca de quatro metros quadrados instalada por um comerciante. Eram mais de 20 pessoas espremidas sob a tenda para não se molhar, compartilhando o espaço com o material do comerciante.
Quando questionada sobre o que pensa da situação, a passageira de transporte coletivo Maria das Dores Ferreira da Costa, de 56 anos, não poderia dar uma resposta diferente: “Horrível. Nós ficamos na chuva. Era para ter, pelo menos, uma sinalização aqui, um abrigo. Natal está uma bagunça”, disse e logo correu para debaixo da tenda para não se molhar.
Além de não ter espaço para esperar pelo ônibus, ela reclama do tempo que passa na parada. “Eu saí de casa de 6h30 de Felipe Camarão e agora tô esperando um ônibus pra o Planalto”, contou à equipe de reportagem já às 8h30 da manhã. Para Maria das Dores, a frequente mudança do local do ponto de ônibus também incomoda. “Aí fica uma correria danada, a gente vai, a gente volta”, reclamou. O intenso fluxo de veículos e de pessoas também gera perigo, agravado por falta de uma faixa de pedestre e sinal de trânsito. “Nesse instante, o 08 quase que ia matando uma mulher aqui. Ele só parou porque o pessoal gritou”, contou Maria das Dores.
Pior que a mudança dificilmente é informada com antecedência segundo os usuários do transporte coletivo. “De toda essa bagunça, nós somos os mais prejudicados em tudo e os menos informados. Eles parecem que podem fazer tudo e os cidadãos que se virem”, declarou Alisson Nascimento, analista de sistema e morador do bairro do Bom Pastor.
Segundo ele, nenhuma das vezes que o ponto de ônibus mudou, houve informação suficiente para os usuários de ônibus. “Já ficou dentro da rodoviária, voltou para a frente da rodoviária e agora está aqui. Não teve aviso prévio de nada. Só soube porque quando peguei o ônibus, ele veio e parou aqui”, relatou Nascimento.
Com as obras de mobilidade, o itinerário de algumas linhas também mudou. Sem a informação, muitos passageiros recorriam a solidariedade de outros cidadãos para não ficar perdido. Foi o que aconteceu com o militar Denilson Siqueira. “O itinerário das linhas 38 e 40 foi alterado e não foi informado. Só estou esperando a chuva diminuir para fazer uma caminhada de um quilômetro e pouco para ir para a outra rua”, disse, apontando a direção distante.
“A gente entende que a obras para melhorar a infraestrutura da cidade são importantes, mas o poder público tem que oferecer, no mínimo, uma tenda para gente”, sugeriu o militar. A equipe de reportagem tentou contato por meio do celular do secretário adjunto de Transporte de Natal, Clodoaldo Trindade, para saber que providências poderiam ser tomadas durante a manhã de hoje. Mas as ligações não foram atendidas.
Fonte e foto: Jornal de Hoje