Prefeitura do Natal já admite atrasos em obras da Copa do Mundo com as chuvas

Os mais de 100 milímetros de chuvas que caíram sobre todas as regiões da cidade na semana passada acenderam oficialmente todos os sinais de alerta para um possível atraso dos compromissos firmados entre o município de Natal com a matriz da Copa do Mundo, que começa em junho.
Hoje, o secretário municipal de Obras públicas e Infraestrutura (Semopi), Tomaz Neto, qualificou a situação de “extremamente preocupante” especialmente porque “não costumava chover nessa época do ano”.
Para agravar ainda mais a situação, no último sábado à noite, durante a colocação de estacas nas obras do túnel da Jerônimo Câmara, um erro de cálculo de “apenas” 1 metro e meio provocou a perfuração de uma galeria que auxilia na drenagem das águas.
O resultado é que antes que os reparos iniciados na segunda-feira fossem concluídos, as chuvas mais fortes da última terça-feira trouxeram de volta o antigo pesadelo dos alagamentos em áreas onde elas sempre aconteceram, mas que já estavam esquecidos da população depois de dois anos vivendo uma das mais rigorosas secas da história.
A Avenida Jaguarari, indicada pelas autoridades de trânsito como um dos principais escapes para os veículos, voltou a ser interditada como consequência do alagamento na Mor Gouveia. “O clima está maluco e isso vai fazer com que estudemos métodos construtivos em chuva e busquemos todos os momentos de estiagem para avançar as obras”, disse hoje o secretário.
Numa reunião depois das chuvas da última terça-feira, representantes das construtoras Queiroz Galvão e Ferreira Guedes, vencedoras da licitação para construção dos seis túneis do projeto de mobilidade no entorno do Arena das Dunas, asseguraram que entregarão as obras dentro do prazo limite da matriz de responsabilidade da Copa, em 31 de maio. Mas as chuvas de ontem meio que abalaram a confiança nessa possibilidade.
Com recursos federais assegurados de R$ 222 milhões, que segundo o secretário de Mobilidade vem sendo depositados religiosamente, seis túneis ao todo são construídos a toque de caixa: um na Romualdo Galvão ligando a marginal da BR 101; outro ligando à Lima e Silva à Prudente de Moraes e também à Candelária; e os restantes na Jerônimo Câmara, na Mor Gouveia e na Raimundo Chaves. “Trata-se do conjunto de obras mais ambiciosas que se tem notícia em Natal nos últimos 50 anos”, reiterou o secretário Tomaz Neto.
Hoje, falando com exclusividade ao JH, ele desabafou: “Tínhamos 55 meses para concretizar o projeto e dos 18 meses que nos caíram no colo, 12 restaram para realizar 525 desapropriações, reformar projetos e realizar licenciamentos, com todo o ritual burocrático e de audiências pública que isso implica”, lembrou.
Com isso, as obras ali começaram em outubro do ano passado e no último dia 1º de fevereiro passaram para regime de três turnos, 24 horas por dia. “A presença de chuva em março, que nunca aconteceu antes, vai pôr pressão nesse processo e acender todas as luzes de alerta”, reconheceu Tomaz Neto.
Mudança de hábitos: Da mesma forma com que os natalenses vêm convivendo com a lentidão no tráfego imposta pelas obras de mobilidade, agora eles terão que adicionar as chuvas em suas preocupações rotineiras.
Agravadas pelo canteiro de obras em que a cidade se transformou com a proximidade da Copa do Mundo, o secretário Tomaz Neto voltou a pedir calma à população. “Somando os prós e os contras, as obras que irritam as pessoas agora terminarão de uma vez por todas com os alagamentos que sempre fizeram parte da vida da cidade, especialmente ao redor da área do Arena das Dunas” – estádio apelidado de “Arena das Águas” pelos natalenses.
O novo alagamento trazido pelas chuvas mais fortes de ontem mostraram que além da fragilidade hídrica, a prefeitura não tem contingentes suficientes para socorrer as áreas mais atingidas.
No caso do alagamento na Avenida Mor Gouveia, uma velha conhecida dos moradores da região, nem um único representante da Semopi e da Defesa Civil foram vistos no local. O trabalho de ordenar o trânsito na Rua São José sobrou para agentes da Fiscalização Ambiental da Semurb e pelo Corpo de Bombeiros, que com ajuda de um bote de borracha retirou os morados atingidos de suas casas.
Ao comentar esse assunto, o secretário titular da Semurb, Marcelo Toscano, disse que nesses momentos todos os órgãos da prefeitura devem ser vistos como um só. “Não tem muita diferença entre nós ou outros representantes de qualquer órgão municipal quando o cinto aperta”, afirmou Toscano.
Mas, enquanto os agentes da Semurb acompanhavam a operação de resgate dos moradores, era possível ouvir alguns deles perguntando: “Cadê o pessoal da Semopi, cadê os caras”.
Num dos depoimentos colhidos pelo JH, que acompanhou a tentativa de drenar as águas do local, um dos homens que prestavam socorro comentou: “Os fiscais da Semopi receberam 0,5% para fiscalizar obra dos túneis e nem se deram ao trabalho de dar as caras por aqui”.
À medida que o socorro se organizava, com dificuldade, novos geradores eram trazidos de caminhão para reforçar o bombeamento de água do local. Até o começo da noite, três foram instalados para aumentar a potência desse bombeamento, enquanto a chuva diminuía de intensidade, mas não parava.
“Resolvendo a drenagem no entorno da Arena vamos acabar com esse tormento em Lagoa Nova, Dix-sept Rosado e Cidade da Esperança”, disse hoje o secretário da Semopi. E acrescentou que, numa segunda fase, depois da Copa, outro projeto prevê drenagem de vias da zona Norte, como a Moema Tinoco e zona Sul, com recursos do Ministério das Cidades.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Pular para o conteúdo