A mobilidade urbana nas grandes cidades brasileiras está na ordem do dia. O sofrimento imposto à população de baixa renda abriu a série de manifestações de rua que, desde junho do ano passado, clamam por meios de transportes mais baratos, confortáveis e eficientes, a par de outras prementes demandas.
Autoridades mais sensíveis procuram acelerar o processo para modernizar os sistemas de transporte, a começar na maior metrópole brasileira, São Paulo, com seus 12 milhões de habitantes. Desde o início da nova gestão, a Prefeitura vem implantando faixas exclusivas de ônibus. Isto tem um custo: à medida que reserva pistas para os ônibus, a circulação para os carros particulares fica reduzida, provocando grandes congestionamentos. Mas a própria população espera que esse obstáculo seja resolvido. A solução está na adoção de modernos processos tecnológicos.
A velocidade média dos ônibus paulistanos aumentou 48% em 243 km de vias, passando de 13 km/h para 20 km/h. Não é muito, mas já constitui um avanço para um setor abandonado há tanto tempo.
Um ônibus articulado tem capacidade para levar cerca de 150 passageiros com algum conforto. A lotação atual, porém, ultrapassa essa faixa. Os passageiros se empurram, espremidos, agredindo-se mutuamente. É um calvário. A transformação dos meios de transporte públicos em máquinas de tormento também ocorre na malha ferroviária e até no metrô.
A mobilidade urbana no Brasil caminha para a imobilidade total e o refrão eleitoral – “governar é cuidar das pessoas” – nada mais é que puro engodo. O que poderia mudar o quadro caótico? Sensibilidade dos gestores públicos, compromisso com a modernização dos sistemas, sintonia com as demandas populares, investimento em qualidade. Nestes valores está a luz no fim do túnel. Não dá para prolongar o sofrimento de milhões de brasileiros. Soluções existem e basta vontade política para aplicar o dinheiro público com inteligência. O eixo da modernização implica focar para as telecomunicações.
Em São Paulo, são quase dez milhões de pessoas transportadas diariamente por cerca de 15 mil ônibus, distribuídos em 4.411 km de linhas. É possível atenuar as angústias geradas pela massificação dos passageiros com o aumento da velocidade média. Para tanto, urge implantar os mecanismos tecnológicos especializados nos transportes.
Sistemas integrados de telecomunicações e voltados para melhorar os padrões de mobilidade dos ônibus já existem e funcionam muito bem em grandes cidades de muitos países. Nós temos condições de desatar este nó. Um ônibus com alta tecnologia disporá de câmeras de segurança, contador de passageiros, internet wi-fi, alto-falantes, monitores e telemetria. Assim, todas as informações de um veículo serão captadas e enviadas a uma Central de Operações, que passa a coordenar melhor o transporte pela cidade em qualquer horário. Redes, serviços e plataformas de telecomunicações serão disponibilizados para essa finalidade.
O contador de passageiros vai informar quantos subiram ou desceram de um veículo; alto-falantes darão informações relevantes aos usuários; catraca eletrônica permitirá a recarga dos cartões de transporte e poderá eliminar fraudes; telemetria fornecerá indicadores de funcionamento do motor, gasto de combustível e mudanças bruscas de velocidade; câmera OCR, como um radar móvel, serão capazes de detectar invasões a faixas e outras ocorrências em faixas e corredores.
Ao receber as informações, a Central de Operações sinaliza quando o ônibus já está com uma lotação adequada de pessoas, emitindo uma ordem ao motorista para não parar mais. Como os pontos de parada também serão monitorados, a Central saberá quais linhas são mais demandadas e dessa forma poderá deslocar para lá veículos de outras linhas menos carregadas.
Os passageiros no ponto também receberão a informação sobre qual veículo deverão tomar nos horários que lhes convém, de forma a obter o máximo de conforto e pontualidade nos serviços. Essas mensagens também poderão ser acessadas pelo celular, na residência ou no trabalho, evitando longo tempo de espera nos pontos de ônibus.
Os benefícios serão inúmeros: primeiro, por distribuir conforto e ordenar melhor o fluxo, atenuando a sensação de caos vivida hoje pela população. Até a segurança pública pode se servir, pois os radares instalados nos ônibus detectarão todos os tipos de ocorrência, como assaltos, facilitando uma ação mais rápida da polícia. Para as empresas de ônibus, um ganho facilitado, pois a telemetria permite verificar o desempenho de sua frota, levando a uma gestão mais eficaz.
Pesquisa do Ibope de setembro do ano passado mostrou um resultado que deve servir de reflexão para as autoridades responsáveis por mobilidade urbana no País: 79% dos paulistanos estão dispostos a trocar o automóvel pelo transporte público, caso haja boa alternativa. Quase um quarto dos entrevistados respondeu: se o tempo de espera dos ônibus diminuir, poderia usar esse meio de transporte para os principais deslocamentos, como de casa para o trabalho.
Em média, os moradores de cidades como São Paulo ou Rio chegam a gastar 2 horas e 15 minutos de deslocamento por dia; são quase 11 horas por semana, considerando apenas os dias úteis. Uma média de dois dias por mês perdidos em meios de transporte. Ou seja, aumentar a qualidade do transporte significa tirar veículos particulares de circulação, reduzir drasticamente os congestionamentos e aumentar o índice de felicidade dos cidadãos. Eis a saída indicada pela própria população.
Dessa forma, o Brasil estará ingressando na área digital dos transportes urbanos, adotando processos inovadores e competitivos. Um sonho? Não. Ao cabo de tudo, a meta é tornar as cidades mais humanas e mais próximas aos anseios dos cidadãos. Só assim o desgastado refrão de palanque terá sentido: “Governar é cuidar das pessoas”.
Fonte: Maxpress