Desde muito novo que eu me interesso por transportes, seja aéreo, ferroviário, naval ou rodoviário. Mas, com o passar do tempo acabei por me especializar em transporte rodoviário, talvez pelo fato de ser o modal mais presente na minha vida. E dentro do mundo dos transportes sobre rodas, me aprofundei mais ainda em ônibus e veículos de passeio. Existem muitas diferenças entre os mercados de um e de outro, mas às vezes me deparo com certas coincidências.
Uma delas é o fenômeno dos “modelos injustiçados”. O que isso quer dizer? Vamos lá: um modelo é tido como injustiçado quando este possui muitas qualidades – e por vezes é superior à concorrência – porém não é reconhecido pelo mercado e às vezes, pasmem, pela própria montadora. Isso acontece por motivos meio subjetivos, mas podem ser impulsionados por preconceito, medo ou falta de divulgação por parte da montadora.
Um bom exemplo de injustiçado, no mercado de veículos de passeio, é o Renault Mégane. O sedan chegou às terras tupiniquins por volta de 1997 importado da Argentina e deixou de ser vendido no Brasil desde 2010, já na segunda geração – já fabricada em São José dos Pinhais/PR. Sempre ofereceu bom nível de equipamentos e segurança, a preços adequados ao segmento. Mas o medo do brasileiro de carros importados, e o preconceito com a manutenção de carros de origem francesa (Renault, Peugeot e Citroën) acabaram minando a vida do carro por aqui.
Já no mercado de carrocerias de ônibus, um modelo que eu considero injustiçado é o Caio Giro. Dona de um design comportado, mas muito agradável, a carroceria foi lançada em meados de 2004 e segue no mercado com pouquíssimas alterações. Vasculhando algumas informações pela internet, pude conferir que a carroceria é de muita qualidade e oferece um ótimo nível de conforto. Mas, sabemos que o forte da Caio é ônibus urbano, e acho que a própria fábrica não dá a devida atenção ao Giro, pelo menos no Brasil, uma vez que a carroceria é um produto forte na América do Norte.
E no segmento urbano temos como injustiçado o Maxibus Dolphin. À exceção do estado do Piauí, onde a montadora tem forte atuação em Teresina, a carroceria da fabricante gaúcha tem uma tímida participação no mercado nacional, mas, repetindo o enredo do Giro, possui qualidades que o deixam em pé de igualdade a modelos mais bem vendidos. Seu design não é uma unanimidade, mas é mais harmonioso do que muita coisa vendida por aí.
Mas o mercado é assim mesmo, cheio de subjetividades. Não há uma receita pronta para um produto fazer sucesso. O próprio Dolphin, por exemplo, faz mais sucesso em países vizinhos do que no mercado nacional. No Brasil, talvez o maior empecilho dos modelos injustiçados seja os receios dos clientes quanto à manutenção. É válida a preocupação, mas, posso imaginar que quem conhece e utiliza tais injustiçados dificilmente se acostuma com algo mais popular.
Foto: Ônibus Brasil
Por Rossano Varela