Passados quase seis anos desde que foi inaugurada, a Ponte Newton Navarro, que une as zonas Leste e Norte de Natal, não desempenha, integralmente, a função para a qual foi erguida. Isto porque as obras complementares de escoamento do tráfego a partir da estrutura não foram executadas, mesmo oito anos após o anúncio das suas construções pelo Governo do Estado. Do lado Norte do empreendimento, no bairro da Redinha, resta ser construído um complexo viário com um viaduto e quatro alças de acesso às vias adjacentes. A intervenção visa solucionar o problema dos engarrafamentos na região e interligar a via às demais obras contempladas no Programa Pró-Transporte que também amarga o dissabor dos atrasos na execução.
O anunciado “boom” de desenvolvimento econômico que se daria na zona Norte a partir da inauguração da ponte, ocorreu timidamente e muitos projetos sequer saíram do papel. A vinda de estrelas do esporte e cinema internacional como David Beckham e Antonio Banderas, respectivamente, entre 2007 e 2008, não foram suficientes para alavancar a comercialização dos empreendimentos de luxo previstos para o Litoral Norte em decorrência do apelo paisagístico da região e fluidez do tráfego prometido pelo Executivo Estadual como principal legado da milionária obra da ponte. As melhorias para a região, porém, mais uma vez foram anunciadas pela Secretaria de Estado de Infraestrutura (SIN).
Após anos parada, as obras do Pró-Transporte, que visam integrar a praia da Redinha à BR-101 Norte, deverão sair do papel nos próximos meses. O processo licitatório das obras que movimentarão R$ 88 milhões foi concluído em junho passado próximo e a construtora IM Comércio e Terraplenagem será a responsável pela execução dos serviços. “Com a conclusão das obras do Pró-Transporte, a ponte irá atingir a sua completa funcionalidade. Com certeza a atual situação irá mudar e a capacidade de tráfego será total”, garante o coordenador de Gestão de Infraestrutura da SIN, engenheiro Rafael Brandão. Para saírem do papel, as obras contempladas no Pró-Transporte e o complexo viário da Redinha tiveram que ser incluídos nas mesma licitação.
A previsão da SIN é de que as obras comecem em trinta dias, após o encerramento dos procedimentos burocráticos entre o Executivo Estadual, a IM Comércio Terraplenagem e a Caixa Econômica Federal, banco financiador dos recursos. Após iniciada, a obra do viaduto da Redinha deverá se estender por um ano. Serão necessárias algumas desapropriações. A SIN, contudo, não detalhou quais imóveis serão atingidos, tampouco o valor que será investido na indenização das famílias. No que tange as intervenções do Pró-Transporte, serão necessários 24 meses para que estejam concluídas.
Do total estimado para os empreendimentos – R$ 88 milhões – parte será financiado pelo Governo Federal, que são os R$ 12 milhões referentes ao complexo viário da Redinha. Estes recursos são remanescentes da monta anunciada ainda em 2005 para as obras. Outros R$ 45 milhões serão viabilizados através de empréstimos e os outros R$ 31 milhões serão de contrapartida do Governo do Estado. “Os licenciamentos ambientais estão concluídos. A obra está contratada e todo o planejamento de execução, adiantado”, assegura Rafael Brandão.
Sem obras, ponte ficou isolada: A falta de infraestrutura para fluidez do tráfego na zona Norte de Natal é evidente nas vias mais movimentadas da região, cuja densidade demográfica é a maior da capital. Concebido entre os anos de 2005 e 2006, o Programa Pró-Transporte tem como objetivo desafogar as principais vias, incluindo melhorias nos acessos à Ponte Newton Navarro, duplicação e construção de um viaduto duplo na Avenida das Fronteiras. Entretanto, das nove intervenções previstas no projeto original, somente 20,34% foi concluído até hoje, que é justamente a obra correspondente ao viaduto na avenida das Fronteiras. Em 2011, o viaduto foi aberto ao tráfego sem a conclusão das obras adjacentes, dentre elas a duplicação da própria Avenida das Fronteiras. O Estado assumiu a obra em 2012 e deflagrou um novo processo licitatório somente em 2013. As obras que serão executadas pelo Estado custarão até R$ 88 milhões, quase o dobro do orçamento inicial do projeto. A obra consiste na criação de dois eixos em pista dupla, dotados de corredores exclusivos para ônibus e ciclovias.
O Eixo Fronteiras parte do Gancho de Igapó, na Avenida Tomaz Landim, percorrendo a Avenida das Fronteiras, Rio Doce e a Tocantínea até o entroncamento com a Avenida Moema Tinôco. O segundo eixo é envolve as avenidas Moema Tinôco e Conselheiro Tristão, até o encontro com a Avenida João Medeiros Filho, onde será construído o Viaduto da Redinha, que dá acesso à Ponte. A obra inclui ainda a facilitação do acesso à BR-101 Norte. Além da duplicação dos corredores viários, que deverão permitir maior fluidez ao transporte coletivo, o projeto prevê melhorias para a mobilidade de pedestres com a padronização de passeios públicos e implantação de passarelas. Também estão incluídos 108 novos abrigos de ônibus e a criação de 11 km de ciclovias.
Zona Norte é carente de infraestrutura: A zona Norte é hoje, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a zona que mais cresce em termos populacionais. Entre os anos 2000 e 2010, a taxa de crescimento populacional foi de 2,18% contra 1,22% do restante da capital. Em uma década, o número de moradores da área saltou de 244.743 para 303.543. A estimativa do IBGE é de que a região conte com mais de meio milhão de habitantes até o ano de 2020.
Por enquanto, o Governo do Estado não sinalizou a construção de nenhuma outra estrutura para escoamento do tráfego de veículos, ônibus e caminhões a partir e para aquela região. “A zona Norte precisa evoluir para além-moradia. Isso diminuirá o fluxo de pessoas de lá para cá. Faltou um conjunto de investimentos acompanhado da ponte. A nova ponte atendeu a demanda em partes. Se não existisse, a situação seria pior”, acrescenta Aldemir Freire, chefe do IBGE no Rio Grande do Norte.
Ele afirma que três eixos são determinantes para a atração de investimentos para a região e consequente desenvolvimento econômico e social. “O Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, o Programa Minha Casa, Minha Vida e as obras de mobilidade contempladas no Pró-Transporte são investimentos estruturais que poderão contribuir para o desenvolvimento daquela região, dando dinamismo”, avalia Aldemir Freire.
Para ele, é preciso descentralizar os serviços e expandir os mesmos modais de atendimento em repartições públicas, por exemplo, para a zona Norte. Isto feito, poderia contribuir, inclusive, para os engarrafamentos registrados diariamente nas duas pontes. “Além dos investimentos em transporte público, trens urbanos. Faltam, também políticas públicas de incentivo para que empresas se instalem na zona Norte”, ressalta. Se a zona Norte fosse uma cidade, seria a segunda maior do Estado, deixando Mossoró e Parnamirim para trás.
Fonte: Tribuna do Norte