Encomendas de ônibus caem 20% após protestos

A redução das tarifas do transporte urbano na maioria das grandes cidades do país fez cair as vendas dos fabricantes de ônibus em20%a partir de setembro, o que comprova a queda da renovação da frota de coletivos urbanos pelas empresas de transporte. De acordo com o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Ônibus (Fabus), José Antônio Fernandes Martins, o setor de carrocerias e chassis fatura R$ 12 bilhões ao ano e a perda de receita nos últimos três meses do ano deve ficar em torno de R$ 800 milhões.
De acordo com o executivo, que também é diretor da Marcopolo, as vendas vinham crescendo em 2013, mas mudaram o rumo depois das manifestações populares. “O crescimento de 18% divulgado pela Anfavea (associação dos fabricantes de veículos) é real, mas foi até setembro. Agora estamos comum cenário completamente diferente. A produção de ônibus deve cair entre 15% e20%neste último trimestre. Se não houver alguma ação, o nível de emprego pode estar comprometido”, disse.
Martins contou que os impactos da redução das tarifas em junho só chegaram agora, porque ainda havia encomendas sendo entregues. As informações da prefeitura de cidades como o Rio de Janeiro confirmam o alarme de Martins. Segundo a Secretaria de Transportes carioca, a renovação da frota de coletivos urbanos era de 15% a 20% ao ano e, em 2013, caiu para apenas 4% e fez o órgão rever os planos de ter 100% dos ônibus com ar-condicionado até 2016.
Atualmente, os fabricantes de ônibus empregam 30 mil funcionários diretos e o executivo alerta sobre o risco de diminuição de postos de trabalho. “As manifestações  acertaram em cheio o segmento de ônibus urbanos. O setor de veículos rodoviários também parou em função das incertezas sobre a Licitação dos serviços interestaduais e internacionais pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT)”, explicou o presidente da Fabus, defendendo que o governo respeite os contratos de concessão de transporte,mantendo a segurança jurídica para o investidor.
Enquanto Martins reclama da queda nas vendas, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) comemora o melhor ano da história na produção de carros, com alta dede 3,5% a 4,5% em relação a 2012.Por trás dessa diferença, dizem especialistas, está uma política do governo federal que incentiva o transporte individual em detrimento do coletivo.
Sem recursos, aumento da qualidade é difícil: A melhoria da qualidade dos transportes urbanos demanda mais recursos. E, para isso, segundo especialistas, não há como fugir das seguintes opções: aumento das tarifas ou subsídios e desoneração dos custos com isenção fiscal e ganhos operacionais (pistas exclusivas para ônibus). Sobre a primeira opção, acredita-seque o clima político é adverso após as manifestações de rua, apesar de, no caso do Rio, o prefeito Eduardo Paes já ter defendido o próximo reajuste em janeiro.
Portanto, as demais medidas são necessidades urgentes. Para o urbanista Nazareno Stanislau Affonso, coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao transporte (MDT), o governo federal precisa desonerar totalmente o setor e fazer pressão para a aprovação imediata na Câmara do projeto de lei do Reitup (Regime Especial de Incentivos para o transporte urbano de Passageiros).
O Reitup, que já foi aprovado no Senado e a guarda tramitação na Câmara desde agosto, elimina o que restados tributos federais e obriga os estados a retirar também o ICMS dos ônibus e insumos, como o diesel. “A estimativa do Senado é de que o Reitup possa desonerar as tarifas em 15% em média”, explica Nazareno.
Outra recomendação dele é priorizar o espaço para o transporte público, executando, com as prefeituras, o plano emergencial de construir 4 mil quilômetros de corredores de ônibus nas grandes cidades do país. A compensação pelas gratuidades é outra questão crucial. Segundo o diretor da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) Marcos Bicalho, o peso médio das gratuidades nas tarifas é de 20% e, em alguns lugares, como no Rio, esse percentual é ainda mais elevado. “Resolver essa questão é um dos principais desafios dos prefeitos.
No Brasil inteiro, o que se vê é uma injustiça, porque o passageiro não sabe que é ele quem paga pelos estudantes, idosos e pessoas com necessidades especiais. Fica parecendo que isso vem dos governos”, afirma Bicalho. Estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) recomenda mais subsídios ao transporte público e compara o Brasil com países europeus, onde a ajuda governamental chega a 50% das tarifas, em média.

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