Não dá para não opinar sobre o triste acidente que aconteceu na última semana entre um ônibus da linha 10-29 e uma das locomotivas operadas pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). O saldo desse ocorrido foi uma morte e 22 feridos. As opiniões divergem quanto às causas, mas a julgar pelos vídeos divulgados na internet, a mais provável foi excesso de confiança.
Já dizem alguns especialistas em aviação que um dos maiores inimigos de um piloto é a exagerada autoconfiança. Ora, já dominando uma determinada máquina, certamente seu operador fica cada vez mais à vontade na sua operação, assumindo mais riscos. Podemos traçar um paralelo para o mundo dos ônibus, então.
Ser “bom de volante” é uma exigência básica para se ingressar numa empresa, e também para ser visto como “bom” profissional até mesmo pelos colegas de trabalho. Qual o motorista que gosta de ser chamado de “torão”? Aliado a esse pré-requisito surge o fator treinamento nas empresas, que demonstra ser melhor em umas ante outras.
O fato é que, imaginando um personagem, temos um senhor de seus quarenta anos de idade, quinze só de volante, dirigindo o mesmo carro seis dias por semana há pelo menos seis meses, e há anos na mesma linha, nos mesmos horários. Temos então um motorista muito experiente, e certamente muito autoconfiante.
Convenhamos que não é difícil encontrar esse perfil de motorista em nossas ruas e toda essa mistura de fatores leva um motorista a se arriscar, errar, até que um dia o cálculo da autoconfiança dá errado e acontece o que aconteceu na última semana. É claro que isso não é exclusividade de um motorista de ônibus, mas em todo tipo de profissão. O que muda é a consequência de não se policiar quanto aos excessos.
Tudo me leva a crer que é preciso investir mais em treinamento dos motoristas, inclusive, não apenas na hora da admissão, mas de tempos em tempos treinar o motorista de ônibus, apresentar novas tecnologias, realizar testes em simuladores, etc. A responsabilidade desse profissional é enorme e é preciso trazer essa consciência para trás do volante.
E quanto ao acidente, especificamente falando, é desolador ver a cena do ônibus sendo atingindo pelas implacáveis cerca de 62 toneladas da velha locomotiva RSD-8. E também não me cabe a tarefa de julgar os envolvidos, mas, baseado em evidências parece que o excesso de confiança foi presente naquele acidente. Posso estar enganado, tomara que esteja. À família que teve grande perda, presto condolências.
Por Rossano Varela