O transporte escolar no formato “pau de arara” ainda é uma realidade no interior do Rio Grande do Norte. E, até mesmo quando as caminhonetas cobertas de lona são substituídas por ônibus e vans, a situação é crítica: pneus carecas, janelas trincadas, condutores sem habilitação. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), 97% do transporte escolar no estado está irregular.
Segundo a promotora da cidadania Iveluska Alves Xavier da Costa, a situação do transporte escolar no interior do RN é crítica. “Essa realidade do transporte pau de arara ainda existe, mas não é a única. Há condutores que não possuem nenhum tipo de habilitação, curso de formação”, comenta.
Antes do início das vistorias, o CAOP (Centro de Apoio Operacional das Promotorias) fez um levantamento do transporte escolar no interior do estado. Segundo dados coletados pelo MP até o dia 16 de julho, foram apresentados pelas prefeituras 2.553 veículos, mas apenas 1.691 compareceram para as vistorias. No total, 152 municípios tiveram seus veículos vistoriados. Um dos dados mais alarmantes é que em 101 municípios nenhum dos motoristas possuía curso especializado para transporte de passageiros – exigência do Detran.
“Flagramos situações como a de um pau de arara com a faixa de transporte escolar. Em um dos municípios, uma moto foi apresentada como transporte escolar”, lembrou a promotora. Iveluska ressalta que a melhoria no transporte escolar é uma cobrança nacional: na semana passada, a Proteste Associação de Consumidores lançou nota cobrando segurança. No RN, o acidente mais recente noticiado aconteceu em Apodi: uma criança de sete anos caiu do transporte pau de arara e foi atropelada. Ela estava a caminho da escola.
97% do transporte escolar está irregular: O levantamento foi feito com base em vistorias realizadas pelo órgão desde 29 de março. A ação foi iniciada a partir de um Termo de Compromisso de Integração Operacional (TCIO) firmado com o Ministério Público. A última vistoria estava marcada para acontecer no último sábado (26), mas foi remarcada para o dia 2 de agosto. Durante o final de semana o sistema do departamento de trânsito estava foram do ar. Entre os pólos ainda carentes de vistoria estão Parnamirim e Ceará-Mirim.
O foco das vitorias era apenas o transporte público, uma vez que o privado é orientado pelas prefeituras, responsáveis pelas concessões. Dos 1.792 veículos vistoriados no RN, apenas 50 estavam em plenas condições para realizar o transporte escolar. Outros 130 não retornaram ao Detran para finalizar a vistoria. No total, 1.616 permanecem irregulares. Até agora. “Supomos que há mais (veículos irregulares). Falta Ceará-Mirim e cidades próximas, assim como Parnamirim para vistoriar”, aponta Manuel Ferreira, chefe de gabinete do Detran.
Falta de acessibilidade, extintores vencidos, pneus carecas, ausência da carteira de habilitação (CNH) tipo “D” e especialização para conduzir transporte escolar são apenas algumas das deficiências encontradas. Dependendo da situação do transporte, o Detran/RN concedeu até seis meses para que os veículos se adequem às novas recomendações.
Para completar a dificuldades em manter a fiscalização, os municípios não são obrigados a informar ao departamento estadual de trânsito o número atual da frota própria nem as terceirizações. Entretanto, seria responsabilidade, de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito (Lei 9.503/97), dos municípios fornecerem semestralmente os veículos para inspeção do órgão estadual – o que não estava acontecendo, segundo o Detran.
“Após a notificação os municípios estão comparecendo, mas há anos que eles não faziam a vistoria, apesar de estarmos disponíveis em várias regiões do estado. No total são 22, e estão indo fiscais para o interior fazer isso”, ressalta Manuel Ferreira.
Após as vistorias, os laudos são encaminhados para o CAOP (Centro de Apoio Operacional das Promotorias) Cidadania do Ministério Público. O MP firmou o termo de cooperação em 26 de março, solicitando que o Detran reforçasse as fiscalizações.
Com informações: Tribuna do Norte