Fiscal da SEMOB denuncia irregularidades na operação de ônibus adaptados

Como se não fossem suficientes as limitações naturais enfrentadas pelo cadeirante Júlio César Oliveira, até mesmo o simples ato de pegar um ônibus se mostra uma verdadeira odisseia. O rapaz, residente na zona Norte da capital potiguar, explica que para cumprir qualquer compromisso marcado, precisa sair de casa com três, às vezes quatro, horas de antecedência. A razão de todo o transtorno é a pouquíssima disponibilidade de veículos adaptados às pessoas que possuem limitações na locomoção, como Júlio César.
“Às vezes eu fico horas a fio aqui no terminal, esperando um ônibus que comporte a cadeira de rodas. Como não tem abrigo, pego sol quente, chuva, é uma situação terrível. Muitas vezes prefiro não ir ao médico ou ao fisioterapeuta com quem faço o tratamento, justamente por conta dessa incerteza. Todo mundo trabalha com horários, as pessoas não podem ficar me esperando chegar, enquanto há outros pacientes aguardando atendimento”, pondera Oliveira.
O fiscal da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) Henrique Santos apresentou ao Jornal de Hoje uma série de denúncias envolvendo, além dessa questão dos ônibus adaptados, problemas que estariam ocorrendo com descumprimento de horários, retirada de carros de determinadas linhas das ruas e até ameaças. “De todos os carros adaptados que deveriam estar rodando na capital, mais de 70% está sem funcionamento. Alguns quebrados, sem manutenção, outros porque as chaves que acionam o mecanismo simplesmente se perderam. Tudo isso porque o transporte dos cadeirantes traz prejuízos de tempo aos motoristas, além de ocupar muito espaço, que poderia ser aproveitado por mais passageiros pagantes. Infelizmente essa é a realidade”, afirma.
“Além disso, o Seturn [Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal] retirou cerca de 60 ônibus de circulação na capital, devido a uma nova tabela de horários que sequer foi aprovada pela Semob. Outra irregularidade é a presença de fiscais do Seturn no ônibus, com o intuito de regular de maneira violenta o uso das carteiras de estudantes. Esse controle deve ser feito pela Secretaria, não pelo Sindicato”, pontua Santos, que além dessas afirmações, ainda denunciou que o diretor geral de fiscalização de transportes da Semob, Rogério Leite, estaria fazendo ameaças de punição, caso ele divulgasse essas informações. “Ele ordenou que nós, fiscais, fizéssemos vista grossa ao que tem ocorrido nos terminais”, finaliza o denunciante.
O diretor da Semob se defendeu das acusações afirmando que não existe o menor fundamento no que está sendo afirmado. “Estou surpreso com esse tipo de afirmação, fico até sem saber o que pensar. Conheço Henrique e tenho uma boa relação com ele, jamais pediria para alguém fazer vista grossa ou ameaçaria em qualquer hipótese. Como isso se justifica, se o número de multas cresceu sensivelmente em relação à época da antiga equipe da Secretaria? Com certeza existe alguma motivação política por trás das denúncias, já que esse servidor possuía cargo comissionado na gestão passada”, salienta Rogério Leite.
Já o Seturn rebate as críticas com relação às irregularidades apresentadas, argumentando que a situação das vias da capital é precária. Segundo a assessoria da entidade, de fato, há muitos ônibus com as plataformas de acesso aos deficientes quebradas, mas isso se deve à demora das empresas que fazem a reposição das peças que acabam avariadas devido ao péssimo estado das ruas de Natal. Quanto à presença de fiscais contratados ilegalmente pelo Seturn para controlar o funcionamento das passagens de estudante, o sindicato afirmou que a denúncia é mentirosa, pois não orienta qualquer ação nesse sentido.
O consultor técnico do sindicato das empresas, Nilson Queiroga, justifica a redução no número de ônibus circulando pela sazonalidade da demanda de passageiros. “Sou engenheiro da área e trabalho com isso há mais de 30 anos. Existe um dinamismo muito grande na movimentação do transporte público na capital. Existem épocas com mais gente na rua e épocas em que a necessidade de carros circulando é menor, os estudos são contínuos para garantir que a necessidade da população seja plenamente atendida”, conta.

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