Para fugir do trânsito, 40% dos brasileiros recusaram emprego

Além do estresse e demais problemas causados pelos engarrafamentos, a percepção de que a mobilidade urbana piora com o tempo interfere nas escolhas profissionais dos brasileiros. Uma pesquisa do instituto Expertise em todo o país mostrou que 40% dos entrevistados já recusaram ou desistiram de uma vaga de emprego por considerar que o tempo gasto no deslocamento entre casa e trabalho era grande demais. Além disso, 1/3 dos brasileiros já mudou ou pensa em mudar de endereço pela mesma razão. Um especialista ouvido pela reportagem defende a descentralização de serviços e empregos como alternativa.
O estudo mostra ainda que 56% dos entrevistados gastam mais de uma hora por dia se deslocando. Entre aqueles que usam ônibus ou metrô, o tempo médio é de três horas diárias.
A arquiteta Nívea Guarçoni, 28, mora na região hospitalar da capital e recusou uma boa oportunidade de trabalho na região do Barreiro. “Ia ser muito bom. Tinha acabado de me formar e ia ter carteira assinada. Fui para a entrevista de carro, fora do horário de pico, e gastei mais de uma hora. Meu horário seria das 8h às 18h, quando o trânsito é muito mais intenso. Por isso, abri mão”, conta. Hoje, ela consegue ir a pé para seu novo emprego. “Qualidade de vida é fundamental. Gosto de ter tempo para fazer as coisas que gosto e não desperdiçar horas no trânsito”.
Já a analista Maria Inês de Almeida, 55, fez a trajetória inversa. Após conquistar uma vaga que almejava em um banco, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul, decidiu morar mais perto do trabalho. “Vou a pé e gasto sete minutos. E para o colégio dos meus filhos, demoro cinco. Esse apartamento caiu do céu. Não consigo nem calcular quantas horas livres já ganhei”.
Análise: Para o arquiteto e urbanista Sérgio Myssior, os problemas de mobilidade não serão solucionados só com investimentos em transporte. “O ideal é um reordenamento do uso do solo, ou seja, que se criem possibilidades para que as pessoas possam morar, trabalhar e ter serviços como saúde, educação e lazer em raios menores. Teríamos um sistema de transporte mais simples, menos oneroso e mais eficiente”.
Outro problema, segundo ele, é a baixa atratividade do transporte coletivo. “Hoje, ele não tem capilaridade, abrangência, conforto nem eficiência. Não seduz o usuário do carro, pelo contrário”.
Pesquisa: O estudo foi realizado pela Expertise Inteligência em abril de 2014 com 1.256 entrevistados de todas as regiões do país, de ambos os sexos, diferentes faixas etárias e todas as classes sociais.

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