Sete milhões trocam ônibus por viagem de avião em 8 anos

Em meio à expansão da aviação civil, as empresas de transporte rodoviário de passageiros perderam 7,1 milhões de usuários entre 2005 e 2013 – em média, mais de 2.400 por dia.
Diante dessa queda, retratada em dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), empresas do setor cortam investimentos e se dizem prejudicadas pela ação do poder público.
No mesmo período as companhias aéreas ganharam 51,2 milhões de passageiros domésticos -média de 17,5 mil pessoas por dia, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
“O pior já passou (perda de passageiros de 2005 a 2008), mas nunca vai voltar a ser o que era”, diz Paulo Alsemo, gerente de vendas da Gontijo e da São Geraldo, duas das maiores empresas de ônibus. “Hoje estamos na fase de recuperar uma parcela dos passageiros que perdemos.”
A dona de casa Sílvia Peixoto, 55, ajuda a engrossar a estatística: queda de 11% nos passageiros de ônibus em viagens longas e alta de 132% no movimento dos aeroportos.
Moradora de São Carlos (SP), ela costumava viajar 1.978 quilômetros de ônibus todo ano para visitar parentes em Conde (BA). Em 2013, foi de avião pela primeira vez.
Na semana passada, estava de volta ao aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), dessa vez rumo ao Recife, para conhecer a neta. “Nem procurei ônibus.” Professor de logística e transportes da Unicamp, Orlando Lima Júnior afirma que essa migração de passageiros tende a se estabilizar. “A alta do poder aquisitivo beneficiou também as empresas de ônibus. Senão, a queda seria ainda maior.”
Ônibus x Avião: Executivos das principais empresas de ônibus do país reclamam de benefícios concedidos pelo governo federal à aviação civil. Outro alvo de críticas é a licitação da ANTT para redistribuir a malha viária interestadual -fato que, afirmam os executivos, motiva retenção de novos investimentos.
Eles dizem pagar ICMS de até 18% sobre o preço da passagem, enquanto há isenção na aviação civil. “Há claro favorecimento do aéreo”, diz Hugo de Faveri, diretor comercial da Itapemirim.
Ana Patrizia Lira, diretora da agência reguladora, afirma que “melhor seria se ninguém pagasse o ICMS”, mas defende os benefícios à aviação. “O governo quer levar o desenvolvimento para o setor aéreo que já existe no rodoviário.”
Sobre a licitação das linhas interestaduais – suspensa por ordem judicial -, Lira diz que a medida irá proporcionar “maior qualidade do serviço e menores tarifas”.
“O principal entrave é a indefinição sobre como ficará a atividade em razão da licitação”, afirma Paulo Lima, presidente da Abrati (associação de empresas do setor).
Por causa disso, empresas estão revendo investimentos em frota e garagens, por exemplo. “Os investimentos estão suspensos. Vamos esperar uma definição”, disse Favieri, da Itapemirim.
Serviço público: O transporte rodoviário interestadual de passageiros é considerado serviço público. Por isso, a regulação da atividade inclui licitação, controle de tarifas e oferta mínima de linhas regulares, mesmo que elas sejam deficitárias. Na aviação, não há controle sobre preço das passagens e a criação de linhas depende apenas da disponibilidade nos aeroportos.
Para Lima Júnior, da Unicamp, uma saída pode ser tentar aproximar os setores. “É possível trazer mais regulação para o aéreo e flexibilizar o rodoviário. O usuário se preocupa com preço, e aí as empresas de ônibus não conseguem competir.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Pular para o conteúdo