Mobilidade urbana: O preço da falta de planejamento

O Brasil está pagando um preço alto pela falta de planejamento, sobretudo com relação aos projetos de mobilidade urbana propostos para a Copa do Mundo. Muito pouco foi entregue a tempo, sendo que parte foi inaugurada no improviso, sem estar completamente pronto, como o BRT de Recife. Mas afinal, quem deve ser responsabilizado por esse desempenho, teoricamente, sofrível?
“Até uns sete, oito anos atrás, os municípios reclamavam muito que não tinham dinheiro para fazer obras de mobilidade urbana. Aí veio a história da Copa do Mundo e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o governo federal criou o PAC e jogou um caminhão de dinheiro em mobilidade. Nós nunca tivemos tanto dinheiro para esse setor como se tem hoje”, disse Wilson Folgozi de Brito, secretário de Transportes de Jundiaí, cidade a 60 km de São Paulo. “O que aconteceu daí para frente? O Ministério das Cidades abriu várias linhas de financiamento e dividiu as cidades por categorias. Primeiro, foi criado o PAC da Copa e, depois, o PAC 1 para grandes cidades, com população superior  a 750.000 habitantes. E lançaram o PAC 2 para médias cidades, com população entre 250.000 e 750.000 habitantes”, explicou.
Na época, o Ministério das Cidades acreditava que os municípios deveriam reivindicar o dinheiro dentro do Projeto Básico que cada cidade precisa ter para poder tocar as suas obras de mobilidade. “Mas é um básico de engenharia, não esses ‘básicos’ feitos no Brasil, às vezes um mero papel de pão, para não dizer pior. Precisa ser ‘Básico’ como a Lei 866 estabelece. É o projeto mais importante do que você quer construir. E aqui no Brasil se convencionou que se constrói com o executivo, que ele resolve as coisas, mas não é assim. Por isso há muita confusão nas construções”, disparou Folgozi. “Porque, se tem um básico mal feito, a construtora vai e faz via executivo e depois quer fazer a obra. Como não tem bem feito no começo, não fará depois e se descobre que a fundação foi feita errada, que a carga é maior ou que a via não cabe, etc.”, completou.
Ou seja, o Ministério das Cidades defendia que todos deveriam ter o Projeto Básico, mas ninguém tinha. “Nem os Estados mais avançados tinham. Muitas cidades não têm nem modelo de transporte. Por isso, que cada um faz o que quer: BRT, VLT, VLP, monotrilho, metrô… Se você não tem modelo, vai fazer projeto de que? Precisa escolher”, criticou Folgozi.
Então, o Ministério das Cidades abriu um prazo de seis meses para que as cidades e Estados apresentassem uma carta consulta com o projeto básico, e deu no que deu. Não ficou quase nada pronto, porque ninguém tinha o projeto básico, segundo o secretário de Transportes de Jundiaí. “A muito custo, o Ministério das Cidades passou a financiar o Projeto Básico. Por incrível que pareça, as prefeituras não tinham e não tem dinheiro pra fazê-lo. Isso, porque o Projeto Básico pode custar até 5% do valor da obra”, analisou Folgozi. “O monotrilho de São Paulo, por exemplo, foi muito contestado, pois é o que se vê nos parques da Disney ou entre aeroportos. Não é transporte de massa. O governo do Estado insistiu e está fazendo. Dizem que ele não transporta o que o BRT transporta e custa muito mais caro”, comentou, exemplificando a falta de um planejamento adequado.

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