Investimento em estradas caiu 75%

Ao longo dos últimos anos, o Executivo Estadual diminuiu, em até quatro vezes, o valor dos recursos próprios utilizados na manutenção, recuperação e abertura de novas estradas no interior do Rio Grande do Norte. De 2004 para 2013, os recursos caíram dos R$ 40 milhões para R$ 10 milhões. Apesar da malha viária que corta o Estado ter sofrido melhorias significativas no mesmo período, ainda restam aproximadamente dois mil quilômetros de estradas estaduais não-pavimentadas, no barro cru, e inúmeras outras sem acostamento e sinalização adequada. Por elas empresários escoam a produção de minérios, sal, frutas e confecções produzidas em diversas cidades potiguares.
Afora os riscos para a população, visto que, o tráfego de veículos, caminhões e ônibus por tais vias aumenta anualmente, a falta de melhorias nas rodovias reflete diretamente na economia da região. Quanto mais danificado o trecho percorrido pelas transportadoras, e mais longe dos centros de distribuição, maior o valor do frete. Consequentemente,  o custo final do produto transportado, que é repassado de forma embutida ao cliente, sofre alterações para mais. De acordo com a Associação Brasileira de Logística, itens como o sal de cozinha, por exemplo, tem 80% do preço de custo calculado em cima do frete.
O diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado do Rio Grande do Norte, Ivo Lopes, afirmou que os maiores vilões dos custos do transporte rodoviário são o combustível e os pneus. “Quem paga é o cidadão”, disse referindo-se que as empresas transferem os custos dos fretes aos produtos vendidos ou aos serviços prestados. Ivo Lope avaliou que as estradas federais que cruzam o estado potiguar estão “boas”. Na contramão, porém, ele apontou que pelo menos 60% das rodovias estadualizadas são de “má qualidade”. O caminhoneiro paraibano José Dinarte, com 25 anos de experiência, confirma o argumento do diretor do Sindicato. “Hoje, 60% do valor do frete é para pagar combustível e pneu”.
De acordo com estudo da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), publicado em 2012, seriam necessários investir R$ 565,5 milhões na reconstrução, restauração e manutenção do pavimento de 1.102 quilômetros de rodovias avaliadas no Rio Grande do Norte. No mesmo estudo, o órgão apontou que as rodovias estaduais  023 (que liga Jaçanã a Touros); 104 (que liga Macau a Lajes); 110 (entre Mossoró e Janduís); 226 (que une Natal a Jucurutu) e 233 (ligando Açu a Apodi), apresentam um estado geral de conservação “péssimo”.  Todos os trechos de rodovias federais avaliados foram considerados “bons”.
O diretor do Departamento de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Norte (DER/RN), Demétrio Torres, garantiu que as estradas estaduais citadas no estudo da CNT foram manutenidas e estão, atualmente, em melhores condições. Na RN-226, o asfalto e a sinalização são satisfatórios em muitos trechos. Em outros, porém, não há sinalização e o acostamento é uma ausência comum em toda a estrada. “Lamentavelmente, os recursos que eram destinados à recuperação das rodoviais foi extinto. Estamos procurando manter as estradas, priorizando as mais estragadas”, assegurou Demétrio Torres.
Para o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Rio Grande do Norte (Fetronor), Eudo Laranjeiras,  é preciso refazer trechos de rodovias estaduais principalmente na Grande Natal e acelerar o processo de duplicação da BR-304, na Reta Tabajara. “O volume de tráfego é o grande problema atualmente. A BR-304 é um grande exemplo dessa saturação. Em relação ao transporte de cargas, Eudo Laranjeiras defendeu a retomada do transporte ferroviário. “O transporte ferroviário para cargas é necessário e urgente. Haverá uma diminuição no valor dos fretes e consequente redução de carretas nas estradas”, destacou.
Estrutura das estradas é precária: Na quinta-feira passada, a Tribuna do Norte percorreu as estradas federais e estaduais contempladas no estudo da CNT para verificar a atual situação de cada uma delas. No trecho da BR-226, que começa no Viaduto da Urbana, em Natal, e segue até o Seridó, entroncando com a RN-226 a pavimentação asfáltica é satisfatória. A via apresenta trechos estreitos entre as serras que separam os municípios de Currais Novos e Jucurutu, com algumas curvas sem sinalização . As marcas de frenagem na pista apontam a redução brusca de velocidade em alguns pontos. O risco de acidente é constante. A via é utilizada para escoar a produção de minério da região.
De acordo com uma placa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), fixada nas proximidades de Florânia, serão utilizados R$ 11,7 milhões para recuperação, restauração e manutenção da via que se estende até o estado do Ceará. O prazo para a conclusão dos serviços é maio de 2018. Somente funcionários atuavam na limpeza dos canteiros, sem máquinas. “Faz tempo que eu não vejo máquinas por aqui. Só pintaram as faixas”, disse o agricultor Manoel Ramalho Neto, morador de Florânia.
Na RN-120, que liga a BR-304 aos municípios de São Paulo do Potengi e Senador Elói de Souza, a situação é mais complicada. A falta de sinalização adequada, acostamento e os buracos espalhados pela rodovia, atrapalham a vida dos motoristas, que trafegam fugindo dos buracos. A poucos quilômetros dali, na RN-203, que liga São Paulo do Potengi às cidades de Barcelona e São Tomé, a situação é idêntica. Piora, porém, no trecho da RN-093, que une Barcelona a Ruy Barbosa. Em alguns trechos urbanos, o asfalto virou pó e a Prefeitura Municipal mandou passar uma capa de concreto no paralelepípedo.
Entre São Tomé e Cerro-Corá, a placa do Governo do Estado aponta para a retomada das obras da “Ponte sobre o Rio Potengi III”, cujo custo aproxima-se dos R$ 2 milhões. A união dos dois municípios através de uma estrada asfaltada é um pleito antigo da população, que se arrasta há quase 50 anos. O trajeto ainda é feito na estrada de barro. Quando pronta, a estrada diminuirá o percurso de Cerro-Corá para Natal em até 50 quilômetros. Não há data para a conclusão da obra.
Atualmente, o DER/RN tem projetos de construção de novos 403,20 quilômetros de rodovias e reconstrução de 543,20 quilômetros em todo o Estado.

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