Quem nunca sentiu a aflição de sair de casa para um compromisso com hora marcada e viu o prazo estourar completamente por causa do trânsito? Assim se perderam reuniões de negócios, viagens e várias outras oportunidades. Resultado: prejuízo na certa. Mas será que existe um mecanismo que leve ao cálculo das perdas provocadas por estes preciosos minutos gastos dentro de um veículo? Existe sim. E em Natal, acreditem, do dia 1º de janeiro de 2013 até hoje as perdas já ultrapassam R$ 106 milhões.
Este valor, que traduz em cifras o peso da imobilidade urbana, não representa o que sai do bolso do contribuinte pelas horas paradas a fio nos engarrafamentos, mas o que a cidade deixa de ganhar enquanto seus trabalhadores estão ociosos e estressados no trânsito. A conta foi feita seguindo os parâmetros de um estudo desenvolvido pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). O trabalho na capital paulistana foi coordenado pelo professor Marcos Cintra, doutor em Economia na Universidade de Harvard e vice-presidente nacional da fundação.
O cálculo utiliza o Produto Interno Bruto da cidade objeto e a população economicamente ativa para chegar ao valor da hora de trabalho perdida de cada indivíduo. Na capital do Rio Grande do Norte, constatou-se que a cada hora que um natalense fica preso no trânsito, a cidade perde R$ 17,23. Imagine agora quantas pessoas não enfrentam a lentidão na cidade todos os dias, nos horários de pico?
De acordo com uma estimativa da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, há cerca de 15 km diários de engarrafamento, que duram cerca de 4h30 divididas em dois momentos (6h30 a 8h30; 16h30 às 19h). Ainda somam-se a estes números os engarrafamentos na BR 101, que totalizam mais cerca de 6km. Os valores referentes às rodovias federais, por estarem geralmente em área fora do território da cidade, ficaram de fora do cálculo.
Em São Paulo, o custo de oportunidades em 2012 foi estimado em mais de R$ 30 bilhões, valor quase três vezes maior que o PIB de Natal. Já na capital potiguar, com PIB bem mais tímido, a estimativa é de que este ano, até o dia de hoje, este prejuízo seja de R$ 106,524.856,19 em números exatos. Até o final de 2013, caso os engarrafamentos mantenham-se do mesmo tamanho, o natalense deixará de produzir R$ 195.295.569,69, o que corresponde a 1,6% do PIB.
O custo de oportunidades leva não só em consideração as horas em que se deixa de produzir, como as horas de lazer e convívio com a família perdidas dentro de carros. “Horas de lazer têm valor econômico. O valor equivale ao custo marginal da última hora de trabalho”, explicou o professor Marcos Cintra em entrevista por telefone ao Novo Jornal.
Este cálculo vem sendo usado desde 2004 em São Paulo, cidade na qual, segundo Cintra, já está previsto um colapso no transporte urbano motivado pelo descompasso entre o aumento na frota e as políticas de mobilidade urbana. Ele explicou que o estudo consiste em uma tentativa de conscientizar a sociedade – o que inclui o poder público – sobre o custo social que a perda de mobilidade implica.
O vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas explicou ainda que o custo de oportunidade é uma conta que tem uma característica diferenciada: “Não é o que se gasta, mas o que se deixa de ganhar”. Na capital econômica do país, o estudo foi além e calculou o prejuízo que se tem em combustíveis e na emissão de poluentes enquanto se está parado no trânsito, o que o professor batizou de custos pecuniários. Para este cálculo seria necessário saber a velocidade média dos veículos, dado ainda não produzido em Natal.
Fonte: Novo Jornal