É verdade que eu não tenho muitos anos de vida ainda, mas, desde que parei para estudar e observar o mundo dos transportes que eu nunca tinha visto uma situação tão crítica como a que vejo agora. Em Natal, sobretudo. Senhoras e senhores, a coisa anda feia por aqui.
O que está acontecendo? O cidadão está definitivamente avesso a andar de ônibus, hoje vistos como um mal necessário. Ora, o reflexo disso é nítido: pode-se ver hoje em dia uma quantidade enorme de motocicletas e carros nas ruas. E acreditem: a maioria é composta por fugitivos dos ônibus.
Os motivos já foram exaustivamente expostos aqui mesmo nessa coluna: sistema ultrapassado, empresas de ônibus conservadoras, insegurança dentro dos coletivos, facilidade na compra de veículo privado, etc. Contudo, entendo tudo isso como um processo, que terá fim. Ou seja, está (muito) ruim, mas há uma luz no fim do túnel. Portanto, vai melhorar.
Mas essa melhora vai demorar. O quero dizer com isso? Que será preciso haver uma reconquista do espaço perdido. Juntos, poder público e operadoras do sistema vão ter muito trabalho para que o ônibus (de preferência integrado a outros sistemas) volte a ser visto com bons olhos. Para ilustrar o que digo, peguem o exemplo de um cão que desde filhote é agredido com certo instrumento: certamente ele terá trauma do instrumento. Coisa semelhante acontece com os passageiros de hoje, que são agredidos de várias formas possíveis, literalmente até em alguns casos. É traumatizante andar de ônibus em Natal (e em muitas outras cidades do país).
Torço para que haja um esforço por parte dos responsáveis nesse sentido. Não é licitando as linhas e pondo ônibus usados do Rio de Janeiro que vai acabar com o problema, nem comprando ônibus 0 km de configurações modestas. Para reconquistar o cliente (ou usuário, uma palavra mais apropriada nos dias de hoje) vão ter que inovar. Para competir com o carro e a moto, eles vão ter que ser superiores.
Para terem êxito, a receita é simples: linhas distribuídas de forma inteligente e totalmente integradas, ônibus de boas configurações e segurança operacional. Lógico que há muito mais por trás desses três itens mencionados. Mas essa discussão pode ficar para outro momento.
Por fim, vamos acompanhando o tempo. Não nos resta fazer nada a não ser aguardar ansiosos pelos dias melhores. Aliás, aguardar também pelo ônibus que insiste em não passar, e se passa, é “expresso”. Não quer parar sabe-se lá o porquê.
Por Rossano Varela