Ônibus também é lugar de refletir. Afinal, em alguns momentos ficamos boa parte do tempo dentro do transporte para os deslocamentos diários ou eventuais.
Num dos dias, voltando do trabalho, estava no ônibus, um grande superarticulado parado no Terminal Santo André Oeste, no ABC Paulista, e comecei a reparar involuntariamente no movimento de entrada dos passageiros no veículo.
Havia rostos que nunca tinha visto e provavelmente nunca veria mais. Outros, já eram conhecidos, visualmente apenas, posto que nunca cumprimentei ou interagi diretamente com estas pessoas. Já alguns eram mais familiares e correspondiam a um “boa tarde” ou pelo menos um sinal com a cabeça.
Logo me lembrei da viagem do ônibus na ida. Um urbano que pego às 04h30 da madrugada. Nele, as pessoas são mais conhecidas ainda. O motorista Renato, apesar de acordar muito mais cedo que a maioria dos passageiros, sempre muito educado e já com um sorriso na madrugada, quando as caras normalmente são de sono ainda.
Neste ônibus já ouvi muitas histórias, problemas e vitórias de passageiros e o mais interessante: de alguns sei de fatos de suas vidas, mas nem sempre sei de seus nomes.
Logo pensei que, no fundo, todos nós “somos um pouco ônibus”. Quantas pessoas passam por nossas vidas. Algumas são bem passageiras mesmo e em poucos minutos, no imediatismo do dia a dia, já nos esquecemos delas. Outras são freqüentes em nossas vidas, por causa de nossas rotinas, mas não marcam tanto. Mas há aquelas que acabam fazendo parte de nossa vida, de nossa história.
O ônibus é muito mais que um veículo. É um agente de desenvolvimento econômico, social e influencia a conjuntura de uma cidade, ao mesmo tempo fazendo parte da história pessoal de milhares de vida.
O ônibus é acima de tudo um servidor. Mesmo com as questões de que em muitos casos, os transportes precisam melhorar e muito para o cidadão, é o ônibus que está todo o dia à disposição das pessoas, as levando para o trabalho, estudo, compromissos, atendimentos de saúde (ou seja, para uma vida melhor), para o lazer e até mesmo ao encontro da pessoa amada.
O ônibus é um servidor. E na sociedade, como cidadãos, e na vida como seres humanos, precisamos também ser servidores.
Atender claro nossos interesses pessoais, mas também ser útil ao próximo, ajudando em sua caminhada, em seu desenvolvimento e colaborando para o seu bem estar, como o ônibus faz todos os dias. E isso, sem distinção. O ônibus serve o passageiro eventual ou ao cliente fiel.
No ônibus encontramos o como saber viver coletivamente. Sabemos olhar para o próximo, temos de interagir, dar um “bom dia”, pedir licença, desculpa, enfim, entramos em contato com o próximo.
Como ônibus, temos um destino que objetivamos na vida. Mas isso não significa que não mudaremos de linha. Como ônibus, paramos em diversos pontos-finais, mas nem sempre significa que nossa viagem acabou.
Creio que se cada um conseguisse de ver “um pouco ônibus”, teríamos mais solidariedade, respeito com o semelhante e saberíamos viver melhor de forma coletiva.
Fonte: Canal do Ônibus